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Posts Tagged ‘Corvina’

Após passearmos pelas regiões da Toscana e Piemonte, seguimos nosso passeio por mais algumas regiões produtoras de vinho da Itália que se destacam pela riqueza de suas paisagens, cultura, história e claro, por seus encantadores vinhos.

Veneto

O Veneto é uma região muito fértil e uma das mais produtivas da Itália. A região se estende desde o lago de Garda a oeste, até Veneza a leste e vai desde o sopé dos Alpes ao norte, até as planícies do rio Pó ao sul. A região tem como principais denominações Valpolicella, que gera o clássico Valpolicella, o ícone Amarone, o Recioto e o Ripasso; Soave, o mais famoso vinho branco tranquilo da região; e Prosecco, lar do festivo espumante Prosecco. As férteis planícies do Veneto permitem também a produção de vinhos fáceis e acessíveis em grandes volumes, muitas vezes com uvas internacionais, como a Pinot Grigio ou a Merlot, e que são rotulados como Veneto IGT.

 

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A região de Valpolicella fica a noroeste de Verona e tem como principal casta a Corvina, autóctone de amadurecimento tardio, com pele fina, cor moderada, níveis baixos a médios de taninos e alta acidez. Pela DOC, 45-90% da composição dos Valpolicella devem ser de Corvina. Outras castas permitidas são a Corvinone, a Rondinella, a Oseleta, a Croatina e a Molinara. As uvas provenientes dos sopés das montanhas, com solos vulcânicos, com calcário e argila, geram vinhos mais complexos, com maior acidez, que podem ser rotulados como Valpolicella Classico DOC (lembrando que o termo “Classico” sempre faz referência à zona histórica). As uvas provenientes dos solos mais planos ao sul da região, compostos por cascalho e areia, geram vinhos mais frutados, com tanino ligeiro e com menor acidez, que podem ser rotulados como Valpolicella DOC.

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Vinhedos vinícola Zenato, Valpolicella Classico

As formas mais potentes de Valpolicella são o Recioto e o Amarone. Ambos se utilizam do método passito, no qual as uvas são colhidas mais cedo, quando ainda têm acidez bastante alta e se deixam secar num local fechado antes de iniciar o processo de fermentação, o que concentra os açúcares e sabores. Os vinhos rotulados Amarone della Valpolicella DOCG são secos ou quase secos, muito encorpados, com níveis altos de álcool e sabores intensamente concentrados de fruta vermelha e especiarias. Os vinhos rotulados Recioto della Valpolicella são elaborados a partir de uvas que são tão doces que a fermentação cessa de forma natural. São vinhos doces com intensos sabores de fruta vermelha, níveis altos de álcool e muito encorpados.

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Método passito usado para produção dos Amarones

Há também o Valpolicella Ripasso DOC, que é basicamente um Valpolicella que já fermentou e recebe as peles das uvas de um Amarone, sofrendo nova fermentação, aportando ao vinho mais cor, sabor e taninos.

Quando falamos nos vinhos brancos do Veneto o destaque vai para a região de Soave que tem como casta principal a Garganega, mas também podem ser adicionadas a Trebbiano e a Chardonnay. Esses vinhos têm aromas de pera, maçã e frutas de caroço. Seus melhores exemplares podem envelhecer, desenvolvendo aromas de amêndoas e mel. As uvas provenientes dos sopés das montanhas, de solo calcáreo, argiloso e com rocha vulcânica, sofrem um amadurecimento mais lento, proporcionando um sabor mais maduro e acidez mais elevada. Esses vinhos mais complexos e com capacidade para envelhecer por vários anos podem ser rotulados como Soave Classico DOC. As uvas provenientes das planícies que estão em solos aluviais arenosos, geram vinhos mais frutados, menos complexos e com menor acidez. Esses vinhos mais fáceis, para consumo imediato, podem ser rotulados como Soave DOC.

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Castelo de Soave

Por fim, chegamos à região de Prosecco, famosa mundialmente por suas borbulhas. Promovida a DOC em 2009, suas principais regiões delimitadas são: Prosecco DOC, que abrange uma ampla área do Veneto e uma parte do Friuli; Prosecco DOC Treviso, uma área menor dentro do Veneto; e Conegliano Valdobbiadene DOCG, uma área mais limitada, localizada nas íngremes encostas calcárias a nordeste de Veneza, que gera vinhos mais complexos e de qualidade superior. São produzidos a partir do método Charmat (em tanque) com a casta originalmente chamada de Prosecco, que teve seu nome alterado para “Glera”, para valorizar a integridade dessas denominações. Seus vinhos têm acidez média e frescos aromas de maçã verde, pera e melão. São ideais para serem consumidos enquanto jovens.

