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Archive for the ‘Histórias de Vinho’ Category

Em recente viagem ao Chile, tive a oportunidade de conhecer os vales de Casablanca e Aconcágua, no entorno de Santiago, e visitar algumas de suas vinícolas. A primeira visita foi à Emiliana, que está há 50 minutos de carro de Santiago, sentido Valparaíso.

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Quem me recebeu foi a Angélica, guia de visitas, e o Josué, hospitality manager, que, super atenciosos, compartilharam um pouco sobre a história e filosofia da vinícola e me apresentaram alguns de seus vinhos.

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Com cerca de 20 anos de história, a Emiliana é hoje a maior vinícola orgânica do mundo e cultiva suas uvas nas principais regiões vinícolas do Chile. Como filosofia, diz-se que um vinhedo orgânico é um organismo vivo autossustentável: um sistema fechado que se mantém saudável com o uso da própria fauna, flora e minerais em seu favor. Não utiliza pesticidas ou qualquer produto químico em suas vinhas, mas produz uma série de ervas e grãos que são utilizados em compostos que ajudam a fortalecer e proteger os vinhedos de pragas.

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Além disso, a presença de animais, como galinhas, que ajudam a comer larvas e insetos, joaninhas criadas localmente, que se alimentam de pulgões e pequenos insetos, lhamas, que na época adequada são soltas pelos vinhedos para ajudar na redução das folhagens das vinhas e abelhas, que ajudam na polinização da flora da região, ajudando a manter o ecossistema saudável.

DSC_5355Já o biodinamismo, filosofia também seguida pela Emiliana em alguns de seus vinhedos, acredita num equilíbrio energético entre todos seus elementos, considerando a posição dos astros como direcionadores do calendário do vinhedo. Este calendário é desenhado por um engenheiro agrônomo junto a um astrônomo. Diz-se que a posição dos astros influencia na energia da natureza e existem alguns momentos energéticos específicos que irão definir o melhor momento para fertilização de solo e vinhedo, poda e colheita, por exemplo.

Além de todo o cuidado com a natureza, a Emiliana acredita ser fundamental manter a paixão de seus colaboradores pelo trabalho para que isso se reflita na qualidade de seus vinhos. Oferece uma série de benefícios para os trabalhadores e seus familiares, como assistência médica e a possibilidade do uso das terras para produção de verduras e frutas.

A Emiliana produz seus vinhos brancos a partir das uvas Chardonnay, Viogner, Marsanne, Roussane e Sauvignon Blanc, enquanto para as tintas, Merlot, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Mouvèdre e Syrah.

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No vale de Casablanca, que é uma região fria mesmo no verão, o clima é adequado para a produção de excelentes brancos, pois permite às uvas mais tempo para amadurecer e desenvolver seus aromas e sabores. A Pinot Noir é também uma uva que se adaptou muito bem à região.

Os vinhos degustados nesta visita foram:

Novas Viogner 2013, Casablanca

De coloração amarela com reflexos dourados, apresenta aromas de flores brancas com notas de damasco e pêssego maduro. Em boca, corpo e acidez médios. Boa untuosidade. Muito bom!

Adobe Gewurztraminer 2015, Rapel

De coloração amarelo palha, apresenta aromas intensos de lichia, flores e frutas brancas maduras. Em boca, a sensação se repete. É um exemplar bem típico da Gewurztraminer.

Novas Carmenère, Cabernet Sauvignon 2013, Cochagua

93 Pontos por James Suckling

Coloração rubi intensa, apresenta aromas de frutas vermelhas e negras maduras. Em boca, apresenta boa estrutura, acidez, taninos macios e muita fruta com um discreto toque vegetal. Está delicioso!

Coyam 2012, Colchagua

Syrah, Carmenère, Merlot, Cabernet Sauvignon, Malbec e Mouvèdre

Coloração rubi intensa, apresenta aromas de ameixa, groselha e amoras negras. Em boca, bom corpo e acidez, com taninos marcantes. Vinho ícone da casa, passou 13 meses em carvalho 80% francês e 20% americano. Pode ser guardado por até 15 anos. Excelente vinho!

Gê 2012, Colchagua

Carmenère, Syrah, Cabernet Sauvignon

Coloração rubi intensa, apresenta aromas de frutas negras maduras, como ameixa e amora, com notas de chocolate e pimenta preta. Em boca, bom corpo e acidez, com taninos marcantes. Vinho ícone da casa, produzido a partir de vinhas velhas, com 16 meses de passagem em carvalho francês. Pode ser guardado por até 20 anos. Excelente vinho!

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Conhecer mais de perto o admirável trabalho realizado por esta vinícola foi, certamente, uma experiência e tanto, e reforça todo o romantismo e misticismo que há por trás de cada garrafa de vinho que abrimos, nos surpreendendo e nos enchendo de prazer.

