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Posts Tagged ‘vinhos da Espanha’

Esta semana a confraria “Bem de Vinho” se reuniu para mais um encontro enogastronômico. Desta vez, a proposta era degustar alguns vinhos da vinícola Torres às cegas e perceber o estilo de cada vinho, produzidos a partir de diferentes castas e em diferentes regiões da Espanha.

Aproveitamos o tema Espanha para harmonizar os vinhos no tradicional estilo espanhol: com os famosos “tapas”. Cogumelos shitake com queijo brie, tomates frescos com burrata e manjericão e jamón serrano compuseram nosso cardápio.

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Os vinhos se mostraram surpreendentes, cada qual com sua personalidade, revelando traços interessantes de sua região de origem, do tempo de descanso em barris de carvalho e das uvas utilizadas em sua composição. Confira a seguir nossas impressões sobre os vinhos degustados:

Viña Esmeralda 2013

País: Espanha

Região: Penedès

Casta: 85% Moscatel, 15% Gewürztraminer

Graduação Alcoólica: 11,7%

Notas de degustação: De nariz exótico, perfumado e sensual, apresentou aromas delicados de flores (rosas e lírios) e frutas brancas maduras com notas de baunilha. Em boca apresentou uma riqueza de sabores, elegância e frescor. É uma proposta diferente que vale conhecer.

Envelhecimento: Carvalho Francês novo durante 18 meses

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Salmos 2007

País: Espanha

Região: Priorato

Casta: Garnacha, Mazuelo, Syrah

Graduação Alcoólica: 15%

Notas de degustação: De coloração rubi com reflexos atijolados, apresentou aromas de frutas vermelhas com notas de baunilha, couro e caramelo. Em boca, apresentou bom corpo e complexidade, taninos aveludados e acidez equilibrada. Muito bom!

Envelhecimento: Carvalho novo francês durante 12 meses

Gran Coronas 2010

País: Espanha

Região: Penedès

Casta: 85% Cabernet Sauvignon, 15% Tempranillo

Graduação Alcoólica: 14,05%

Notas de degustação: De coloração vermelha com reflexo violáceos, apresentou aromas de ameixa, com notas de baunilha e couro e um leve toque de pimentão verde, aroma característico da Cabernet Sauvignon. Em boca, apresentou boa estrutura e adstringência e acidez equilibrada. Delicioso!

Envelhecimento: Envelhecido em barricas novas de carvalho americano e francês durante 15 meses

Altos Ibéricos 2011

País: Espanha

Região: Rioja

Casta: 100% Tempranillo

Graduação Alcoólica: 14,05%

Notas de degustação: De coloração rubi com reflexos violáceos, apresentou aromas de frutas negras e vermelhas, lembrando cerejas e framboesas, com notas de baunilha e leve mineral. Em boca, apresentou taninos aveludados, acidez equilibrada e um delicioso retro-gosto de frutas maduras. Muito bom!

Envelhecido em barricas de carvalho americano e francês durante 12 meses

Com mais de 100 anos de tradição e experiência na produção vinícola, a Torres revela, através de seus vinhos, o caráter da Espanha, proporcionando aos enófilos do mundo inteiro deliciosos momentos. Fica minha dica.

Cristina Almeida Prado.

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Falar da vinícola Torres é falar de um império que impõe respeito no mundo dos vinhos. Com mais de 1.300 hectares de território plantado, a Torres é hoje a maior vinícola da Espanha. Sua reputação lhe conferiu inúmeras premiações, como a de melhor vinícola européia do ano, promovida pela revista “Wine Enthusiast” em 2006. A Torres administra também a Miguel Torres no Chile e a Marimar Estate nos Estados Unidos.

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Vinhedos de Mas Rabell, vinícola Torres, Espanha

Na semana passada, em um agradável encontro promovido pela importadora Devinum, tive a oportunidade de conhecer o simpático Jordi Franch, Diretor Comercial da Torres, que me contou um pouco da história da vinícola, que já está em sua quinta geração da família, de seus principais feitos e de seus vinhos.

