“O ano em que as uvas viníferas são colhidas é conhecido como safra. Quase todos os vinhos apresentam o ano da safra, mas há exceções: vinhos que não dependem da safra, como a maioria dos Champagnes, dos vinhos do Porto e outros vinhos fortificados, são produzidos com uma mistura de uvas colhidas em dois ou mais anos para garantir sua consistência de ano para ano.
O gosto, a textura, a complexidade e a qualidade em geral de um vinho podem variar de ano a ano, dependendo do clima, da época de colheita das uvas, e assim por diante. Essas variações são marcantes em regiões vinhateiras onde o clima é irregular, como a Borgonha e Bordeaux, na França, a Alemanha, o Piemonte, no norte da Itália, e a Nova Zelândia. Contudo, em áreas quentes e ensolaradas como o sul da Itália, a Califórnia, grande parte da Austrália, África do Sul e Espanha, a consistência se conserva melhor de ano para ano e as datas das safras se tornam indicadores de qualidade menos importantes.
Não obstante, mesmo regiões com clima normalmente quente e estável são sujeitas ao mal tempo durante a época da colheita, e regiões quentes produzem, ocasionalmente, uma má safra.
Não há mais muita dúvida de que as regiões vinhateiras parecem estar ficando mais quentes, especialmente na Europa. Cientistas da Universidade de Bordeaux mapearam as datas anuais de floração das vinhas e descobriram que ela está ocorrendo, em média, uns 10 dias mais cedo do que há apenas dez anos. Isso significa que a vinha floresce mais cedo, amadurece mais cedo e promete uma safra precoce; e quanto mais cedo a vinha amadurecer, maiores são as chances de se realizar a colheita com tempo bom. Portanto, embora o aquecimento global não elimine as variações entre as safras, parece que realmente contribui para o aumento geral da qualidade da maioria das safras.
Outro fator que parece estar diminuindo a importância das safras é o uso de colheitadeiras mecânicas. Tais máquinas permitem que as uvas sejam recolhidas com mais rapidez (especialmente com mau tempo), embora muitos produtores de vinhos de alta qualidade não as vejam com bons olhos.
Embora pareça exagero, os vinhateiros gostam de dizer que não existem mais safras ruins; a verdade é que safras de péssima qualidade, como foi a de Bordeaux em 1972, são provavelmente coisa do passado.
Vinhos bons de área onde o clima pode mudar dramaticamente de um ano para outro (principalmente na Europa) apresentarão variações em profundidade e personalidade dependendo da safra, ou seja, a data da safra deve ser considerada. Ao escolher vinhos menos caros, contudo, o ano não será necessariamente um fator tão importante na sua decisão, pois as diferenças entre safras não serão tão significativas.
As tabelas de safras o ajudarão a escolher entre vinhos de datas diferentes, mas os critérios de definição dos melhores vinhos podem ser pessoais e não combinar com o seu gosto. E mais, ao comprar vinhos mais velhos, você poderá fazer bons negócios ao escolher safras que não foram tão valorizadas, como a de Bordeaux 1981, que foi totalmente obliterada pela resplandecente safra de 1982.”
Deixo a minha dúvida: em meio a uma quantidade tão abundante de rótulos, regiões e variedades viníferas, você habitualmente considera a safra antes de selecionar uma garrafa?
Fonte: Le Cordon Bleu, Vinhos.
Prezada Cris,
Apreciei muito o teu belo e cuidadoso artigo sobre os segredos da safra!
Conseguistes traduzir a tua expertise de maneira clara e objetiva.
Escrito desta maneira, nos anima a conhecer mais sobre a arte de fermentar as uvas, conhecimento que tão bem dominas.
A maneira como expões deixa o assunto, que muitos complicam, parecendo fácil!
Interessante e legal…
“As grandes obras de arte somente são grandes por serem acessíveis e compreendidas por todos” Tolstoi
Marco A.