A Emiliana recebe visitas diariamente em sua sede no vale da Casablanca, com agendamento prévio. Se estiver pela região, recomendo o passeio.

Emiliana Vinhos Orgânicos

Site: www.emiliana.cl

No Brasil, você pode encontrar os vinhos da Emiliana nos sites www.vinomundi.com.br e www.worldwine.com.br

Um brinde!

Cristina A. Prado

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Para iniciar esta matéria, é interessante falar um pouco sobre a Ordem de Malta. Fundada em Jerusalém no século XI, a Ordem de Malta visava a assistir e proteger os peregrinos àquela terra santa. Hoje em dia a Ordem de Malta, assim como o Vaticano, é um Estado Soberano, mantém relações diplomáticas com dezenas de países, inclusive o Brasil, possui representação na OMS (Organização Mundial da Saúde) e status permanente de observador na Assembleia Geral das Nações Unidas. A Ordem opera em mais de cem países, em cinco continentes, mobilizando centenas de voluntários envolvidos nos seus diversos programas assistenciais. Atualmente, a bandeira da Ordem, com sua Cruz de Malta branca de oito pontas sobre fundo vermelho, tremula nos mastros de hospitais, clínicas e centros educacionais que prestam assistência a populações carentes, doentes e desamparadas.

La Rocca Bernarda: propriedade agrícola da Ordem de Malta.

La Rocca Bernarda: propriedade agrícola da Ordem de Malta.

Na Itália, a Ordem de Malta está sediada em Roma e possui 14 propriedades agrícolas localizadas em diversas regiões italianas (da Sicília à Friuli Venezia Giulia). Essas fazendas operam sob a administração da S.Agri.V.It.srl (Sociedade Agrícola Vitivinícola Italiana) e quatro delas são vinícolas, todas envolvidas na missão institucional da caridade e da solidariedade. São elas: “Rocca Bernarda”, na área de DOC Colli Orientali del Friuli; o “Castello di Magione”, na área de DOC Colli di Trasimeno; a “Meniconi Bracceschi Commenda”, na área de DOC de Torgiano; e a vinícola “Beato Gerardo”, na área de DOCG Asolo, em Treviso, que produz o Villa Giustiniani Prosecco Extra Dry DOCG.

Foi com grande prazer e surpresa que, em recente viagem, atravessando a região de Friuli Venezia Giulia, a NE da Itália, pude visitar uma dessas propriedades: Rocca Bernarda. Pertencente à Ordem de Malta desde 1977, essa vinícola cultiva onze variedades de uvas, produzindo ótimos tintos, aromáticos brancos e um excelente vinho doce.

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Um dos grandes destaques da vinícola Rocca Bernarda é o seu tinto “Novecentos”, cuja safra 2008 foi lançada no mercado em 2013 para celebrar o noningentésimo aniversário da Bula Papal concedida à Ordem de Malta pelo Papa Pasquale II, em 15 de fevereiro de 1113, reconhecendo a Ordem e colocando-a sob a proteção da Santa Sé. Produzido a partir da variedade tinta “Pignolo”, o “Novecentos” é um vinho com edição anual limitada e numerada, possui grande estrutura, elegância e harmonia.

Especial atenção é dada à variedade branca denominada “Picolit”. Tida como “a pérola da enologia Friulana”, a “Picolit” teve a sua devida importância restaurada no cenário da viticultura da região, graças aos diversos estudos e replantios efetuados na propriedade vinícola de Rocca Bernarda. O vinho “Rocca Bernarda Picolit Colli Orientali del Friuli DOCG” é doce, de colheita tardia, elaborado em estilo passito. Fresco e rico, com aromas de frutas secas e concentração untuosa em boca, pode-se imaginar os motivos de sua reputação como um dos mais famosos vinhos brancos doces da Itália.

Como bem sabemos, uma viagem pode descortinar fascinantes histórias ligadas ao mundo vinho. Conhecer a história da Ordem de Malta e os vinhos italianos relacionados a ela foi sem dúvida uma experiência curiosa e enriquecedora.

Contatos:
http://www.roccabernarda.com
Info@roccabernarda.com

Maria Uzêda

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A Califórnia é o maior estado americano produtor de vinhos, contando com inúmeras regiões bem conhecidas, tais como o vale do Napa, Sonoma, Mendocino e Santa Barbara, de onde se originam vinhos de renome, como por exemplo, o famoso “Chateau Santa Helena”, vencedor do célebre concurso que aconteceu em Paris em 1976 e ficou gravado na história como o “Julgamento de Paris”. Contudo, existe na Califórnia uma pequena área vinícola bem menos divulgada que vem se destacando e merece especial atenção do público enófilo: o Vale de Temecula. Há pouco mais de um mês, visitei essa região e gostaria de passar aos leitores o meu testemunho.

