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Posts Tagged ‘Barbaresco’

A Itália, ou a Bella Italia, como é muito conhecida, apresenta uma riqueza de paisagens que não cansamos de admirar. Costurada por cadeias de montanhas de norte a sul, rios e lagos, uma grande diversidade de tipos de solo e castas autóctones, nos brinda com uma variedade de estilos de vinho com personalidades únicas, além da respeitada gastronomia italiana, com suas peculiaridades regionais, que tornam o país um destino muito desejado por turistas e enófilos do mundo todo.

Chianti Classico

Chianti Classico, Toscana

De uma maneira geral, quando falamos em grandes vinhos italianos, imediatamente nos lembramos dos vinhos ícones da Toscana, como o Brunello di Montalcino ou os Supertoscanos, ou os ícones do Piemonte como os renomados Barolos e Barbarescos. Mas a grande verdade é que os grandes vinhos italianos de longe resumem-se a isso e quanto mais estudamos e nos permitimos experimentar, mais apaixonados e instigados ficamos com as descobertas. Nos próximos parágrafos faremos um breve passeio pelas principais regiões produtoras de vinho da Itália, para conhecer um pouco das preciosidades que cada uma tem a nos oferecer.

As principais regiões produtoras da Itália são:

Piemonte

Como o próprio nome diz, “aos pés do monte”, faz referência aos Alpes, que quase circundam essa região montanhosa. Para se ter ideia, menos de 5% dos vinhedos piemonteses estão em área plana.

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Alba, Piemonte

Os dois melhores vinhos tintos do Piemonte são o Barolo e o Barbaresco, que levam o nome de suas vilas e são feitos 100% a partir da uva Nebbiolo. Ambos seguem as rigorosas regras estabelecidas por suas DOCGs. O Barbaresco deve estagiar por no mínimo 26 meses entre barrica e garrafa e o Riserva, por 50 meses, enquanto o Barolo deve estagiar por no mínimo 38 meses entre barrica e garrafa e o Riserva, por 62 meses, antes de serem liberados para o mercado.

A maioria dos outros vinhos famosos do Piemonte levam o nome da uva, como Barbera, Dolcetto, Brachetto, Grignolino, Freisa, Moscato e Nebbiolo. Esses vinhos são geralmente mais fáceis e ótimos para o dia a dia. Se junto ao nome da uva vem o nome da vila, significa que o vinho vem de uma região delimita e é um vinho de qualidade superior.

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Casta Nebbiolo

Não há dúvidas de que a uva mais nobre para vinhos tintos seja a Nebbiolo. Mas você não precisa se prender a um Barolo ou Barbaresco para se deliciar com os vinhos intensos, florais e com o sedutor tanino granulado característico da Nebbiolo. Alguns bons exemplos são os Langhe Nebbiolo, Nebbiolo D’Alba e até um Roero tinto. Já para os vinhos brancos, a Moscato é a assinatura piemontesa, gerando os famosos espumantes doces Moscato D’Asti, enquanto a Cortese gera o moderno vinho seco Gavi e a Arneis, o famoso e delicado Roero Arneis.

Outras DOCG localizadas no noroeste italiano oferecem também interessantíssimos vinhos que merecem ser experimentados. São eles: Gattinara, Ghemme, Lessona e Bramaterra, que se beneficiam de clima subalpino.

Toscana

Localizada na Itália Central, a Toscana é o berço da Sangiovesi e é aqui onde ela oferece a sua melhor expressão, gerando vinhos que podem variar de pálidos em cor e elegantes a escuros e encorpados, com aromas de cereja preta e terrosos, sempre com seu tanino granulado e marcante acidez. Aos pés dos montes Apeninos, a região apresenta uma diversidade de altitudes e solos, sendo os mais importantes o galestro (composto por argila e calcário) e o alberese (mais sólido e pedregoso). As três zonas mais importantes da Toscana são Chianti, Montalcino e Bolgheri, sendo a região de Chianti a mais antiga e a primeira a ser delimitada em 1716 (zona histórica).