Fundada em 1870, em Penedés, a nordeste da Espanha, a vinícola Torres nasceu de uma parceria entre dois irmãos de uma família que desde o século XVII cultivava vinhas, mas sem apelo comercial. Jaime Torres era o irmão que dominava o comércio com as Américas, enquanto Miguel Torres dominava a produção de vinhos. Juntos começaram o negócio familiar focados no mercado externo, vendendo seus vinhos em barris, sem imaginar a dimensão que a Torres tomaria. A vinícola logo começou a ganhar visibilidade e recebeu ilustres visitas em sua sede, como a do rei Afonso XIII em 1904.

Poucos anos depois, já na segunda geração da família, nasceu a primeira marca da Torres: a Coronas, marca que deu fama mundial à vinícola e que é reconhecida até os dias de hoje. Essa mesma geração foi também responsável pelo início da produção de brandies, o vinho fortificado da Torres. Tamanha fora sua aceitação e sucesso no mercado externo que tornou a Torres a maior exportadora de brandy do país.

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Produção de brandies, vinícola Torres, Espanha

Os negócios iam bem, até que veio a guerra civil espanhola e em 1939 a vinícola foi parcialmente destruída por um bombardeio. Ao fim da guerra, iniciou-se a reconstrução da vinícola e os vinhos passaram a ser vendidos pela primeira vez em garrafas.

Nos anos seguintes, nasceram marcas como Sangre de Toro, produto de entrada da Torres produzido a partir de Garnacha e Cariñena, e Viña Sol, feito a partir das castas Parellada e Garnacha Blanca com uma proposta de frescor. Próximo ao centenário, a vinícola aderiu à vitivinicultura moderna, começou a cultivar variedades estrangeiras, como a Cabernet Sauvignon e a Chardonnay e a utilizar tanques de inox para a fermentação.

Em 1979, a Torres expandiu seus negócios para outros territórios. Nasceu a Miguel Torres no Chile e alguns anos depois, a Marimar Estates em Sonoma, nos Estados Unidos. Seus vinhos traduzem a tradição e o conhecimento da família aliados à riqueza do terroir dessas regiões.

Na Espanha, a Torres ampliou seu negócio para outras terras e está hoje em regiões como Ribera Del Duero, Rioja, Jumilla, Toro, Rueda, Priorato e Penedés, produzindo uma variedade de castas autóctones, como Tempranillo, Monastrell, Garnacha e Cariñena e castas internacionais, como Syrah, Merlot, Sauvignon Blanc e Riesling. Sua produção chega a atingir mais de 40 milhões de litros por ano e seus vinhos estão presentes em mais de 140 países.

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Castelo de Milmanda, vinícola Torres, Espanha

A reputação deste império que é a vinícola Torres a tornou um ponto turístico muito procurado por amantes do vinho de diversos países, chegando a receber mais de 130.000 visitantes por ano somente na sede de Penedés. Se você estiver na Espanha e tiver a oportunidade de visitar, vale gastar algumas horas desfrutando de seus vinhos, ampliando seu conhecimento sobre esta marca histórica e apreciando a natureza incrível no entorno de suas sedes. São três os locais que permitem visitação: a sede de Penedés (Parcs Del Penedés), principal local de visitação, a vinícola de El Lloar no Priorato e o Castelo de Milmanda, em Conca de Barberà. Mas se não for à Espanha, por sorte, seus vinhos são facilmente encontrados por aqui.

Mais informações no site da vinícola Torres.

Um brinde à Espanha e suas preciosidades!

Cristina Almeida Prado.

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Descrever a Espanha e suas regiões vinícolas em um único post é um tanto desafiador. Isso porque a Espanha além de ser um território extenso, com uma grande diversidade geográfica e climática, possui produção vinícola por praticamente todas as suas terras, fato que a torna o país produtor com o maior percentual de área plantada com vinhas e o terceiro maior produtor de vinho no mundo. Sua história é também muito rica e apresenta alguns acontecimentos marcantes, que serviram de pano de fundo para o curso de sua trajetória no mundo vinícola, conferindo-lhe o merecido respaldo e reconhecimento mundial que possui hoje.

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Aqueduto romano em Segóvia, Espanha.