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Localizado ao sul da Califórnia, há cerca de uma hora de San Diego, o Vale de Temecula é uma agradável surpresa para aqueles apaixonados por vinho e que apreciam a natureza. As suaves colinas cobertas com centenas de acres de vinhedos plantados, as inúmeras vinícolas que estão sempre de portas abertas ao visitante e a intensa programação turística da região garantem uma excitante experiência de tirar o fôlego de qualquer um.

O turismo local é diversificado, criativo e organizado, bem ao estilo americano. As atividades vão de passeios de balão sobre os vinhedos a café da manhã com champagne, além da possibilidade de fazer um piquenique entre as parreiras e também poder realizar eventos corporativos ou casamentos. À noite, o agito se concentra na charmosa Old Town de Temecula com sua arquitetura peculiar que nos faz lembrar do velho oeste.

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A maioria das vinícolas possui sede com construção moderna, espaçosas salas de degustação, gift shops, finos restaurantes, muitos dos quais envidraçados, descortinando magníficas vistas para os vinhedos. Opções de acomodação também são oferecidas por algumas vinícolas que possuem hotel luxuoso, resort e spa. Tudo, enfim, conspira a favor de uma inesquecível experiência em Temecula.

Os vinhedos de Temecula deixaram de florescer quando uma praga, disseminada por insetos, se alastrou pela Califórnia: o mal de Pierce. Somente recentemente a região renasceu graças aos grandes investimentos e persistentes trabalhos de recuperação e ampliação dos vinhedos, experimentos de enxertia e dedicação esmerada dos vitivinicultores, privilegiados por um microclima único, um solo granítico com boa drenagem e a brisa fresca proveniente do Pacífico que aí chega através do corredor conhecido como “Rainbow Gap”. Isso vem se refletindo diretamente na qualidade dos vinhos produzidos na região, muitos deles com premiação reconhecida.

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Um dos exemplos de sucesso é a portentosa “South Coast Winery Resort and SPA”, uma das mais renomadas da região. Instalada desde 1968, a vinícola planta 18 variedades de uvas, produz 45 diferentes vinhos e conta com cerca de 1800 prêmios recebidos em concursos regionais e internacionais. Dos vinhos que degustei, eu destacaria os seguintes:

“Carter Estate Private Reserve” 2012

Casta: 100% Viognier

Notas: fermentado inicialmente em inox para acentuar a fruta, finaliza a seguir em barricas novas de carvalho francês. É um vinho com aromas de flor de laranjeira, mel e pêssego; em boca é delicado, elegante, madeira integrada, equilibrado, apesar dos 14,4% de álcool.

“South Coast Tempranillo” 2009

Casta: 100% Tempranillo

Notas: estágio em barricas novas de carvalho americano, combinado com barricas usadas de carvalho francês; aromas de cerejas e amoras silvestres e notas defumadas; em boca tem bom corpo, é bem balanceado com taninos aveludados, mantendo discretos os 14,8% de álcool.

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Já a “Callaway Vineyards and Winery” é uma vinícola especializada em pequena produção que se destaca pelos seus vinhos Reserva premiados. Além de possuir um dos primeiros vinhedos estabelecidos no Vale, a Callaway foi a primeira vinícola na região a abrir ao público uma sala de degustação. Essa vinícola impressiona tanto pela beleza de suas instalações quanto pela alta qualidade de seus vinhos. Dos vinhos aqui degustados, cito os seguintes:

“Winemaker’s Reserve Syrah” 2010

Notas: aromas de geleia de frutas negras, especiarias como pimenta do reino e noz-moscada; em boca, ameixas pretas, amoras e groselha, taninos finos, notas de chocolate e toque de pimenta, com longo e delicioso final. Muito bom!

“Winemaker’s Reserve Cabernet Sauvignon” 2010

Castas: 94% de Cabernet Sauvignon e 6% de Petit Verdot

Notas: de coloração rubi com reflexos granada, apresenta aromas exóticos de menta e aniz, pimentão e frutos negros; em boca, amoras e cassis, novamente o aniz, um toque herbáceo, taninos redondos e elegantes com final persistente levemente picante. Excelente!

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É muito fácil circular pelo vale e visitar as vinícolas de Temecula, pois ficam vizinhas umas das outras ao longo da Rancho Califórnia Road (a principal) e da Portola Road. Com uma taxa de dez dólares em média, o visitante pode degustar de três a cinco vinhos diferentes, dependendo da vinícola. Em Temecula, não importa se você é um profissional ou apreciador de vinhos, o que conta mesmo é o espírito aventureiro e desbravador que anima o coração dos verdadeiros amantes do vinho.

Contatos:

http://www.temeculawines.org

http://www.southcoastwinery.com

http://www.callawaywinery.com

Maria Uzêda.

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Falar da vinícola Torres é falar de um império que impõe respeito no mundo dos vinhos. Com mais de 1.300 hectares de território plantado, a Torres é hoje a maior vinícola da Espanha. Sua reputação lhe conferiu inúmeras premiações, como a de melhor vinícola européia do ano, promovida pela revista “Wine Enthusiast” em 2006. A Torres administra também a Miguel Torres no Chile e a Marimar Estate nos Estados Unidos.

