De algum tempo para cá os vinhos do Novo Mundo vêm conquistando paladares de grandes críticos e as mesas dos consumidores mais exigentes. Há alguns países produtores, no entanto, que ainda não possuem uma expressão em mercados externos e que, muitas vezes, sofrem com o preconceito. O Brasil mesmo é um deles. Quem nunca viajou para um país com tradição vinícola e ao comentar sobre um vinho brasileiro recebeu aquela expressão de estranhamento: “Vinho Brasileiro? Mas o Brasil produz vinhos?” Não os culpo, pois apesar de já produzirmos vinhos há muito tempo, o aprimoramento das técnicas de cultivo e tecnologias usadas na vinificação são muito recentes, assim como o salto da qualidade dos nossos produtos os quais, há pouco tempo atrás, ainda eram medíocres. Além do mais, o Brasil sempre foi o país da cerveja ou da caipirinha, como é mais conhecido lá fora.
E o mesmo passa com o México, que leva tanta fama com a tequila. Quem de vocês já provou um vinho mexicano? Pois é. Eu já havia escutado algo a respeito, mas confesso que nunca havia visto nada nas prateleiras nem lido nenhuma reportagem nas edições do meio. Foi então que recebi um convite de trabalho para o México. Na área de marketing, mas nada relacionado a vinhos. Claro que para mim, assim como seria para qualquer enófilo, foi uma oportunidade de procurar conhecer mais sobre a produção vinícola, a história dos vinhos no país e, é claro, degustar! Aqui compartilho com vocês um pouco dessa experiência.
Muito antes dos conquistadores espanhóis chegarem às Américas, os nativos da região mexicana já plantavam uvas americanas para o consumo diário. Quando os espanhóis chegaram e se estabeleceram nas terras que chamaram de “Nova Espanha” em 1522, utilizaram-se das uvas que já eram plantadas ali para a produção de vinho para missa. Hernán Cortés encomendou também sementes e mudas espanholas e tornou o México o primeiro lugar nas Américas a cultivar vinhedos e produzir vinhos para consumo.
A primeira vinícola comercial mexicana foi fundada em 1593 por Francisco de Urdiñola, Marquês de Aguayo, na fazenda de Santa Maria de Las Parras. Parras é até hoje o centro de produção de vinho mexicano, apesar da vinícola Marquês de Aguayo hoje concentrar-se apenas na produção de destilados.
A produção vitivinícola mexicana sofre dois períodos de recessão: durante a guerra de independência em 1857, quando o clero perde poder ante o Estado e tem seus bens expropriados, e na guerra revolucionária em 1910, quando vinhedos por todo território foram abandonados ou destruídos. Somente em 1922 se reaviva a produção de vinhos em diversos estados do norte, região que é hoje mais conhecida pela qualidade de seus vinhos produzidos.
Mas foi apenas nas últimas décadas que se aprimoraram as técnicas de cultivo e produção, sob influência dos Estados Unidos, que inclusive levaram novas vinhas às regiões produtoras, melhorando a qualidade e ampliando a variedade de seus vinhos.
O vinho mexicano e suas regiões vinícolas estão experimentando seu auge, apesar de o consumo per capita ainda ser muito baixo (apenas 0,16 litros por ano, ocupando a 65° posição na lista mundial). No ano de 2007 a produção de vinhos atingiu 108,000 toneladas, dando ao México a 24° posição na lista mundial.
Os mexicanos que consomem vinho têm em média mais de trinta anos, alto nível acadêmico e boas condições econômicas. Esses consumidores bebem principalmente vinhos importados e apenas 40% dos vinhos produzidos no México são consumidos por mexicanos. O restante da produção é destinado a 27 países, sendo os Estados Unidos o principal comprador com 76%, seguido pela Inglaterra com 3,8%, Japão, Canadá e Alemanha com 1% e alguns países da América Central e Caribe.
Uma das vinícolas pioneiras no país é a espanhola Domecq, que possui cerca da metade dos vinhedos em Guadelupe, na Baixa Califórnia. Com 41.000 hectares de vinhedos, apenas 10% servem à produção de vinho. A maior parte da uva é utilizada para a produção de tequila e uvas passas. Tive a oportunidade de experimentar um corte de uvas tintas que muito me lembrou os vinhos portugueses – bom corpo e estrutura, redondo e muito aromático (confira detalhes em “Dica da Semana”).
Outros produtores mais conhecidos são L. A. Cetto, Bodegas Santo Tomás, Monte Xanic, de que também experimentei um Sauvignon Blanc muito refrescante, Bodegas San Antonio e Cavas de Valmar.