Os primeiros registros arqueológicos da presença da viticultura na Espanha datam de cerca de 4.000 a 3.000 anos antes de Cristo, muito antes da era dos fenícios, dos cartagenos e dos romanos, fato esse que pode explicar as mais de 400 variedades de uvas existentes hoje na Espanha. No tempo dos romanos, a Espanha, já conhecida como Hispania, exportou seus vinhos para quase toda a Europa, dando início a seu primeiro mercado de exportação. Mas com a queda do império romano e a invasão dos mouros, houve um período em que o consumo de álcool foi proibido por motivos religiosos. Com a Reconquista espanhola, o país voltou a produzir e a exportar seus vinhos, tendo como principal mercado a Inglaterra.

A partir daí, inúmeros fatores propiciaram importantes mudanças na história da produção de vinhos na Espanha. Um deles foi a expansão do império hispânico nas Américas, que abriu novos mercados após 1492. Outro fato se deu em meados do século XIX, conforme comentamos na matéria intitulada “Bodegas López de Heredia“, quando a epidemia da filoxera se alastrou pela França e levou muitos franceses a abrir negócio na vizinha Espanha, especialmente na região de La Rioja. Nessa ocasião, métodos bordaleses foram implantados, dando início definitivo ao uso de barricas de 550 litros para elaborar seus vinhos tintos e, igualmente, seus brancos. Diga-se de passagem, essa herança francesa deu origem a uma ferrenha tradição de passar vinhos tintos e brancos por barrica, o que muitas vezes escondia sabores e aromas da variedade da uva, por isso, hoje há uma tendência de deixar os vinhos menos tempo sob a influência da madeira para valorizar a fruta.

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Vinícola Lopez de Heredia em La Rioja, Espanha.

Outros fatos expressivos como o retorno à democracia em 1978 e a entrada da Espanha na União Européia em 1986 impulsionaram a indústria vinícola espanhola nas últimas décadas. Novos métodos de plantio, condução e poda nos vinhedos, modernização dos equipamentos nas adegas e, recentemente, o uso da irrigação autorizado por lei em 2003, levaram a um expressivo aprimoramento da qualidade dos vinhos espanhóis que cada vez mais vêm conquistando os enófilos do mundo inteiro.

A Espanha vinícola divide-se em três partes: o Noroeste que inclui as frias terras litorâneas da Galícia e, no interior, Castilla Y León com terras altas e quentes; o Nordeste que abrange La Rioja, Navarra, Aragón, Catalunha e ilhas Baleares; e o Centro e Sul, com as regiões de Castilla La Mancha, Extremdura, Valencia e Murcia, Andaluzia e ilhas Canárias.

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Vinícola Abadia Retuerta na Ribeira del Duero, Espanha.

A legislação vinícola espanhola reformulada em 2003, elevou seu grau de exigências em relação às categorias já existentes e acrescentou duas novas: DO Pago e VCIG. Veja a seguir, a classificação vinícola espanhola vigente:

– Vino de mesa (VdM): esse vinho não pode indicar no rótulo a origem regional, a cepa nem a safra.

– Vino de la tierra (VdlT): semelhante ao “Vin de pays” da França, esse vinho é menos regulado que os DOs e os VCIGs, e é proveniente de área bem mais vasta.

– Vino de Calidad con Indicación Geográfica (VCIG): categoria criada em 2003, inclui os vinhos que apresentam bom desempenho e podem ser promovidos a DO, se mantiver essa condição por, no mínimo, 5 anos.

– Denominación de Origen (DO): semelhante ao vinho francês de “Appellation d’Origene Contrôlée”, esse vinho deve representar o estilo da sua região de origem e seguir as leis locais. Essa categoria é controlada pelo Conselho Regulador e por um Comitê Independente.

– Denominación de Origen Calificada (DOCa): entra nessa categoria o vinho que possuir alta qualidade constante por pelo menos 10 anos.

– Denominación de Origen de Pago (DO Pago): categoria recentemente criada para “premiar” os melhores vinhos de vinícolas com histórico de qualidade e reconhecidamente considerados excelentes.

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De modo geral, os vinhos espanhóis são classificados de acordo com o tempo que passam nas adegas:

– Vino de Denominación de Origen Simples ou Sin Crianza: são os vinhos jovens, sem passagem por barrica, prontos para o consumo.