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Vinhedos de Mas Rabell, vinícola Torres, Espanha

Na semana passada, em um agradável encontro promovido pela importadora Devinum, tive a oportunidade de conhecer o simpático Jordi Franch, Diretor Comercial da Torres, que me contou um pouco da história da vinícola, que já está em sua quinta geração da família, de seus principais feitos e de seus vinhos.

Fundada em 1870, em Penedés, a nordeste da Espanha, a vinícola Torres nasceu de uma parceria entre dois irmãos de uma família que desde o século XVII cultivava vinhas, mas sem apelo comercial. Jaime Torres era o irmão que dominava o comércio com as Américas, enquanto Miguel Torres dominava a produção de vinhos. Juntos começaram o negócio familiar focados no mercado externo, vendendo seus vinhos em barris, sem imaginar a dimensão que a Torres tomaria. A vinícola logo começou a ganhar visibilidade e recebeu ilustres visitas em sua sede, como a do rei Afonso XIII em 1904.

Poucos anos depois, já na segunda geração da família, nasceu a primeira marca da Torres: a Coronas, marca que deu fama mundial à vinícola e que é reconhecida até os dias de hoje. Essa mesma geração foi também responsável pelo início da produção de brandies, o vinho fortificado da Torres. Tamanha fora sua aceitação e sucesso no mercado externo que tornou a Torres a maior exportadora de brandy do país.

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Produção de brandies, vinícola Torres, Espanha

Os negócios iam bem, até que veio a guerra civil espanhola e em 1939 a vinícola foi parcialmente destruída por um bombardeio. Ao fim da guerra, iniciou-se a reconstrução da vinícola e os vinhos passaram a ser vendidos pela primeira vez em garrafas.

Nos anos seguintes, nasceram marcas como Sangre de Toro, produto de entrada da Torres produzido a partir de Garnacha e Cariñena, e Viña Sol, feito a partir das castas Parellada e Garnacha Blanca com uma proposta de frescor. Próximo ao centenário, a vinícola aderiu à vitivinicultura moderna, começou a cultivar variedades estrangeiras, como a Cabernet Sauvignon e a Chardonnay e a utilizar tanques de inox para a fermentação.

Em 1979, a Torres expandiu seus negócios para outros territórios. Nasceu a Miguel Torres no Chile e alguns anos depois, a Marimar Estates em Sonoma, nos Estados Unidos. Seus vinhos traduzem a tradição e o conhecimento da família aliados à riqueza do terroir dessas regiões.

Na Espanha, a Torres ampliou seu negócio para outras terras e está hoje em regiões como Ribera Del Duero, Rioja, Jumilla, Toro, Rueda, Priorato e Penedés, produzindo uma variedade de castas autóctones, como Tempranillo, Monastrell, Garnacha e Cariñena e castas internacionais, como Syrah, Merlot, Sauvignon Blanc e Riesling. Sua produção chega a atingir mais de 40 milhões de litros por ano e seus vinhos estão presentes em mais de 140 países.

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Castelo de Milmanda, vinícola Torres, Espanha

A reputação deste império que é a vinícola Torres a tornou um ponto turístico muito procurado por amantes do vinho de diversos países, chegando a receber mais de 130.000 visitantes por ano somente na sede de Penedés. Se você estiver na Espanha e tiver a oportunidade de visitar, vale gastar algumas horas desfrutando de seus vinhos, ampliando seu conhecimento sobre esta marca histórica e apreciando a natureza incrível no entorno de suas sedes. São três os locais que permitem visitação: a sede de Penedés (Parcs Del Penedés), principal local de visitação, a vinícola de El Lloar no Priorato e o Castelo de Milmanda, em Conca de Barberà. Mas se não for à Espanha, por sorte, seus vinhos são facilmente encontrados por aqui.

Mais informações no site da vinícola Torres.

Um brinde à Espanha e suas preciosidades!

Cristina Almeida Prado.

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Descrever a Espanha e suas regiões vinícolas em um único post é um tanto desafiador. Isso porque a Espanha além de ser um território extenso, com uma grande diversidade geográfica e climática, possui produção vinícola por praticamente todas as suas terras, fato que a torna o país produtor com o maior percentual de área plantada com vinhas e o terceiro maior produtor de vinho no mundo. Sua história é também muito rica e apresenta alguns acontecimentos marcantes, que serviram de pano de fundo para o curso de sua trajetória no mundo vinícola, conferindo-lhe o merecido respaldo e reconhecimento mundial que possui hoje.

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Aqueduto romano em Segóvia, Espanha.

