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Posts Tagged ‘Trebbiano’

A história da produção de vinhos da Itália é milenar, sendo impossível dissociar o consumo de vinho da própria cultura italiana, seja no âmbito gastronômico, econômico ou social. Colonizadores gregos a chamavam de Enotria – a terra dos vinhos. Sua grande variedade de microclimas, condições de solo, topografia, variedades autóctones e tradições regionais contribuíram para formar um patrimônio enológico sem igual, com uma diversidade de estilos e alguns dos rótulos mais conceituados do mundo.

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Visita a Chianti Classico na Toscana

Apesar de a Itália ser tão apropriada à produção vinícola, somente há pouco mais de uma geração desponta como produtora de vinhos tão distintos. Por um longo tempo não havia preocupação com qualidade e apenas uma pequena proporção do vinho italiano era engarrafada pelo produtor, sendo que a maior parte era enviada às cidades para consumo local. A França, ao contrário, há séculos carrega fama e tradição na produção de grandes vinhos. O primeiro decreto francês que definia regras relacionadas aos aspectos da produção vinícola data de 1.395, assinado por Filipe, o Audaz, duque da Borgonha, já estabelecia conceitos de terroir e métodos de produção que valorizavam a qualidade do vinho.

Historicamente a Itália sofreu por séculos com inúmeras invasões e disputas de território, e se tornou uma nação unificada apenas em 1861 – isso dificultava qualquer tentativa de entendimento de lugar e busca por qualidade. Para se ter ideia, um dos documentos mais antigos que relacionava os melhores lugares para produção de vinhos na Toscana foi expedido somente em 1716 pelo Duque Cosimo III e o conceito de DOC (Denominazione de Origine Controlatta) que determina regras para a produção de vinhos das principais regiões produtores da Itália surgiu somente em 1960, como resposta à AOC (Apppellation d’Origine Controlée) francesa.

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Declaração de 1716 por Cosimo III de Medici

De lá pra cá, muita coisa evoluiu. O país se tornou o maior produtor de vinhos do mundo, exportando quase metade de sua produção em 2019. Seu consumo interno é ainda bastante expressivo, de forma que cada cidadão italiano consume em média o equivalente a 45 litros da bebida por ano. Mas sua reputação não se restringe apenas a volume. Grandes produtores italianos figuram na invejável relação de vinhos vendidos pelos négociants da praça de Bordeaux, além de estarem presentes em famosas casas de leilão de vinhos nos grandes centros consumidores de vinho, como Londres e Nova Iorque.

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Produção de vinhos em hectolitros (OIV, Novembro 2019)

Para se entender o sistema de classificação e identificar o vinho italiano, assim como vemos na França, o nome do vinho é baseado na região onde ele foi produzido e, na maioria dos casos, não há indicação das uvas utilizadas. Um vinho como Chianti, por exemplo, será sempre baseado principalmente na Sangiovesi, enquanto que um Barolo, na Nebbiolo. Através das regras estabelecidas pelas DOCs e DOCGs, a designação da região será suficiente para indicar o tipo de vinho e uvas que podem ser utilizadas.

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Chianti Classico DOCG

No rótulo do vinho italiano sempre haverá a indicação de uma das quatro classificações oficiais existentes, que são: Vino da Tavola, que é o vinho mais simples, sem indicação de região; Indicação Geográfica Típica (IGT), com indicação de região, é um vinho com uma proposta mais moderna; Denominação de Origem Controlada (DOC) e Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG), são vinhos de regiões delimitadas que seguem regulamentações específicas que determinam por exemplo as uvas permitidas, assim como métodos de produção e vinificação. Esse último representa os vinhos de mais elevada qualidade. Sem falar nos Super Toscanos, ou os “Fora da Lei”, vinhos de elevadíssima qualidade que não se classificam como DOC ou DOCG pois utilizam uvas internacionais, como Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc.

A Itália é um dos países com a maior quantidade de uvas autóctones do mundo, mas tem como uva símbolo a gastronômica Sangiovesi, variedade tinta mais plantada no país. Quanto às brancas, a Trebbiano é a mais plantada, gerando vinhos descomplicados e refrescantes. No próximo post falarei sobre as principais regiões produtoras da Itália e comentarei um pouco mais sobre as principais uvas e suas características.

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Casta Sangiovesi

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Um abraço,

Cristina A. Prado.

Referências: The World Atlas of Wine (Johnson, Hugh; Robinson, Jancis); Italy’s Native Wine Grape Terroir (D’Agata, Ian); WSET Nível 3 livro de estudos, Italian Wine Central Website (https://italianwinecentral.com/top-fifteen-wine-producing-countries/)

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