– Vino de Crianza: vinho que passa um mínimo de 6 meses em barrica e 18 meses em aço inoxidável ou em garrafa, contando um total de dois anos antes de chegar ao mercado.

– Reserva: vinho que passa um mínimo de 12 meses em barrica e 2 anos em garrafa, somando um total de 3 anos antes da venda.

– Gran Reserva: vinho que passa um mínimo de 18 meses em barrica e 3 anos e meio em garrafa e não pode ser vendido antes de 5 anos.

Em relação às cepas, apesar de a Espanha possuir centenas de varietais, somente cerca de vinte cepas entram na elaboração dos vinhos espanhóis. As principais tintas são:

– Tempranillo: essa é a tinta emblemática do País; é destaque na região de La Rioja e em Ribeira del Duero onde é chamada de Tinto Fino; encontrada também na região de Toro onde é chamada de Tinta de Toro, na Catalunha, com o nome de Ul de Liebre e em Castilla La Mancha como Cencibel. Segundo nosso saudoso Saul Galvão, essa cepa é a “marca registrada” dos tintos da Espanha.

– Garnacha: cepa de origem francesa (Grenache), dá corpo e álcool aos tintos; encontrada principalmente na região do Priorato.

– Cariñena: cepa de origem francesa (Carignan), dá vinhos com sabores de ameixas pretas e pimenta do reino; utilizada no Priorato e em La Rioja onde é conhecida como Mazuelo.

– Graciano: cepa que entra em pequenas proporções nos tintos de classe de La Rioja, emprestando-lhes cor e acidez.

– Mencía: cepa clássica da região de Bierzo (Castilla Y León), muito similar à Cabernet Franc.

– Monastrel e Bobal: cepas com significante presença no leste espanhol, na região do Levante (Valencia e Murcia).

Além dessas, tintas como Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec e Pinot Noir entram também na elaboração de muitos tintos espanhóis.

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Vinhedos da Vega Sicilia na Ribera del Duero, Espanha.

Dentre as principais cepas brancas, encontramos:

– Airén: cepa branca mais plantada no país, cultivada principalmente na região de Castilla La Mancha.

– Albariño: conhecida em Portugal como Alvarinho onde entra na elaboração dos famosos vinhos verdes, essa cepa é típica da região de Rias Baixas, na Galícia, e gera vinhos frutados e com boa acidez.

– Macabeo: muito cultivada na Catalunha, essa cepa entra na elaboração do famoso espumante espanhol, o Cava, conferindo-lhe vivacidade e acidez; também chamada de Viura em La Rioja, onde é a mais importante cepa que compõe o corte do Rioja branco, pois dá ao vinho boa estrutura e grande capacidade de envelhecer.

– Parellada: cepa que dá corpo e cremosidade aos Cavas espanhóis; também produz vinhos tranquilos, frutados, com toque cítrico.

– Xarel-lo: cepa importante na elaboração do Cava, dando complexidade e propiciando capacidade de amadurecimento.

– Verdejo: cepa que produz vinhos leves aromáticos e com boa acidez na região de Rueda (Castilla Y León).

– Palomino: essa é a grande uva branca com a qual é elaborado o Jerez, na região de Andaluzia, ao sul da Espanha; o Jerez é um vinho fortificado espanhol e um dos mais antigos vinho finos do mundo.

– Pedro Jiménez: cepa também usada na produção do Jerez, em geral, na versão mais adocicada.

Esperamos que, nesses poucos parágrafos, tenhamos conseguido proporcionar aos nossos leitores uma ideia abrangente do cenário tão peculiar, extenso e complexo que caracteriza a Espanha vinícola.

Encerramos com um pensamento de Saul Galvão que recomenda: “Um bom vinho espanhol deve ter equilíbrio entre a fruta e o paladar da madeira. Esse é um detalhe importante que o consumidor deve lembrar ao avaliar um vinho espanhol.”

Cristina Almeida Prado e Maria Uzêda.

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Em recente viagem à Espanha, tive a oportunidade de visitar a Bodega López de Heredia, uma das três mais antigas da região de La Rioja. Localizada na cidade de Haro, capital da Rioja Alta, ao Norte da Espanha, a Bodega López de Heredia é repleta de história e tradição.