Os primeiros registros arqueológicos da presença da viticultura na Espanha datam de cerca de 4.000 a 3.000 anos antes de Cristo, muito antes da era dos fenícios, dos cartagenos e dos romanos, fato esse que pode explicar as mais de 400 variedades de uvas existentes hoje na Espanha. No tempo dos romanos, a Espanha, já conhecida como Hispania, exportou seus vinhos para quase toda a Europa, dando início a seu primeiro mercado de exportação. Mas com a queda do império romano e a invasão dos mouros, houve um período em que o consumo de álcool foi proibido por motivos religiosos. Com a Reconquista espanhola, o país voltou a produzir e a exportar seus vinhos, tendo como principal mercado a Inglaterra.

A partir daí, inúmeros fatores propiciaram importantes mudanças na história da produção de vinhos na Espanha. Um deles foi a expansão do império hispânico nas Américas, que abriu novos mercados após 1492. Outro fato se deu em meados do século XIX, conforme comentamos na matéria intitulada “Bodegas López de Heredia“, quando a epidemia da filoxera se alastrou pela França e levou muitos franceses a abrir negócio na vizinha Espanha, especialmente na região de La Rioja. Nessa ocasião, métodos bordaleses foram implantados, dando início definitivo ao uso de barricas de 550 litros para elaborar seus vinhos tintos e, igualmente, seus brancos. Diga-se de passagem, essa herança francesa deu origem a uma ferrenha tradição de passar vinhos tintos e brancos por barrica, o que muitas vezes escondia sabores e aromas da variedade da uva, por isso, hoje há uma tendência de deixar os vinhos menos tempo sob a influência da madeira para valorizar a fruta.

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Vinícola Lopez de Heredia em La Rioja, Espanha.

Outros fatos expressivos como o retorno à democracia em 1978 e a entrada da Espanha na União Européia em 1986 impulsionaram a indústria vinícola espanhola nas últimas décadas. Novos métodos de plantio, condução e poda nos vinhedos, modernização dos equipamentos nas adegas e, recentemente, o uso da irrigação autorizado por lei em 2003, levaram a um expressivo aprimoramento da qualidade dos vinhos espanhóis que cada vez mais vêm conquistando os enófilos do mundo inteiro.

A Espanha vinícola divide-se em três partes: o Noroeste que inclui as frias terras litorâneas da Galícia e, no interior, Castilla Y León com terras altas e quentes; o Nordeste que abrange La Rioja, Navarra, Aragón, Catalunha e ilhas Baleares; e o Centro e Sul, com as regiões de Castilla La Mancha, Extremdura, Valencia e Murcia, Andaluzia e ilhas Canárias.

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Vinícola Abadia Retuerta na Ribeira del Duero, Espanha.

A legislação vinícola espanhola reformulada em 2003, elevou seu grau de exigências em relação às categorias já existentes e acrescentou duas novas: DO Pago e VCIG. Veja a seguir, a classificação vinícola espanhola vigente:

– Vino de mesa (VdM): esse vinho não pode indicar no rótulo a origem regional, a cepa nem a safra.

– Vino de la tierra (VdlT): semelhante ao “Vin de pays” da França, esse vinho é menos regulado que os DOs e os VCIGs, e é proveniente de área bem mais vasta.

– Vino de Calidad con Indicación Geográfica (VCIG): categoria criada em 2003, inclui os vinhos que apresentam bom desempenho e podem ser promovidos a DO, se mantiver essa condição por, no mínimo, 5 anos.

– Denominación de Origen (DO): semelhante ao vinho francês de “Appellation d’Origene Contrôlée”, esse vinho deve representar o estilo da sua região de origem e seguir as leis locais. Essa categoria é controlada pelo Conselho Regulador e por um Comitê Independente.

– Denominación de Origen Calificada (DOCa): entra nessa categoria o vinho que possuir alta qualidade constante por pelo menos 10 anos.

– Denominación de Origen de Pago (DO Pago): categoria recentemente criada para “premiar” os melhores vinhos de vinícolas com histórico de qualidade e reconhecidamente considerados excelentes.

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De modo geral, os vinhos espanhóis são classificados de acordo com o tempo que passam nas adegas:

– Vino de Denominación de Origen Simples ou Sin Crianza: são os vinhos jovens, sem passagem por barrica, prontos para o consumo.

– Vino de Crianza: vinho que passa um mínimo de 6 meses em barrica e 18 meses em aço inoxidável ou em garrafa, contando um total de dois anos antes de chegar ao mercado.

– Reserva: vinho que passa um mínimo de 12 meses em barrica e 2 anos em garrafa, somando um total de 3 anos antes da venda.

– Gran Reserva: vinho que passa um mínimo de 18 meses em barrica e 3 anos e meio em garrafa e não pode ser vendido antes de 5 anos.