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Sicília

Maior ilha do Mediterrâneo, a Sicília tem condições perfeitas para o cultivo de vinho, com uma grande variedade de terroirs e terrenos. Alguns diriam que mereceria ser um continente e não somente uma ilha. A Sicília pode ser muito quente e seca, e a irrigação ali é permitida. É também, bastante adequada para o cultivo orgânico. Entrando mais para o interior da ilha, as paisagens já são mais verdes e as montanhas a nordeste costumam ter picos nevados por alguns meses no inverno.

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Em meados de 1990, a Sicília competia pelo título de região mais produtiva da Itália sem que a qualidade fosse uma prioridade. Mas isso vêm mudando de alguns anos pra cá. Os produtores têm se mostrado mais preocupados com qualidade e hoje já oferecem grandes vinhos Sicilianos muito bem avaliados pelos críticos de vinho e reconhecidos mundialmente.

As uvas internacionais, como a Merlot, Syrah e Chardonnay, têm papel relevante na Sicília. Mas cada vez mais os produtores locais valorizam as castas autóctones. A casta que tornou a Sicília mundialmente conhecida é a tinta Nero d’Avola, que gera vinhos suntuosos, com estrutura e sabores de fruta vermelha madura. Ela tem seu melhor desempenho especialmente no Oeste e ao sul da ilha, perto de Agrigento. Outra casta que tem ganhado muita notoriedade é a Nerello Mascalese, cultivada tradicionalmente na região do monte Etna a uma altitude que pode chegar a 1.000m. Seus vinhos mais comuns são chamados de Etna Rosso, de corpo leve, alta acidez e sabor especiado. Vale conferir alguns “Crus” da região, elaborados a partir de vinhas mais antigas, que geram vinhos mais complexos e concentrados e que evoluem lindamente. Entre as tintas há ainda a Frappato, que entra no corte da única DOCG siciliana, junto com a Nero d’Avola, gerando o Cerasuolo di Vittoria, com seus exuberantes aromas de cerejas.

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Colheita na região de Etna, vinícola Donnafugata

Quanto às castas brancas, a Catarrato, ou Lucido, como também pode ser chamada, é a casta de mais longa tradição na região oeste. Mas na década de 1990, as castas Inzolia (a Ansonica da Toscana) e Grillo ganharam espaço. Sem falar na Carricante, cultivada na região do Etna que gera vinhos com boa acidez, mineralidade e que podem envelhecer por até 10 anos (rotulados como Etna Bianco DOC). Outra casta branca de destaque é a Moscato Bianco ou Moscato de Alexandria que tem seu melhor desempenho na pequena ilha de Pantelleria, na costa sudoeste. Conhecida localmente como Zibbibo, suas vinhas têm condução em vaso (pequenos arbustos) para proteger a planta dos fortes ventos da região e a colheita acontece em dois momentos: num primeiro, em meados de agosto, as uvas são colocadas para secar por algumas semanas; num segundo, já em setembro, as uvas mais maduras são colhidas e fermentam junto com as uvas secas, gerando o suntuoso Passito de Panteleria, um vinho doce de meditação – uma experiência e tanto. Tem importante fama também a Malvasia delle Lipari, das ilhas de Lipari ao norte da Sicília, que gera vinhos doces com aromas de doce de laranja.

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Vinhedos na ilha de Pantelleria, vinícola Donnafugata

E por fim, não poderia deixar de falar do Marsala, vinho criado num estilo muito parecido com o Jerez e talvez o primeiro vinho italiano a conhecer os mercados europeus no século XVIII, já que os vinhos fortificados “viajavam bem”. É produzido em diferentes estilos, podendo usar castas brancas (Catarrato, Grillo e Insolia) ou tintas (Nero d’Avola, Nerello Mascalese e Pericone), podendo ser seco, meio-seco ou doce e com níveis diferentes de envelhecimento e qualidade.

Continue acompanhando o blog Sommelière. No próximo post seguiremos nosso passeio por mais algumas encantadoras regiões produtoras de vinho do Bel paese.

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Saúde!

Cristina A. Prado.

Referências: The World Atlas of Wine (Johnson, Hugh; Robinson, Jancis); Italy’s Native Wine Grape Terroir (D’Agata, Ian); WSET Nível 3 Livro de Estudos, Italian Wine Central Website (https://italianwinecentral.com/)

 

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