Localizada na Europa Central, na planície da Panônia, sem saída para o mar, a Hungria possui uma história repleta de sucessivos períodos de ocupação, diversos regimes de governo e algumas revoluções, que afetaram diretamente a história da atividade vitivinícola do país. Alternando entre auge e queda através dos tempos, hoje os viticultores da Hungria vêm recuperando aos poucos a glória antiga, quando seus vinhos abasteciam todo o Império Austro-Húngaro.
A Hungria possui sete principais regiões vinícolas e conta com inúmeras cepas com nomes bem complicados como as tintas Kékfrancos (Blaufränkisch) e Kadarka (autóctones), Kékoportó (Blauer Portugieser) e as brancas Furmint, Olasz Rizling (Riesling Itálico usada na maioria dos espumantes brasileiros), Hárslevelú, Zénite, Szürkebarát (Pinot Gris), Ezerjó, além das conhecidas Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc.
Seu melhor e mais famoso vinho é o Tokaji Aszú. Proveniente da região de Tokaj Hegyalja, a nordeste do país, o Tokaji Aszú é um vinho branco deliciosamente doce e sensual, produzido com uvas afetadas por botrítis (botrytis cinerea), uma espécie de fungo que consome e reduz a água contida nas uvas, desidratando-as e concentrando assim os níveis de açúcar, acidez, viscosidade e sabor. Entra na sua elaboração a uva Furmint em maior proporção, que confere ao vinho estrutura e acidez, com pequenas partes de Hárslevelú e Muscat Blanc à Petits Grains (Muscotály).
Específicas condições climáticas são essenciais para que a botrítis, também chamada de “podridão nobre”, ocorra. Nos morros vulcânicos que circundam a cidade de Tokaj, onde os rios Bodrog e Tisza se unem, a precisa combinação das enevoadas manhãs frias e úmidas de outono com as tardes quentes e ensolaradas favorece a formação dos fungos que perfuram a pele da fruta, mas deixam a polpa intacta. Essa é a magia desse vinho declarado “vinho dos reis e rei dos vinhos” por Luis XIV, em meados do século XVII.
De acordo com o grau de doçura, os vinhos Tokaji Aszú recebem uma classificação que vai de 3 a 6 Puttonyos. O nome “puttony” refere-se às tinas portáteis usadas para carregar as uvas botritizadas. Vinte litros de pasta de uvas botritizadas equivalem a um Puttonyo. Quanto mais Puttonyos adicionados ao vinho base, mais doce é o vinho resultante. Acima do Tokaji Aszú, há uma versão ainda mais doce chamado Aszú Eszencia que é muito raro e muito caro.
A Hungria também produz vinhos brancos secos, principalmente com a uva Furmint. Esses vinhos, em geral, apresentam caráter intenso, com sabor de maçã verde (nozes e mel quando envelhecidos).
Outra região importante denominada Eger produz o Bikavér (conhecido como sangue de boi), vinho tinto muito consumido no país e que atende bem ao paladar húngaro. Atualmente, novas regras estabelecem para esse vinho origem, safra e tempo mínimo de carvalho, visando melhorar a qualidade.
Apesar dos inúmeros revezes por que passou, a Hungria vem, cada vez mais, ganhando mercado e tem oferecido boas opções de vinhos para os enófilos entusiastas, mas nada se iguala ao seu maravilhoso vinho doce, detentor de tal importância para o país que é citado no Hino Nacional. Como podem ver, amigos leitores, esse é um vinho que se deve degustar pelo menos uma vez na vida.
Maria Uzêda.
[…] « VINHOS DA HUNGRIA EM DESTAQUE […]