Em relação às cepas, apesar de a Espanha possuir centenas de varietais, somente cerca de vinte cepas entram na elaboração dos vinhos espanhóis. As principais tintas são:

– Tempranillo: essa é a tinta emblemática do País; é destaque na região de La Rioja e em Ribeira del Duero onde é chamada de Tinto Fino; encontrada também na região de Toro onde é chamada de Tinta de Toro, na Catalunha, com o nome de Ul de Liebre e em Castilla La Mancha como Cencibel. Segundo nosso saudoso Saul Galvão, essa cepa é a “marca registrada” dos tintos da Espanha.

– Garnacha: cepa de origem francesa (Grenache), dá corpo e álcool aos tintos; encontrada principalmente na região do Priorato.

– Cariñena: cepa de origem francesa (Carignan), dá vinhos com sabores de ameixas pretas e pimenta do reino; utilizada no Priorato e em La Rioja onde é conhecida como Mazuelo.

– Graciano: cepa que entra em pequenas proporções nos tintos de classe de La Rioja, emprestando-lhes cor e acidez.

– Mencía: cepa clássica da região de Bierzo (Castilla Y León), muito similar à Cabernet Franc.

– Monastrel e Bobal: cepas com significante presença no leste espanhol, na região do Levante (Valencia e Murcia).

Além dessas, tintas como Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec e Pinot Noir entram também na elaboração de muitos tintos espanhóis.

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Vinhedos da Vega Sicilia na Ribera del Duero, Espanha.

Dentre as principais cepas brancas, encontramos:

– Airén: cepa branca mais plantada no país, cultivada principalmente na região de Castilla La Mancha.

– Albariño: conhecida em Portugal como Alvarinho onde entra na elaboração dos famosos vinhos verdes, essa cepa é típica da região de Rias Baixas, na Galícia, e gera vinhos frutados e com boa acidez.

– Macabeo: muito cultivada na Catalunha, essa cepa entra na elaboração do famoso espumante espanhol, o Cava, conferindo-lhe vivacidade e acidez; também chamada de Viura em La Rioja, onde é a mais importante cepa que compõe o corte do Rioja branco, pois dá ao vinho boa estrutura e grande capacidade de envelhecer.

– Parellada: cepa que dá corpo e cremosidade aos Cavas espanhóis; também produz vinhos tranquilos, frutados, com toque cítrico.

– Xarel-lo: cepa importante na elaboração do Cava, dando complexidade e propiciando capacidade de amadurecimento.

– Verdejo: cepa que produz vinhos leves aromáticos e com boa acidez na região de Rueda (Castilla Y León).

– Palomino: essa é a grande uva branca com a qual é elaborado o Jerez, na região de Andaluzia, ao sul da Espanha; o Jerez é um vinho fortificado espanhol e um dos mais antigos vinho finos do mundo.

– Pedro Jiménez: cepa também usada na produção do Jerez, em geral, na versão mais adocicada.

Esperamos que, nesses poucos parágrafos, tenhamos conseguido proporcionar aos nossos leitores uma ideia abrangente do cenário tão peculiar, extenso e complexo que caracteriza a Espanha vinícola.

Encerramos com um pensamento de Saul Galvão que recomenda: “Um bom vinho espanhol deve ter equilíbrio entre a fruta e o paladar da madeira. Esse é um detalhe importante que o consumidor deve lembrar ao avaliar um vinho espanhol.”

Cristina Almeida Prado e Maria Uzêda.

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O movimento conhecido como “Outubro Rosa” nasceu nos Estados Unidos na década de 90 com o intuito de alertar a população sobre o câncer de mama. O movimento é celebrado até hoje, numa dimensão muito mais global, com engajamento de diversas entidades públicas e privadas ao redor do mundo, que buscam promover a conscientização sobre a doença e a importância do diagnóstico precoce.

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De acordo com a World Health Organization, o câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais incidente em mulheres e representou 25% do total de casos de câncer no mundo em 2012, sendo a causa mais frequente de morte por câncer em mulheres. Por isso, mulheres do Brasil e do mundo devem fazer exames regulares, conforme recomendação médica. Esses exames podem ajudar a identificar o câncer antes de a pessoa ter sintomas, quando as chances de cura são muito maiores.

Nós, do blog Sommelière, apoiamos o “Outubro Rosa” e através de nossos canais de comunicação levamos o assunto a nossos leitores, incentivando-os a fazer um acompanhamento de sua saúde e de seus familiares. E tendo como inspiração o mundo dos vinhos, usamos os vinhos rosés como símbolo de nosso apoio a esta causa.

Nem tinto nem branco, o vinho rosé pode apresentar tons que vão desde o laranja-claro ao púrpura vívido, dependendo das uvas utilizadas e da técnica de produção. O vinho rosé pode ser produzido a partir de uvas tintas ou brancas e tintas, mas necessariamente uma das uvas deve ser tinta. Isso porque são os taninos presentes nas cascas das tintas que darão a sua coloração rosada. A diferença na coloração obtida entre tintos e rosés decorre do tempo de contato das cascas com o mosto (suco resultante da prensa das uvas) durante a fermentação. Nos rosés, esse contato é mais curto e suficiente para dar a coloração desejada ao vinho.

