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Posts Tagged ‘Dingac’

Croácia – Capítulo III

Saindo do “paraíso do Adriático”, segui em direção à Península de Peljesac considerada o “império dos vinhos”. O Conselho de Turismo demarcou bem as rotas do vinho nessa península, por isso é muito fácil visitar os produtores e sua adegas. Excelentes exemplares de vinhos elaborados com a cepa nativa Plavac Mali provêm das Denominações Dingac e Postup, na Península. Um vinho Dingac é classificado como o de mais alto padrão pelas leis vitivinícolas croatas (1965) – “Vrhunsko Vino” (Premium Quality Wine). Somente cerca de 5% dos vinhos do país recebem essa designação. Uma porcentagem um pouco maior é classificada como “Kvalitetno Vino” (Quality Wine) e o restante é rotulado como “Stolno Vino” (Table Wine).

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A área de Postup foi a segunda região vinícola, depois de Dingac, a ser protegida pelo Estado (1967). Pequenas diferenças distinguem os vinhos Postup dos vinhos Dingac. Embora os Postup não se aproximem do caráter robusto típico dos Dingac, eles estão perfeitamente aptos a desenvolver grande estrutura e complexidade.

Esse é um destino imperdível para os amantes do vinho, pois há mais de 40 vinícolas instaladas nessa Península, dentre as quais eu destacaria a Grgic Vina, a Matusko Vina e a Korta Katarina.

A vinícola Grgic está localizada na vila de Trstenik, e foi fundada por Miljenko Grgic, um viticultor croata muito conhecido no mundo do vinho. Seu rico passado conectado à produção de vinhos, a experiência adquirida trabalhando durante muitos anos no Vale do Napa, na Califórnia, somados aos prêmios e condecorações que ele conquistou, são a base da produção dos vinhos que ele caprichosamente elabora a partir das variedades locais Posip e Plavac Mali.

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Outra vinícola bem conhecida é a Matusko cuja família vem mantendo a tradição por décadas, cultivando uvas e produzindo vinhos. Sua antiga adega, que começou com uma pequena sala de degustação, tornou-se nos últimos anos um dos mais conhecidos destinos croatas de turistas enófilos. Localizada na vila de Potomje, a vinícola Matusko produz vinhos de qualidade, incluindo tintos, brancos, um rosé e um espumante, sem falar no seu ótimo azeite. Durante minha visita nessa vinícola, fui muito bem atendida por Neda Bakalic que me serviu quatro rótulos, acompanhados de fatias de pão e azeite. Meu destaque é para o “Reserva Dingac Barrique 2008”, que exala aromas doces e em boca traz marcantes notas de passas ao rum, apresenta taninos elegantes e um delicioso e longo final. Macio, encorpado e bem equilibrado, mal se percebem os seus 15,2% de teor alcoólico.

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A vinícola Korta Katarina é outra parada obrigatória para os enófilos que passeiam pela Península. Local de fácil acesso, bem à beira da estrada, a KK oferece uma bela sala de degustação, com funcionários educados e muito bem treinados como o Ivo Cibilic que me atendeu, além, é claro, da loja para a venda direta dos vinhos KK. A vinícola, que fica próxima à cidade de Orebic, foi fundada em 2005 por Lee e Pam Anderson, americanos que se apaixonaram pelas belezas do litoral croata e encontraram um lugar ideal para construir a vinícola e um hotel. Valendo-se da mais moderna tecnologia, produzem excelentes vinhos elaborados com as cepas nativas Plavac Mali e Posip, todos classificados como “Vrhunsko Vino”.

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Em minha visita à KK, após a degustação, Ivo me apresentou uma embalagem com três safras diferentes do “KK Plavac Mali” que não hesitei em comprar e incluir na minha bagagem. A ideia era fazer uma degustação vertical com amigos aqui no Brasil, num inesquecível encontro de prazer e alegria que o vinho é capaz de proporcionar. Os vinhos de safras 2007, 2008 e 2010 apresentaram-se bem distintos, dentre os quais se destacou o “KK Plavac Mali 2007”, vinho de coloração granada, com nítido halo de evolução e discreto sedimento ao final; em boca, notaram-se frutas vermelhas em compota, um toque herbáceo, especiarias, taninos finos e final persistente. O “KK Plavac Mali” possui ótimo potencial de envelhecimento. Maravilhoso!

