A região de Bordeaux é produtora dos vinhos mais cobiçados do mundo na atualidade, com garrafas que chegam a custar mais de $1.000,00 e muitas vezes, tem quase sua totalidade vendida “en primeur”, ou seja, antes mesmo de serem colocadas no mercado.
A história dos vinhos em Bordeaux data de cerca de 2.000 anos atrás, tendo seus primeiros registros no tempo dos romanos, quando as primeiras vinhas foram plantadas na região. Mas os vinhos de Bordeaux tiveram sua fama aclamada na idade média, quando a duquesa Eleanor de Aquitânia casou-se com o rei da Inglaterra Henrique II. Essa aliança viria a abrir a região de Bordeaux para o mercado inglês, estimulando seu rápido desenvolvimento e anos mais tarde, abrindo a região para o mundo.
Bordeaux é cortada pelo rio Gironde que divide a região entre “margem esquerda”, composta por Médoc e Graves, e “margem direita”, composta por Libournais, Bourg e Blaye. Há diversas subregiões no Médoc, que incluem Maurgaux, Saint Estephe, Paulliac, Saint Julien e outras menos conhecidas como Moulis e Listrac. Graves inclui as subregiões de Pessac-Léognan e Sauternes. E a região de Libournais inclui as subregiões de Saint Émillion e Pomerol.
Todas estas regiões estão submetidas às regras da AOC, que estabelece as uvas permitidas para a região, teor alcoólico, métodos de poda e colheita, rendimento por planta, técnicas de vinificação, entre outras questões. Somente os produtores que seguem estas regras podem carregar em seu rótulo o título de AOC, sendo que existem mais de 50 AOCs na região de Bordeaux (exemplo: Appellation Saint Émillion Controlée).
Os vinhos de Bordeaux são cortes (mistura de mais de uma uva) e há raramente varietais (que usam um único tipo de uva), tanto para tintos quanto para brancos. As uvas permitidas para os vinhos tintos são Merlot, Carbernet Sauvignon, Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot. O uso percentual de cada varietal pode variar de produtor a produtor, mas em geral sabe-se que os vinhos da “margem esquerda” possuem um percentual maior de Cabernet Sauvignon, o que lhes confere potência e complexidade, enquanto os da “margem direita” possuem um percentual maior de Merlot, o que lhes confere características mais aveludadas.
Entender a importância da AOC e o que ela representa para a qualidade dos vinhos é de suma importância. Conhecer as características de cada região e que tipo de vinho produzem também é relevante para a escolha do Bordeaux que lhe agrade mais ao paladar. Mas, além disso, cada região possui sua classificação própria, que ranqueia os produtores conforme nível de qualidade e o que geralmente leva alguns preços para as alturas.
A mais famosa classificação é a do Médoc, conhecida como a Classificação de 1855. Originalmente promovida para selecionar os melhores vinhos do Médoc para a “Exposição Universal de Paris”, avaliou e classificou os 61 melhores produtores da região, chamados de Grand Crus Classés dentro da apelação do Médoc, e permaneceu até os dias de hoje. A mesma classificação ranqueia estes produtores em 5 Premier Crus (os aclamados Chateau Margaux, Chateau Lafite Rothschild, Chateau Latour, Chateau Mouton Rothschild e Chateau Haut-Brion), 14 Deuxiemes Crus, seguidos por 14 Troisiemes Crus, 10 Quatriemes Crus e finalmente 18 Cinquemes Crus.
A região de Graves também desenvolveu sua classificação em 1953, revisada em 1959 e que destaca 16 produtores por seus tintos e brancos excepcionais.
Já na região de Saint Émillion, os melhores produtores são classificados em Premier Grand Cru Classé A, com somente 4 produtores, Premier Grand Cru Classé B, que engloba 14 produtores, Grand Cru Classé com 63 produtores e Cru Classé, onde entram os demais. Essa classificação se iniciou em 1950 e é revisada a cada 10 anos.
Saindo da curva, a região de Pomerol, a menor região produtora de Bordeaux, preferiu não entrar no processo de classificação de seus grandes vinhos. Conhecidos como vinhos de taninos mais macios, produzidos predominantemente com a uva Merlot, os vinhos de Pomerol levam em seus rótulos apenas Appellation Pomerol Controlée. Nomes como Chateau Pétrus e Chateau Lafleur, vinhos de altíssima qualidade e preços exorbitantes, colocam a região em evidência para o mundo.
Mas, e quando um vinho de uma região que possui classificação não entra num ranking de Cru Classé, como podemos identificá-lo? Bem, para os vinhos da “margem esquerda” que não entraram na lista dos 61 Crus Classés, mas que possuem um histórico sólido de produção de vinhos de qualidade, estes levam em seu rótulo a classificação Cru Bourgeois. Os demais vinhos para todas as outras apelações entram simplesmente como Bordeaux ou Bordeaux Supérieur e levarão em seu rótulo Appelation Bordeaux Controlée. Estes são geralmente os vinhos mais em conta e muitas vezes muito justos, como é o caso do Mouton Cadet.
Para os amantes do vinho e em especial os amantes de Bordeaux, se tiverem a oportunidade de visitar a região, um passeio pela charmosa vila de Saint Émillion é obrigatório. De lá, é possível agendar direto no Office de Tourisme visitação a alguns dos mais importantes produtores. Na cidade de Bordeaux também é possível organizar visitações para todas as regiões no Office de Tourisme. Mas se preferir ficar pela cidade mesmo, há diversos locais para degustar vinhos dos grandes Chateaux em taça, como a Maison du Vin, onde está localizada a escola do vinho, ou na Max Bordeaux e Aux 4 Coins Du Vin, que trabalham com a Enomatic que lhe permitirá degustar grandes vinhos a preços razoáveis.
Fica a dica.
Cristina Almeida Prado.
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