O vinho rosé é uma ótima pedida para o verão por ser leve, refrescante e fácil de beber. É também um vinho coringa para harmonizações, podendo ser combinado com uma diversidade de peixes e frutos do mar, carnes brancas e molhos. Os rosés mais famosos do mundo são os da região da Provence, no sul da França. Mas hoje é possível encontrar excelentes exemplares de diversos países produtores.

Deixamos nossa dica de alguns deliciosos rosés para você celebrar a chegada do calor e se engajar à causa do Outubro Rosa:

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Viña Brava Torres Rosado 2013

Produtor: Torres

Cariñena e Garnacha

Catalunya, Espanha

Notas: De coloração rosa vívido, apresenta aromas frescos e frutados de cereja e morango. Em boca é bastante frutado, apresenta elegante acidez, frescor e suave textura.

Preço: R$27,00

www.bodegatorres.es

Lagarde Blanc de Noir 2013

Produtor: Lagarde

50% Malbec, 50% Pinot Noir

Mendoza, Argentina

Notas: De coloração rosada, com reflexos rubis, apresenta aromas delicados com notas de frutas como cereja e framboesa. Em boca, é suave e sedoso, com bom volume e muito refrescante.

Preço: R$49,00

www.lagarde.com.ar

Escuro Rojo

Produtor: Baron Philippe de Rothschild

66% Syrah, 21% Cabernet Sauvignon e 14% Carmenère

Maipo, Chile

Notas: De coloração rosada com reflexos brilhantes. No nariz abre com algumas notas intensas de morangos silvestres frescos e romã, evolui para aromas de groselha e especiarias. Em boca, revela generosos aromas de cereja e framboesa.

Preço: R$69,90

www.bpdr.com

Informações de compra no site da Devinum ou através do e-mail cristina@sommeliere.com.br.

Mais informações sobre o “Outubro Rosa”:

Instituto Nacional do Câncer (INCA)

Instituto Se Toque

Um brinde à vida!

Cristina Almeida Prado e Maria Uzêda.

 

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Para um bom enófilo, abrir uma garrafa de vinho é sempre um momento de prazer, seja para celebrar um acontecimento, para curtir a companhia de alguém, para apreciar sozinho ou relaxar. Mas quando o momento envolver comida e uma boa harmonização for proposta, este poderá ser um momento de êxtase.

Antigamente, em países com tradição na produção de vinhos, as cozinhas locais eram harmonizadas com vinhos locais. Com o advento da globalização, que permitiu espalhar pelo mundo a gastronomia e vinhos de toda parte, foi necessário se aprofundar na química do vinho e comida e a partir daí, se estabeleceram algumas regras para guiar o consumidor na busca pela melhor combinação. Pode-se dizer que uma boa harmonização acontece quando o vinho e a comida forem muito mais interessantes quando desfrutados juntos, do que separadamente.

Em termos gerais, o segredo da harmonização está em entender o equilíbrio entre o peso da comida e do vinho. Vinhos mais encorpados e robustos, como um Cabernet Sauvignon podem sobrepor um prato leve e delicado, enquanto um vinho muito leve, como um Sauvignon Blanc, seria sobreposto por um prato mais pesado. Além do peso, sabores e texturas podem tanto ser combinados quanto contrastados. Assim, a harmonização deve considerar o açúcar, a acidez, o teor alcoólico e os taninos do vinho, e como eles podem ser acentuados ou minimizados quando combinados com certos tipos de comida.

wine and food pairing chart

Fonte: Wine Folly

É interessante notar que numa harmonização nem sempre vinho e comida serão elevados igualmente a seu melhor potencial. Por vezes, um será mais potencializado que o outro, o que significa que ou a comida ou o vinho serão dominantes na harmonização, com o outro servindo como um complemento para elevar o potencial do primeiro. Com relação ao peso e a intensidade, se o foco da harmonização for o vinho, então o casamento adequado será um prato um pouco mais leve em termos de intensidade e peso, de forma a não competir com o vinho, mas não leve demais para que não seja completamente sobreposto. Se a estrela da harmonização for o prato, o mesmo raciocínio deve ser aplicado para a harmonização com o vinho.

Harmonização por peso:

O equilíbrio entre o peso do prato e do vinho é o princípio mais básico a se considerar na harmonização. Nos vinhos, o corpo é determinado pelo nível alcoólico, pela presença de taninos, pelo estágio em barris de carvalho e pela presença de borras. Um Chardonnay de uma região quente (que geralmente produz vinhos mais alcoólicos), que amadurece em barris de carvalho, será mais encorpado que um Chardonnay de região mais fresca (que geralmente produz vinhos menos alcoólicos) fermentado em tanque de inox. Além disso, o manejo das uvas no vinhedo e o estilo do produtor podem influenciar também na estrutura e complexidade do vinho.