Embora não tenha alcançado ainda renome mundial, a produção vinícola da Croácia tem aumentado bastante e já apresenta muitos exemplares que se destacam e impressionam. Hoje, a Croácia é exemplo de luta, trabalho e superação, demonstrando o quão forte é sua identidade em tudo que faz.

Maria Uzêda

Contatos:

http://www.kortakatarinawinery.com / visit@kortakatarina.com

http://www.matusko-vina.hr / matusko@net.hr

http://www.grgic-vina.com / info@grgic-vina.com

http://www.zlatanotok.hr / zlatanotok@zlatanotok.hr

http://www.bastiana.hr / bastiana@gmail.hr

http://www.decanter.com.br (alguns rótulos da vinícola Korta Katarina podem ser encontrados na Importadora Decanter)

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wineries-croatia-vinhos-croácia A Croácia possui uma longa tradição vitivinícola que vem desde os tempos dos colonizadores gregos. Apesar de ter passado por períodos de estagnação, devido aos sucessivos conflitos políticos, a vitivinicultura croata está vivendo um importante e significativo renascimento, mesmo tendo ainda que lidar com as sequelas da guerra. Iniciativas como da Organização “Roots of Peace”, que atua na remoção de minas terrestres, vêm estimulando o replantio e consequente aumento dos vinhedos.

São duas as principais regiões vinícolas da Croácia: a Primorska, na costa, e a Kontinentalna, no interior. A Primorska inclui a sub-região da Istria e toda a costa adriática até a Dalmácia, inclusive as inúmeras ilhas. A Kontinentalna vai do noroeste ao sudeste croata.

No interior, na região de Kontinentalna que conta com sete sub-regiões, são produzidos principalmente vinhos brancos com a Grasevina (cepa nativa dominante), a Riesling do Reno e a Traminac; os tintos, de menor produção nessa área, são elaborados com Syrah, Pinot Noir e Zweigelt (casta tinta da Áustria).

Já na região de Primorska, a maior parte da produção vinícola é de vinhos tintos. Na sub-região da Istria, por exemplo, as cepas mais usadas são a Cabernet Sauvignon, a Merlot, a Malvasia Nera e a Teran, conhecida como Refosco na vizinha Itália; enquanto na sub-região da Dalmácia, a principal cepa tinta nativa é a Plavac Mali (prima da Zinfandel),que gera vinhos robustos e encorpados. Algumas cepas brancas também são cultivadas na região de Primorska, sobretudo a Malvasia Istriana, e variedades nativas como a Posip, a Bogdanusa e a Marastina.

Durante a minha viagem, percorrendo todo o litoral Adriático de carro, chamaram-me a atenção a ilha de Hvar com seus campos de lavanda, olivais e vinhedos, e a Península de Peljesac que exibe a riqueza da região, oferecendo mais de 40 vinícolas, um importante centro de criação de ostras e famosas salinas.

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Na ilha de Hvar, considerada o paraíso do Adriático, fiquei hospedada no Hotel Spa Amphora que organiza grupos para visitação à Vinícola Tomic e que pode ser visitada mesmo sem agendamento. Fundada em 1997, essa vinícola está localizada na vila de Jelsa. O enólogo responsável, Andro Tomic, nascido nessa ilha, tem dedicado sua vida ao vinho e à enologia, e se empenha em reavivar a herança da viticultura de Hvar.

Em visita à Vinícola Tomic, pude degustar três de seus tintos, num espaço especialmente construído segundo a arquitetura das antigas salas de jantar Romanas, escavado em rocha, com teto abobadado e colunas de mármore Travertino. Esse belo  salão é utilizado nas festas da família e nas degustações diárias dos visitantes. Degustei o “Veliki Plavac Mali”, bem envelhecido, mostrando nítidos sinais de evolução; o “Plavac Mali 2013”, um tinto jovem, com notas terrosas, típicas da casta, ameixas e frutos negros e toque final de café e especiarias devido à curta passagem por carvalho; e o “Plavac Mali Barrique”, um produto orgânico resultado de trabalho manual em condições naturais, envelhecido em barricas de carvalho francês, esloveno e americano, por período entre 8 a 12 meses. Esse vinho elegante preserva os clássicos aromas da Plavac Mali, assim como o estilo do Velho Continente, focando na estrutura, na complexidade e na persistência. A vinícola Tomic produz tintos e brancos, valorizando sempre as uvas autóctones, e dando grande destaque ao seu “Prosek” que é um autêntico vinho croata de sobremesa, rico e doce, feito com uvas desidratadas.