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Visita a Chianti Classico, com o agrônomo Lorenzo da vinícola Dievole

A zona histórica de Chianti, que tinha como limites as terras no entorno das vilas de Radda, Gaiole e Castelina, teve posteriormente a adição de mais 6 vilas à sua extensão (San Casciano in Val di Pesa, Tavarnelle val di Pesa, Greve in Chianti, Panzano in Chianti, Castelnuovo Berardenga, Barberino Val D’Elsa e Poggibonsi), e é o que conhecemos hoje como a região Chianti Classico. Diferente de Chianti, que é uma zona mais ampla, com uma maior diversidade de estilos e uma DOCG menos rigorosa, Chianti Classico é uma DOCG com extensão menor e regras mais estritas, como por exemplo, uma menor quantidade de vinhas por hectare, mínimo de 80% de Sangiovesi na composição do vinho e estágio por no mínimo 12 meses. Em Chianti Classico encontramos alguns dos melhores exemplares italianos. O ilustre Barão de Ricasoli, em seu castelo di Broglio, já em 1872 distinguia esses dois tipos de Chianti, sendo um mais simples, para ser bebido jovem e o outro, uma versão mais ambiciosa e complexa, destinada à guarda.

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Vale mencionar a DOCG Chianti Rufina, que se destaca pela qualidade de seus vinhos. Não podemos nos esquecer dos “rebeldes” Supertoscanos que revolucionaram a Toscana adicionando uvas internacionais a seus vinhos e gerando grandes vinhos classificados como IGT.

Quanto a Montalcino, que fica ao sul de Chianti, no século XIX era uma das mais pobres regiões da Toscana, e foi Clemente Santi quem apostou e desenhou um estilo de vinho que viria a se chamar Brunello di Montalcino. Em 1980 surgiriam novos seguidores produzindo aquele vinho num estilo musculoso e potente, elaborado 100% a partir da Sangiovesi Grosso. Se na época eram apenas 20 produtores iniciando uma história em Montalcino, hoje já são mais de 200 produtores. E as regras para a produção do vinho foram adaptadas para o paladar do consumidor moderno. Os quatro anos mandatórios de passagem por barricas foram reduzidos a 2 e mais 2 anos em garrafa, permitindo ao vinho uma maior presença de fruta para contrabalancear a potência desses vinhos. Montalcino foi também a primeira DOCG a ganhar “DOC junior”, que seria o Rosso de Montalcino, vinho mais leve que pode ser lançado ao mercado após 12 meses.

Bottis-Chianti-Classico

Bottis (grandes barris de carvalho), muito usados na Itália, aportam menos sabores e aromas aos vinhos que as barricas de 225L, valorizando as características da variedade e do terroir.

Por fim, chegamos à região da Costa Toscana, onde está situada a DOC Bolgheri. Aqui, foi o Marchese Incisa dela Rocchetta o primeiro a apostar na região em 1940 para plantar Cabernet Sauvignon, inspirado na região do Médoc, na França. Quando os vinhos do Marquês começaram a suavizar seus taninos, eles revelaram sabores nunca antes vistos na Itália. Foi daí que despontou o nome Sassicaia, que teve sua primeira safra engarrafada em 1968. Um vinho “fora da lei” que estremeceu todo o sistema de DOC italiano, saindo de um simples Vino da Tavola para ter sua própria DOC Sassicaia. Muitos seguidores vieram nos anos que se seguiram e hoje Bolgheri é conhecida como a região da Toscana que produz vinhos ao estilo de Bordeaux. As uvas permitidas para os tintos são a Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Syrah e Sangiovesi e para os brancos, Sauvignon Blanc e Vermentino.

Ainda na Toscana, vale conhecer a pequena San Gimignano, que produz o branco Vernaccia di San Gimignano, uma pequena jóia. O Morellino di Scansano e o Vino Nobile de Montepulciano, ambas DOCs baseadas na Sangiovesi, são também excelentes vinhos para experimentar.

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San Gimignano, Toscana

Continue acompanhando o blog Sommelière. No próximo post seguiremos nosso passeio por mais algumas encantadoras regiões produtoras de vinho do Bel paese.

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Saúde!

Cristina A. Prado.

Referências: The World Atlas of Wine (Johnson, Hugh; Robinson, Jancis); Italy’s Native Wine Grape Terroir (D’Agata, Ian); WSET Nível 3 Livro de Estudos, Italian Wine Central Website (https://italianwinecentral.com/)

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