No mundo dos vinhos existe uma máxima que diz que não existe vinho bom ou ruim, existe sim o vinho que você gosta e o que não gosta. Isso significa que cada ser humano é único e tem o paladar diferente do outro. Portanto, não existe e nem deve existir uma verdade universal. E por isso o mundo dos vinhos é tão encantador e nos promove grandes surpresas a cada garrafa aberta. Mas será que na prática essa máxima funciona?
Recentemente li um livro que achei muito interessante e que nos faz questionar essa máxima e refletir sobre o caminho que estamos trilhando no mundo dos vinhos. O livro “A batalha por vinho e amor, e como salvei o mundo da Parkerização”, de Alice Feiring, escritora de vinhos e ex-jornalista do The New York Times, não é somente uma crítica ferrenha à padronização mundial do vinho, mas é também uma viagem fascinante por vinícolas tradicionais do velho mundo, apresentando as descobertas da jornalista em uma linguagem descontraída e os desafios enfrentados por famílias que há séculos vivem do vinho. Na obra, Alice faz um alerta aos leitores amantes do vinho para que a nossa máxima, que é a grande magia do mundo dos vinhos, não se perca.
Sem querer desmerecer o trabalho dos críticos de vinho, que muito merecem meu respeito e certamente têm muito que nos ensinar de suas descobertas e avaliações, mas devo concordar com a jornalista quando vemos que a crítica de vinhos, um conceito criado para servir de orientação para que as pessoas saibam o que esperar de um vinho, tem se mostrado uma análise característica, apresentando o paladar e a opinião pessoal do crítico. Aqui falamos especialmente de uma pessoa que fez de seu nome uma marca com tal força que sua crítica tem se tornado uma verdade absoluta. Se você ainda não descobriu de quem estamos falando, apresento-lhe Robert Parker: crítico de vinhos mais famoso do mundo, que lançou em 1978 uma publicação de avaliação de vinhos, o The Wine Advocate Journal, nos Estados Unidos, que tem hoje mais de 55.000 assinantes e está presente em mais de 37 países.
Alice Feiring em sua obra aponta a culpa da padronização do vinho, particularmente, a Robert Parker. Para ela, o crítico americano é o responsável pelo triunfo dos vinhos “carregados”, com excesso de madeira, encorpados e opulentos que hoje se bebe em toda parte. Ela não confia nas novas técnicas utilizadas pelos enólogos modernos, que vão desde o emprego de osmose inversa, micro-oxigenação, acréscimo de taninos, enzimas, leveduras selecionadas até a maturação intensa em barris de carvalho novo – e que escondem toda a identidade do vinho.
Em suas viagens, Alice descobriu vinhos que, por não agradarem ao paladar de Parker, ficam à sombra e não fazem sucesso. Esses são especialmente os vinhos produzidos com uvas cultivadas em agricultura orgânica ou biodinâmica e vinificados naturalmente. No entanto, já se vê produtores que, em função da não aceitação de seus vinhos por Parker e do quanto isso afeta seus negócios, começam a se “adequar” àquilo que é visto como “um bom vinho”, em busca de uma boa avaliação e pontuação de Robert Parker – e os rios de dinheiro que vem junto a isso.
Que atire a primeira pedra quem nunca se deixou levar por um vinho que tivesse uma pontuação acima de 90 na avaliação de RP. Será que não é hora de começarmos a fazer a nossa própria avaliação, tendo em conta o que é verdadeiro para nós mesmos, sem ter vergonha de gostar de um vinho diferente e sem nos preocupar ou nos deixar influenciar pelo que dizem os famosos críticos?
Saiba Mais:
Sobre o tema desse artigo, recomendo que assistam o filme “O Julgamento de Paris”, baseado em fatos reais que colocaram os vinhos da California entre os melhores do mundo.
Oi Cristina,
Gostei muito do post e vou procurar o livro indicado. Também buscarei o filme indicado pelo colega Ivo, do comentário anterior.
Abraços,
Flavio
Oi, boa noite a todos.
Não chego a ser profunda conhecedora de vinhos.
Gosto dos vinhos do velho mundo e a forma como são feitos. Esses vinhos carregados não são o meu forte, para não dizer que não gosto mesmo.
Pode ser que eu esteja errada, mas não vejo o menor sentido em beber um vinho americano “formatado”, simplesmente não dá!
Gostaria de ter algumas dicas de bons vinhos tintos e brancos franceses, italianos e alemães.
Obs.: Vou procurar o filme o julgamento de paris.
Um abraço a todos.
Roberta.