O segundo dia de Sonoma amanheceu nublado. Saí para uma corrida pelas ruas de Santa Rosa, apreciando o cenário das casas bem ao estilo filme americano, com seus gramados bem cuidados, jardins floridos, paredes bem pintadas, varandas espaçosas e muitas vezes, com brinquedos que foram deixados ali no dia anterior, e que ninguém se preocupou em guardar. As ruas vazias em um domingo pela manhã transparecem uma vida tranqüila, até mesmo bucólica levada pela população dali. Dá até vontade de ficar umas horinhas a mais na cama. Mas a agenda do dia já estava cheia, então tomei a estrada e segui para o Russian River Valley, onde comecei o dia de visitações.
A primeira vinícola visitada foi a Iron Horse. Famosa pela produção de seus vinhos espumantes e especialmente, por serem o fornecedor de espumantes da Casa Branca. A área de degustação é externa, com uma vista bem bonita dos vinhedos. A vinícola já estava em época de colheita e foi possível ver as uvas chegando, passando pela desengaçadeira e mesa de seleção de frutas. Mas o melhor de tudo foi sentir o aroma do suco da uva começando a fermentar. Adoro!
Então dei início à degustação dos espumantes da casa, dos mais básicos aos mais elaborados. Alguns destaques abaixo:
Iron Horse Fairy Tale Cuvée 2006, Russian River, Sonoma
Aromas e sabores defumados com toques florais. Longa persistência em boca.
Esse espumante foi produzido exclusivamente para a Disney e a partir de uvas Pinot Noir. Preço na vinícola: $50,00
Iron Horse Brut LD 2002, Russian River, Sonoma
Aromas de damasco e figo e um fundo de leveduras e pão. Vinho de degorgement tardio, é feito a partir das uvas Pinot Noir e Chardonnay. Muito bom. Preço na vinícola: $85,00
Iron Horse Joy! 1996, Russian River, Sonoma
Aromas de leveduras e funghi seco. Longa persistência e ótima complexidade. Excelente. Preço na vinícola: $160,00
Apesar de impressionarem bastante, foi difícil não comparar com o que temos aqui, já que o espumante, em minha opinião, é o ponto forte do Brasil. Levaria sim uma ou duas garrafas de espumantes de lá, mas o preço deles é muito superior às boas alternativas que temos no nosso mercado. É inevitável comparar, inclusive num país onde se vende Champagne mais barato que na França. Foi interessante conhecer e saber que eles fazem bem. Agora é torcer para os preços abaixarem, para que o produto seja mais competitivo e apareça em outros mercados.
Saindo de lá, segui para a Kendall Jackson’s, uma das grandes vinícolas de Sonoma. Sua sede assemelha-se a um chateau francês, antigo, mas bem conservado, com jardim florido e uma estátua do pequeno Bacco. Preparada para uma degustação cortesia para profissionais da área, acabei me surpreendendo com uma proposta de harmonização de pratos com os vinhos da casa. Achei a vinícola muito preparada para receber visitantes, além de ser uma das poucas que não exige agendamento prévio. A harmonização incluía um material explicativo sobre todos os vinhos a serem degustados com espaço para o visitante fazer as suas notas. Alguns destaques da casa foram:
Kendall Jackson’s Highland Estates Camelot Chardonnay 2007, Sonoma
Notas tostadas, açúcar queimado, mel e caramel. Em boca, toques de mel, boa persistência e médio corpo. Muito bom. Preço na vinícola: $27,00
Kendall Jackson’s Late Harvest Chardonnay 2006, Sonoma
Aromas de limão e mel. Em boca, uma suave doçura, toques de mel e boa acidez. Muito bom. Preço na vinícola: $22,50.
O tempo se abria, compondo uma linda tarde de sol e céu azul. Parti para a Kenwood, uma das grandes também. Suas videiras estavam carregadas de fruta madura, eles ainda não tinham iniciado a colheita. A sede parece um grande galpão de madeira e lá dentro, uma lojinha e balcão de degustação. Em geral, achei os vinhos ligeiros, mais para o dia-a-dia e com preços bons. Senti falta de uma equipe mais preparada para falar sobre os vinhos servidos. Ali, o que mais me chamou a atenção foi o Zinfandel, que até então não havia provado nenhum que se destacasse.