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Outra Vinícola importante e muito conhecida na ilha de Hvar é a Zlatan Otok. Fundada em 1986, essa vinícola está localizada na Vila de Sveta Nedjelja e possui vinhedos nas encostas sul da ilha, ocupando terrenos bastante íngremes que se debruçam sobre o Adriático. O proprietário Zlatan Plenkovic é tido na ilha como o “Rei da Plavac Mali” e foi eleito por mais de uma vez o melhor produtor de vinhos da Croácia, mantendo-se então dentre os melhores do ranking, com centenas de prêmios, medalhas e reconhecimento de títulos croatas e internacionais. Seus tintos são enormemente concentrados e poderosos, sobretudo o Zlatan Plavac Grand Cru. Destaque também para o complexo Zlatan Plavac Barrique que apresenta aromas com notas animais (couro), ameixas secas, amoras e um ataque de chocolate. Um Prosek também entra na sua lista de produção e é bastante elogiado.

Percorrer a Ilha de Hvar foi, sem dúvida uma das experiências mais adoráveis e enriquecedoras da minha viagem à Croácia e é, com certeza, um destino turístico inesquecível.

Seguindo pelo litoral sul do país, em direção a Dubrovnik, a Península de Peljesac é rota imperdível para os enófilos de carteirinha. Acompanhem na próxima publicação onde falaremos sobre as Denominações Dingac e Postup e alguns destaques dentre as mais de 40 vinícolas da Península.

Maria Uzêda.

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Em recente viagem à Croácia, tive a grata oportunidade de percorrer algumas regiões do país, conhecer um pouco da sua história, me encantar com as paisagens naturais, admirar as cidades antigas com sua arquitetura bem preservada e, é claro, saber mais sobre a produção vinícola.

A Croácia é um país de tumultuada trajetória histórica. Por várias vezes, os croatas tiveram que lutar por fronteiras e expulsar invasores pois, em muitas ocasiões, estiveram subjugados a outros povos como venezianos, turcos, húngaros, franceses e alemães. Após a Segunda Guerra Mundial, com a criação da Iugoslávia, que unia seis Repúblicas (Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Eslovênia, Macedônia, Montenegro e Croácia), veio uma calmaria aparente entre as nações eslavas que não durou muito. Com a morte do líder iugoslavo Tito em 1980, a Iugoslávia começou a se desintegrar e entrou em decadência, dando origem às manifestações nacionalistas e à eclosão de uma sangrenta guerra civil.

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Em 1991, a Croácia proclamou sua independência, embora somente em 1995, com o acordo de Dayton, o país tenha restabelecido suas fronteiras e começado a vislumbrar a paz. Após longa fase de reconstrução, o país vem mostrando ao mundo seus tesouros culturais, seus incríveis parques nacionais, belas cidades que são verdadeiras relíquias históricas, declaradas como Patrimônio Mundial da Humanidade, uma mistura rara de glamour dos tempos antigos com a autenticidade croata. O cenário atual de paz é um fato bem recente naquelas bandas conflituosas dos Bálkans.

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Quem visita a Croácia, percebe logo que é um país hospitaleiro, está bem preparado para o turismo, oferecendo boas estradas, praias paradisíacas, ótima rede hoteleira, diversas atividades culturais, rurais e enogastronômicas. E seus vinhos, bem… esse é o capítulo que mais nos interessa, pois vai explanar termos como “Plavac Mali”, “Posip”, “Dingac”, “Postup”, etc. Vale a pena acompanhar e saber a respeito do curioso mundo dos vinhos produzidos naquele país tão distante e desconhecido da maioria dos amantes do vinho. Portanto, fiquem atentos às nossas próximas publicações.

Saudações!

Maria Uzêda.

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