A história dos vinhos da Borgonha remonta a 2.000 anos, com registro de relatos sobre produção de vinhos que datam de 312 D.C. A presença dos monges constatada a partir de 500 D.C. é associada ao cuidado com a terra, à seleção das melhores parcelas e à escolha de castas apropriadas à região. Nos séculos XIV e XV, os Duques de Borgonha têm enorme influência no incentivo ao aperfeiçoamento do vinho, na sua comercialização e divulgação por toda Europa.
Mais tarde, com a Revolução Francesa, não só a nobreza como também a burguesia tornam-se proprietárias de terras. Na época, o código napoleônico, com suas leis de sucessão, determinava que as terras fossem divididas igualmente entre os herdeiros. Assim, as propriedades foram se dividindo cada vez mais e os vinhedos ficaram bem reduzidos, formando um verdadeiro mosaico de inúmeras pequenas parcelas de terras. Por isso, o conceito de propriedade na Borgonha é diferente do resto do mundo.
Com vinhedos tão fragmentados, os produtores e os négociants (comerciantes) são obrigados a comprar vinhos de propriedades vizinhas e a vinificar e comercializar vinhos de variadas origens. Se você pensa em comprar um Borgonha, é essencial conhecer os bons négociants da região, assim como os produtores de renome. Ou seja,na Borgonha, vale muito mais o nome do produtor ou do négociant que aparece no rótulo, do que a indicação da origem.
Localizada no Sul de Champagne e a Sudeste de Paris, a região da Borgonha é constituída de sub-regiões que compõem as seis AOC, que são: Chablis, ao Norte, Côte de Nuits e Côte de Beaune que formam a famosa Côte D’Or (Colina Dourada), Côte Chalonnaise e Mâconnais e, na extremidade Sul, Beaujolais.
As principais uvas vinificadas na Borgonha são a Pinot Noir, utilizada na maioria dos vinhos tintos da região, a Gamay, cultivada em Beaujolais e a branca Chardonnay, empregada na elaboração de praticamente todos os vinhos brancos. Vale aqui citar o cultivo da uva Aligoté na comuna de Bouzeron, em Côte Chalonnaise, que produz um vinho branco ácido famoso, pouco aromático, refrescante e de corpo leve que harmoniza muito bem com peixe.
Solos calcários são excelentes para o cultivo da Chardonnay, enquanto nos solos que misturam argila e calcário a Pinot Noir se dá muito bem. O solo granítico favorece o plantio da uva Gamay. Dessa forma, os vinhedos da Borgonha estão distribuídos de forma adequada ao tipo de solo.
Os vinhos da Borgonha são, hierarquicamente, classificados em Regional (Vin de Bourgogne), Village (levam o nome da comuna), Premier Cru (levam o nome da parcela) e Grand Cru, os quais respondem respectivamente por 53%, 30%, 15% e 2% de toda a produção vinícola da Borgonha.
Chablis é a sub-região dos famosos vinhos brancos feitos exclusivamente com a uva Chardonnay. Os Chablis são vinhos sublimes: secos, metálicos, ricos, de ótima acidez, mistura de fruta madura com toque mineral. Alguns produtores de destaque são: Bernard Billaud, Jean-Paul e Benoït Droin, Michel Laroche, Vincent Dauvissat, William Fèvre e Jean-Marc Brocard. A cooperativa La Chablisienne é uma boa dica para quem procura por um Chablis de qualidade a preço acessível.
A Côte de Nuit, conhecida como o ponto nobre da Borgonha, concentra o maior número de vinhedos Grand Cru, produzindo assim os melhores tintos da região. Os amantes dos Borgonhas afirmam que em nenhum outro lugar do mundo a Pinot Noir se mostra tão rica, elegante e sedutora. Suas AOCs mais conhecidas são: Gevrey-Chambertin, Vosne-Romanée, Vougeot, Chambole-Musigny, Marsannay, Morey-St-Denis e Nuits-St-Georges. São produtores confiáveis dessa região: Charles Rousseau, Bruno Clair, Jean-Claud Boisset, Denis Mortet, Louis Jadot, Méo-Camuzet, entre outros.
Côte de Beaune produz vinhos tintos de variados estilos e excelentes brancos. Fora de Chablis, é o único lugar da Borgonha que produz brancos Grand Cru. O único Grand Cru tinto é o magnífico “Corton” cujo produtor é responsável também pelo magistral Grand Cru branco “Corton-Charlemagne”. De Pommard originam-se os tintos mais rústicos da região. Mersault, uma grande vila conhecida pelos brancos excepcionais, possui vários Premiers Crus e inúmeros brancos de características únicas. De Puligny-Montrachet e Chassagne-Montrachet saem os vinhos brancos mais famosos do mundo. Alguns produtores da região, estão entre os melhores da Borgonha e são bem conhecidos pela alta qualidade constante de seus vinhos: Domaine Drouhin, Domaine de Comtes Lafon, Domaine de la Romanée-Conti, Domaine Jaques Prieur e Laflaive.
A Côte Chalonnaise possui cinco principais “appellations”: Bouzeron que produz vinho branco com a uva Aligoté; Rully que produz o espumante “Crèmant de Bourgogne” e onde a maior parte dos vinhos é produzida por négociants como Olivier Laflaive, Antonin Rodet e Domaine Druhin; Mercurey que oferece muitos tintos robustos e frutados de qualidade; Givry produz elegantes tintos de Pinots e aromáticos Chardonnays; e Montagny que dedica-se aos brancos de Chardonnay.
Mâconnais é uma região conhecida pela grande produção de vinhos brancos de uva Chardonnay. Sua principal “appellation” é Puily-Fuissé cujos vinhos são sempre brancos fabulosos e possuem preços geralmente inflacionados.
Por último, temos a região de Beaujolais com características e estilo de vinho bem distinto das outras. Nos solos graníticos, são plantados vinhedos de uva Gamay com as quais são elaborados todos os vinhos Beaujolais. São classificados em Beaujolais Nouveau, Beaujolais Village e Beaujolais Cru com dez AOCs (St.-Amour, Juliénas, Chénas, Moulin-à-Vent, Fleurie, Chiroubles, Morgon, Régnié, Brouilly e Côte de Brouily). O maior négociant de Beaujolais é Georges Duboeuf, além de outros como Jean Calot, Louis Jadot, Jean-Paul Brun e Jean-Marc Burgaud.
O fenômeno do Beaujolais Nouveau surgiu por volta dos anos 60, quando os produtores disputavam para ver quem conseguia fazer chegar primeiro, aos bistrôs e distribuidores, seus vinhos recém lançados. Assim é a “corrida anual do Beaujolais” em que ele é vinificado e engarrafado o mais rápido possível, e comercializado logo na terceira semana de Novembro, antes de primeiro de janeiro. Por isso carrega a reputação de vinho popular, agradável, sem grandes pretensões, puro frescor e fruta vívida.
Esperamos que esse ligeiro relato o ajude a entender um pouco mais sobre a Borgonha, considerada uma das regiões vinícolas mais confusas do mundo.
Se você planeja ir à França e não terá tempo de visitar a região da Borgonha, saiba que em Paris, na Place des Vosges, o Bistrô “Ma Bourgogne” oferece uma ampla variedade de vinhos da Borgonha, um verdadeiro templo para os admiradores de Bacco.
Bonne chance!
Maria Uzêda.
[…] esta semana de Borgonha, região produtora de vinho da França que tem a uva Pinot Noir como protagonista de seus tintos. […]