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Na época em que a “philoxera” se alastrou pelos vinhedos da Europa, Rioja foi poupada. Muitos vinicultores franceses vieram para essa região abrir negócio. Don Rafael López de Heredia y Landeta, que falava francês fluentemente, trabalhou com eles por algum tempo. Mais tarde, resolvido o problema da praga nos vinhedos europeus, os franceses retornaram para a França. Foi quando Don Rafael assumiu o negócio e decidiu seguir com os projetos vinícolas, começando a planejar e a construir lentamente o que é hoje a Bodega.

Pouca coisa mudou em 137 anos, desde a sua fundação em 1877. Enquanto novas tecnologias foram sendo adotadas pela maioria das vinícolas locais em busca de modernização, a Bodega López de Heredia tem mantido tradições seculares que a tornaram famosa e respeitada na região. Diferentemente também de muitas vinícolas que compram uvas de variados vinicultores, López de Heredia possui seus próprios vinhedos. A “Vinha Tondonia” é a mais antiga e dá origem ao seu vinho mais conhecido. A Bodega possui mais três vinhedos: “Vinha Bosconia”, “Vinha Gravonia” e “Vinha Cubillo”.

Lopez-de-Heredia-caves-bodegaQuem visita a Bodega López de Heredia pode testemunhar o orgulho com que os guias nos conduzem pelos bastidores da empresa. O passeio se inicia num galpão onde funciona a Tonelaria da Bodega. Um segundo galpão exibe gigantescos barris de fermentação, a antiga prensa e até filtros elaborados com gravetos das videiras, outrora utilizados na filtragem dos vinhos. Em seguida, a guia nos conduz a uma entrada através da qual penetramos num labirinto de quilômetros de túneis subterrâneos, num ambiente úmido, frio, escuro, cheio de mofo e teias de aranha, e cujas paredes estão cobertas por fileiras intermináveis de barricas. É no coração dessas galerias subterrâneas que nascem os incríveis vinhos da Bodega López de Heredia.

A madeira, definitivamente, tem importante papel na Bodega, uma vez que, tanto na fermentação quanto na “crianza”, seus vinhos passam por ela durante longos períodos, seguindo procedimentos totalmente naturais e artesanais. O caráter original e exclusivo dos vinhos lhes rendeu, do Conselho Regulador da DOC Rioja, um “Diploma de Garantia” exibido orgulhosamente no contra rótulo das garrafas. Outra curiosidade é que os brancos passam pelo mesmo tempo de envelhecimento quanto os tintos, e o resultado é surpreendente: brancos majestosos e opulentos.

Após o circuito de visitação que durou cerca de hora e meia, passamos para a sala de degustação para experimentar alguns de seus vinhos:

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“Vinha Tondonia 2002”  Tinto Reserva
Castas: Tempranillo, Garnacha, Graciano e Mazuelo.
Seis anos de barrica e mais seis anos em garrafa.
Notas: vinho de coloração granada com reflexos atijolados, exibe nítidos traços de evolução; no aroma,notas de couro, um toque terroso e um quê de gorgonzola, refletindo os subterrâneos da Bodega; em boca, equilibrado e elegante, taninos finos e longa persistência.

“Vinha Tondonia 1999”  Branco Reserva
Castas: Viúra e Malvasia. Seis anos em barrica.
Notas: vinho de coloração amarelo dourado, exalava aromas de mel; em boca, complexo, marcante e bem agradável, apesar da baixa acidez.

“Vinha Gravonia 2004”  Branco
Casta: 100% Viúra . Quatro anos de barrica.
Notas: vinho de coloração amarelo palha com reflexos dourados; aromas doces de abacaxi bem maduro com um toque cítrico e notas de brioche; em boca, cítrico, encorpado, boa acidez e final longo com toque amendoado. Muito bom! Um branco diferente.

