A França é um dos principais países produtores de vinho no mundo, com produção de mais de 7 bilhões de garrafas por ano e consumo per capita em torno de 45L. Sua história com os vinhos é secular, com registros que datam da época dos gregos e romanos, o que lhes concede tamanha tradição e reputação até os dias de hoje. Mas falar em vinho francês para muitos pode parecer uma coisa bem complicada. Então vamos simplificar.
Uma das questões que ouço com frequência é por que nos rótulos dos vinhos franceses quase nunca encontramos o nome das uvas. Existe uma explicação muito simples para isso. São diversas as regiões francesas produtoras de vinhos e a maioria delas produz vinhos de corte, ou seja, com mais de uma uva, ao invés dos varietais a que estamos acostumados por aqui, que usam somente um tipo de uva. Mas para cada região há um conjunto de regras que diz quais uvas podem ser cultivadas ali, além dos cuidados que se deve ter no manejo dos vinhedos e na elaboração dos vinhos. Seguir estritamente essas regras ou não, irá implicar em uma qualificação e um nível de classificação desses vinhos.
Os vinhos podem ser classificados, de forma geral, como Vin de Table, ou Vin de France na nova regra, que são vinhos mais simples e levam no rótulo apenas o nome do produtor e designação França. Em seguida vêm os Vin de Pays, que na nova regra chamam IGP (Indication Géographique Protegée) e levam em seus rótulos o nome da região produtora. São vinhos considerados de melhor qualidade e passam por critérios de avaliação para receber essa classificação. E os vinhos de qualidade superior são os AOC (Appellation d’Origine Controlée) ou AOP na nova regra (Appellation d’Origine Protegée), que seguem uma série de normas estritas para receber tal classificação.
A coisa começa a complicar um pouco mais quando entramos na classificação dos vinhos AOC, que estabelece um nível de superioridade principalmente em função do terroir, ou microclima, e do nível de cuidado do produtor, que quando excepcionais, produzem vinho únicos, expressivos e longevos, mas que acabam chegando no Brasil a preços exorbitantes. Como exemplo, na Borgonha os vinhos produzidos em terroirs mais nobres são classificados como Grand Cru, seguidos pelos Prémier Cru, os Village que levam o nome da vila em que são produzidos e os Régional que levam o nome da região da Borgonha. Mas deixaremos isso para outro capítulo.
As principais regiões produtoras da França são:
-Bordeaux, que em geral produz vinhos de maior complexidade e corpo, tendo como as principais uvas de sua composição a Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc – sem esquecer o famoso vinho de sobremesa Sauternes que fica ao sul de Bordeaux e que utiliza as uvas Semillion, Sauvignon Blanc e Muscadelle;
-Borgonha, produz vinhos elegantes feitos com a exigente uva Pinot Noir, vinhos Beaujolais frescos e frutados elaborados com a tinta Gamay e vinhos brancos ricos e minerais com a uva Chardonnay e está dividida em sub-regiões como Chablis, Côte de Nuit, Côte de Beaune, Côte Chalonnaise/Mâconnais e Beaujolais.
-Champagne, famosa ao redor do mundo por seus vinhos espumantes, pode ser considerada a mais rigorosa AOC da França e por isso a indicação AOC não aparece nos seus rótulos, já que todos os vinhos que levam o nome Champagne são obviamente produzidos na região, seguindo as regras da denominação de origem. Os Champagne são produzidos exclusivamente com as uvas Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier;
-Vale do Loire, região famosa pelos aromáticos brancos Sancerre, Pouilly-Fumé e Vouvray, utilizando variedades como a Sauvignon Blanc e Chenin Blanc;
-Vale do Rhône, região que acompanha o rio Rhône e suas encostas, possui mais de 20 sub-regiões e produz vinhos desde os mais simples até os vinhos míticos como os Chateauneuf-du-Pape e os Hermitage. O estilo dominante dos tintos vem das uvas Syrah, Grenache e Mourvèdre, corte típico da região.
-Languedoc-Roussillon, região ao sul da França e a oeste da Provence, onde os tintos imperam. Esta AOC exige por lei a utilização de cinco cepas sulistas: a Syrah, a Mourvèdre, a Carignan, Grenache e Cinsault.
-Provence, a primeira região produtora de vinhos rosés AOC na França, é responsável pela produção de metade das AOCs rosés francesas. Tem como principais variedades de uvas tintas a Grenache, Syrah, Mourvèdre, Cinsault, Carignan e Tibouren
-Alsácia, região que compartilha a cultura francesa com a alemã, é especialmente diferente das outras regiões vinícolas da França. Produz vinhos brancos de excepcional acidez, frutados e concentrados, que tiram seus nomes das cepas locais: Gewürztraminer, Riesling, Muscat Blanc e Pinot Gris (fato incomum na França). A tinta da região é a Pinot Noir que gera apenas 9% da produção total.
Ufa! Espero que tenha ajudado. Agora a dica é entender quais regiões produzem vinhos no estilo que mais lhe agrada e começar a “traduzir” os rótulos quando for escolher seu próximo vinho. Nas próximas semanas falarei um pouco mais em detalhe sobre algumas importantes regiões que tive a oportunidade de visitar e compartilharei a experiência.
Santé!
Cristina Almeida Prado
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