Assim, com essa experiência, convido o leitor a não criar rótulos e se deixar experimentar antes de qualquer julgamento. Além de aumentar seu conhecimento e poder de crítica, você pode acabar se surpreendendo com as novas descobertas.
Saludos!
Principais Regiões e Produtores:
Aguascalientes
- Bodegas Dinastía
- La Bordalesa
- Viñedos Santa Elena
Baja California
- Adobe Guadalupe
- Bodegas de San Antonio
- Bodegas de Santo Tomás
- Casa de Piedra
- Casa Domecq
- Cavas Valmar
- L.A. Cetto
- Monte Xanic
Coahuila
- Casa Madero
Querétaro
- Freixenet de México
Prêmios 2010:
- Vienalies Internationales (14va edición, Paris, Francia)
-Don Luis Cetto Terra 2004, L.A. Cetto – Medalla de Plata
-L.A.Cetto Boutique Sangiovese 2004, L.A. Cetto – Medalla de Plata
-L.A. Cetto Nebbiolo Reserva Privada 2003, L.A. Cetto – Medalla de Plata
- Chardonnay du Monde (15va edición, Borgoña, Francia)
-Casa Madero Chardonnay 2007, Casa Madero – Medalla de Oro
- International Wine Challenge (39 edición, Londres, Reino Unido)
-Casa Madero Chardonnay 2007, Casa Madero – Medalla de Bronce
-Casa Madero Semillón 2007, Casa Madero – Mención Honorífica
- Challenge International du Vin (32 edición, Burdeos, Francia)
-Monte Xanic Chardonnay 2005, Monte Xanic – Medalla de Bronce
-Monte Xanic Chenin-Colombard 2006, Monte Xanic – Medalla de Bronce
-Monte Xanic Sauvignon Blanc 2006, Monte Xanic – Medalla de Bronce
- Concurso Mundial de Vinos de Bruselas (15va edición, Bruselas, Bélgica)
-Casa Madero Semillón 2007, Casa Madero – Medalla de Oro
-L.A. Cetto Petite Syrah 2006, L.A. Cetto – Medalla de Oro
-Casa Madero Chenin Blanc 2007, Casa Madero – Medalla de Plata
-Chateau Camou Gran Vino Tinto 2004, Chateau Camou – Medalla de Plata
-Chateau Camou Gran Vino Tinto Merlot 2004, Chateau Camou – Medalla de Plata
-Chateau Domecq Cosecha Seleccionada 2005, Domecq – Medalla de Plata
-Monte Xanic Cabernet Sauvignon-Merlot 2005, Monte Xanic – Medalla de Plata
-Monte Xanic Chardonnay 2005, Monte Xanic – Medalla de Plata
-Santo Tomás Único Cabernet-Merlot Gran Reserva 2004 – Medalla de Plata
Referências
- Asociación Nacional de Vitivinícultores (México)
- Revista, El vino y otras delicias, ejemplar de colección México y sus vinos, año 3 número 17, Bimestral Agosto-Septiembre de 2002, Grupo Editorial Neón, México DF.
- Revista México Desconocido, Bebidas Nacionales de México, capitilo VII Cervezas y Vino, guía no. 18, Editorial Jilguero México D.F. 1994.
- Revista Vinísfera, XVI Concurso Internacional Ensenada Tierra de Vinos, año 1 número 4, Bimestral, Septiembre-Octubre de 2008, Editorial Mexicana de Vinos SA de CV.Sitio Oficial
- Lloyd:Mexican Economic Report.
O consulado do México te deve umas garrafas….
Muito bom!
Ainda não descobri se alguma importadora está trazendo vinhos mexicanos para o Brasil. Mas assim que souber eu publico aqui. Continue acompanhando o blog e deixando sua opinião. Beijos.
E então, alguém já descobriu onde podemos comprar vinhos mexicanos no Brasil??
Nossa!!!!
Muito bom esse post!!!
Muito obrigado pela contribuição aos meus conhecimentos!
Abração!
Olá Rafael, tudo bem? Que bom que gostou do post. Continue participando do blog e deixando a sua opinião. Um abraço.
Bom, vinho je1 e9 profisse3o. Sou jstialnora e escrevo sobre vinhos, sou funicione1ria de adega e estou cercada por elas o dia inteiro. Acho, apenas que poderia melhorar as minhas condie7f5es, trabalhar melhor e com revista ou site especializado. Uma coluna ne3o seria nada mal…kkk