Lopez-de-Herediz-estande-degustaçãoVimos assim, que a elaboração dos vinhos López de Heredia obedece a processos que são verdadeiros acervos de família e que se transmitem de geração a geração. Conforme eles mesmos definem, “há uma mística presente na labuta diária, arraigada na perenidade da tradição e na convicção profunda na validade e vigência de seus métodos”. São vinhos que evoluem lenta e nobremente, carregando consigo promessas de uma vida longa.

Encerramos a visita, impressionados com a solidez e a grandiosidade do espaço construído para abrigar toda sua produção. Essa mega estrutura arquitetônica, também chamada de “Catedral do Vinho”, é fruto do trabalho de sucessivas gerações da família que foram deixando, através dos tempos, a marca de seu esforço, motivados por uma única paixão: o vinho.

Bodega López de Heredia
Avda. Vizcaya, 3. Haro. La Rioja. Espanha.
Site: www.lopezdeheredia.com
Importadora no Brasil: Vinci.

Maria Uzêda.

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Vega-Sicilia-viñedos-vinhosUma visita à lendária vinícola Vega Sicilia é um privilégio muito especial concedido a poucos, pois não é aberta ao público, e nós, do Blog Sommelière, tivemos o prazer de viver essa experiência que agora compartilhamos com vocês, nossos leitores e amantes do vinho.
Muito bem recebidas e assessoradas pela simpática Yolanda, iniciamos ali o que seria uma inesquecível “viagem” através da história, da tradição e da arte, alicerces sobre os quais ergueu-se essa famosa vinícola, ícone da Espanha: a Vega Sicilia. Conta-se que a origem do nome vem daquela parcela de terra fértil (Vega) próxima ao rio Douro, habitada em tempos remotos pelos monges sicilianos (Sicilia) que ali já faziam vinho.
Localizada na região de Castilla Y Léon, na área da D.O. Ribeira Del Duero, próxima à cidade de Valladolid, a Vega Sicilia possui cerca de 900 hectares dos quais 200 são cobertos por vinhedos cuja maioria das cepas é de Tempranillo, com uma minoria de Cabernet Sauvignon, Merlot e Malbec que entram na composição do blend de seus vinhos.
Sua história se inicia em 1848, quando a Família Toríbio Lecanda adquiriu as terras do Marquês de Valbuena, uma propriedade utilizada, na época, para atividades agropecuárias. Em 1864, Eloy, filho de Toríbio, fundou a Bodega, dando início às primeiras produções com cepas procedentes da França.
Ao longo dos anos, a vinícola passou por diversos proprietários, sempre mantendo no entanto, uma inquestionável personalidade, produzindo vinhos concentrados, amadurecidos em carvalho, generosos e extremamente elegantes.
vega-sicilia-unico-bodega-vinhosNo início do século XX, a figura do importante viticultor basco, Domingo Garramiola, foi crucial para alavancar os investimentos e aprimorar a qualidade da produção vinícola, focando no estilo que deu origem a um vinho com fruta profunda e perfumada e tremenda persistência. Assim, em 1915, nascem os dois excepcionais vinhos que conhecemos até hoje: o Valbuena e o Único. Foram lançados, não para seguir o simples propósito de se fazer vinho, mas como uma amostra que simbolizasse o Poder. Por isso, sua distribuição inicial não atendia a uma proposta comercial e sim à classe da alta burguesia e à aristocracia.
Em 1929, a Vega Sicilia teve enorme reconhecimento graças ao prêmio de suas safras 1917/1918, recebido por ocasião da grande Exposição Universal de Barcelona.
Em 1982, a Família Alvarez, atual proprietária, compra a Vega Sicilia e investe para modernizar a Bodega e elevar os vinhos a padrões comerciais competitivos.
tonelaria-Vega-Sicilia-viñedos-vinhos-barricaEm nossa visita, seguimos em companhia da Yolanda, percorrendo todos os ambientes correspondentes a cada etapa da produção dos vinhos e ficamos muito impressionados com as impecáveis instalações, a rigorosa higiene e as inúmeras obras de arte elegantemente integradas a vários espaços. Uma das surpresas ficou por conta da Tonelaria que a Família, caprichosamente, montou na década de oitenta para produzir os barris de carvalho americano onde seus vinhos descansam e evoluem por longos períodos. Ela é equipada com modernas máquinas de precisão e tem artesãos treinados e experientes que passam sua sabedoria profissional de pai para filho.