Kenwood Reserve Chardonnay 2009, Sonoma
Aromas de pêssego maduro, mel e um fundo de caramelo. Em boca, cítrico com notas tostadas. Muito bom. Preço na vinícola: $20,00
Kenwood Jack London Zinfandel 2008, Sonoma
Aromas herbáceos, de mate e frutas negras. Em boca, notas de groselha. Muito bom. Preço na vinícola: $20,00
O fim de tarde se aproximava e ainda tinha mais uma visita agendada, na vinícola Gundlach Bundschu, que foi uma experiência muito boa. A vinícola foi fundada em 1858 e é uma das mais antigas vinícolas familiares da Califórnia. Depois de muitos anos produzindo e vendendo uvas, perceberam que a qualidade de suas uvas era muito boa e a partir de 1969 começaram a produzir seus próprios vinhos. Hoje a vinícola produz quase 30.000 cases por ano. E com uma qualidade impressionante. Fui muito bem atendida pela Linda, atenciosa e prestativa, que dirigiu a degustação e tirou dúvidas sobre os vinhos apresentados. Alguns destaques:
Gundlach Bundschu Chardonnay 2008, Sonoma
Aromas de baunilha com notas de mel e limão. Em boca, toques de caramelo, boa acidez e corpo. Excelente. Preço na vinícola: $27,00.
Gundlach Bundschu Zinfandel 2008, Sonoma
Aromas de cerejas maduras e ameixa com notas de pimenta. Em boca, taninos aveludados e médio corpo. Muito bom. Preço na vinícola: $30,00.
Uma volta pela cidade de Sonoma encerrou o dia. Há uma praça principal no centrinho, cercada por lojinhas, restaurantes e um empório onde se pode degustar e comprar queijos e vinhos da região, muito interessante. Além disso, neste empório pude experimentar um sorvete de abóbora surpreendente. Lembrando que outubro é o mês da bruxas e o mês das abóboras. Por fim, almocei em um restaurante italiano com um cardápio bastante variado e com propostas de dar água na boca. Comi um coelho delicioso e ainda fui surpreendida com uma taça de Pinot Noir cortesia da vinícola do dono do restaurante. A harmonização casou muito bem. E o dia foi realmente uma boa experiência.
Della Santina’s Restaurante – www.dellasantinas.com
Acompanhe nos próximos posts as descobertas no Vale de Napa.
Minha somelière particular… acho que voce se superou com esta viagem à Califórnia! Quanta informação nova e ilustrativa! Gostaria de mais fotos das vinícolas.Gostaria, tambem, de pedir-lhe um artigo e pesquisa sobre “spas wine”. Sei que em Bento Gonçalves tem o
Oi Cris.
Que legal. Você juntou o que existe de melhor: uma bela viagem com uma bela troca de experiências sobre vinhos. Um brinde a isso!!
Bjs
Olá,
Cresci entre as parreiras do “Vale da Uva Goethe” no sul de Santa Catarina mais especificamente na cidad de Urussanga, conhecida e reconhecida por muitos uma “Terra de bons vinhos” e “Capital do Vinho Catarinese”. Entre as décadas de 30 a 80 tivemos momentos de ouro em nossa produçao vitinicultora tendo reconhecimento nacional e internacional, sendo nossos vinhos brancos, famosos pela coloração e sabor frutado foram servidos no Palácio do Catete, antiga capital, nos governos de Getúlio Vargas e também no Copacabana Palace. Hoje vejo um avanço lento na produçao, comercialização e melhorias nos processos, mesmo tendo uma estação experimental da Epagri na Cidad o espaço no mercado ainda não foi retomado. Gostaria de deixar aqui neste espaço um fio de lembrança e uma gota de sabor da uva Goethe para os interessados no assunto e aos que desejarem maiores informações sobre o “Vale da Uva Goethe” favor entar em conta comigo ou entrar no site http://www.progoethe.com.br.
sds,
Bruno Cittadin