A Vega Sicilia possui também a vinícola de Alión, adquirida em 1991 com a ideia de se fazer um vinho mais moderno com a tradição da região Ribera Del Duero. Além disso, existem vários outros projetos sendo desenvolvidos em outras regiões. Na região da Hungria, por exemplo, em 1993, inicou-se o projeto da Bodega Tokaj Oremus que produz o Tokaji Aszú 5 Puttonyos, um dos vinhos de sobremesa mais nobres do mundo. Na região de Toro, uma das D.O. de Castilla Y León, o projeto da Bodega Pintia tem produzido o Pintia desde 2001. Outro projeto em Rioja, uma “joint venture” com franceses, produz os vinhos Mácan desde 2009.
Para culminar nossa visita, seguimos para a Sala de Degustação, instalada em meio a um belíssimo jardim (um encanto à parte).
Degustamos cinco vinhos:

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1- “Oremus Mandolas” 2011 – Região de Tokaj.
Casta: Furmint
Vinho branco, com 13,5% de graduação alcoólica, passa 7 meses em barrica de carvalho húngaro, com meses “sur lie”. De coloração amarelo palha, possui aromas doces de mel e frutas brancas maduras; em boca muita leveza e frescor, um abacaxi maduro, um toque cítrico e a mineralidade dos solos vulcânicos da região. A alta acidez permite uma guarda de até seis anos.

2- “Pintia” 2008 – Região de Toro.
Casta: 100% Tinta de Toro (denominação da Tempranillo naquela região), 15% de graduação alcoólica.
Vinho que passa por fermentação malolática, envelhece em barricas novas por um ano e aguarda dois anos em garrafa antes de chegar ao mercado. É um vinho de coloração violeta, com aromas de frutas negras; em boca, é redondo e carnudo, com taninos marcantes. Vinho elegante e potente que pede comida.

3- “Vega Sicilia Valbuena” 2009 – Região Ribera del Duero.
Castas: 90% Tempranillo e 10% Malbec, com 14,5% de graduação alcoólica.
Vinho de coloração rubi com reflexos violáceos. No nariz, aromas fechados de início, liberando aos poucos um tostado e um tabaco; em boca, é bem encorpado, mostrando frutas negras, groselha, coco, baunilha e notas tostadas, com taninos bem presentes. Um vinho para ser bebido lentamente e curtido por horas.

4- “Vega Sicilia Único” 2004 – Região Ribera del Duero.
Castas: 85% Tempranillo e 15% Cabernet Sauvignon, com 14% de graduação alcoólica.
Vinho que só chega ao mercado 10 anos após a safra. Possui coloração rubi com reflexos atijolados e bom halo de evolução. No nariz há frutas negras, um toque terroso e notas tostadas. Em boca, frutas negras em compota, bom corpo, taninos bem domados e coco notório. Vinho de guarda: dentro de 20 a 25 anos, haverá sempre um bom momento para se beber esse vinho.

5- “Tokaji Aszú” 2000 – 5 Puttonyos – Região de Tokaji.
Castas: 60% Furmint, 20% Muscat e 20% Harslevelu.
Vinho doce com aromas complexos, predominando o mel; passa três anos envelhecendo e mais dois a três anos em garrafa antes de chegar ao mercado. Em boca, é untuoso, com uma combinação perfeita entre acidez e doçura, e ao final, uma longa e deliciosa persistência. Excelente!

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Após quase quatro horas de visitação, que nem sentimos passar, a verdade é que saímos de lá apaixonadas por um pedaço da Espanha.
O que adoro sobre vinhos é a história que há por trás deles. Por isso posso dizer que o vinho é um produto evocativo. Falar da Vega Sicilia é uma tarefa particularmente complexa, porque ela é muito mais do que uma grande Bodega com seus respeitáveis vinhos. Trata-se de uma empresa que evoca todo um passado, nos remete a uma trajetória que impõe respeito e deve ser exemplo para qualquer país produtor de vinhos.
No Brasil, você pode encontrar os vinhos da Vega Sicilia na Mistral (www.mistral.com.br).

Maria Uzêda

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