O peso da comida também pode ser medido pela intensidade de sabores. A chave está em identificar o sabor dominante do prato. Molhos, por exemplo, podem apresentar sabor dominante a uma carne ou o componente principal. Um peixe branco leve grelhado pode casar bem com um vinho branco leve, por exemplo. Mas se o mesmo peixe for preparado com molho cremoso, pode pedir um vinho branco mais encorpado ou mesmo um tinto leve.

A cor do vinho é também um indício de corpo e peso. Tanto para tintos quanto para brancos, quanto mais intensa a colocarão do vinho, mais encorpado ele será. Um Chardonnay, mais dourado que um Sauvignon Blanc, normalmente será mais encorpado que este último. Assim como um Syrah será mais encorpado que um delicado Pinot Noir, normalmente de coloração mais translúcida.

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Fonte: Wine Folly

Harmonização por semelhança ou contraste:

Após considerar o peso, a harmonização de sabores e texturas pode acontecer de duas formas diferentes: por semelhança ou por contraste. A primeira estratégia tenta combinar vinho e comida de forma a complementar um ao outro. Um terroso Pinot Noir da Borgonha casa bem com um prato de cogumelos. A segunda estratégia trabalha sob a ótica de que opostos se atraem e busca casar vinho e comida que possuam elementos contrastantes. A acidez cortante de um vinho espumante combinada com a rica textura do foie gras é um exemplo da harmonização por contraste. O interessante é que a mesma comida poderá ser harmonizada tanto por semelhança quanto por contraste.

Acidez

A acidez é um componente dominante em qualquer harmonização devido a sua complexa e pronunciada maneira de elevar a percepção dos sabores. Na degustação de vinhos, a acidez é percebida pelo grau de salivação. Quanto maior a acidez, maior a salivação. Em pratos que são mais gordurosos, ricos ou salgados, a acidez no vinho pode cortar o peso do prato, promovendo uma harmoniosa combinação. Por outro lado, a acidez pode ser usada por semelhança, causando a mesma sensação de equilíbrio e permitindo a outros componentes do prato serem notados.

Doçura

A doçura do vinho é medida pela quantidade de açúcar residual restante após a fermentação. Vinhos podem ser de extra secos (com os açúcares totalmente transformados em álcool) a vinhos de sobremesa (com alto nível de açúcar, como um Sauternes ou Tokay). Vinhos doces frequentemente precisam ser mais doces que a comida com que serão servidos. Um cheesecake com um colheita tardia é uma ótima combinação. A doçura do vinho também pode equilibrar pratos com sabores mais picantes, assim como pratos salgados. Experimente um Roquefort com um Sauternes.

Amargor

A adstringência associada ao vinho deriva, normalmente, dos taninos. Os taninos adicionam uma sensação de cica, como se amarrasse a boca. Eles podem elevar o corpo e o peso do vinho. Taninos podem vir das cascas das uvas, das sementes e cabinhos das uvas ou do contato do vinho com a madeira dos barris durante seu amadurecimento. Os taninos reagem com as proteínas. Quando casados com pratos ricos em proteína e gordura (como carne vermelha ou queijos duros), os taninos são “dobrados” pelas proteínas e se tornam mais macios. Um suculento “ojo de bife” com um potente Malbec ou um churrasco uruguaio com um Tannat são combinações típicas muito assertivas. Por outro lado, taninos brigam com pratos temperados, doces ou mais salgados, acentuando a adstringência e empobrecendo os sabores do vinho.

Álcool

O álcool é um dos principais determinantes do corpo e do peso de um vinho. Tipicamente, quanto maior o teor alcoólico, mais corpo terá o vinho. Um aumento no álcool elevará a sensação de densidade e textura. Na harmonização, comidas salgadas e picantes com vinhos de teor alcoólico mais elevado acentuarão e percepção de calor no paladar. Portanto, se for casar um vinho com teor alcoólico mais elevado (com 14,5% ou 15%), certifique-se de que o prato servido seja igualmente pesado e rico em personalidade e evite comidas muito temperadas ou salgadas.

A harmonização entre vinho e comida vai muito além, considerando alimentos ardilosos, mais desafiadores de combinar, ou mesmo a forma de cozimento. Mas não vamos complicar demais. Para tornar seus momentos à mesa ainda mais gostosos, basta ter em mente as regras básicas da harmonização e experimentar.

Bonne chance!

Cristina Almeida Prado.

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Em recente viagem à França, passei alguns dias na encantadora cidade de Avignon, localizada na região da Provence, ao sul do país. Beirada pelo rio Rhône (ou Ródano, em português) e rodeada por campos de lavanda e plantações de vinhas, Avignon esbanja charme e beleza. A pequena cidade murada é bastante conhecida por seus festivais de arte e cultura, mas o que a tornou realmente famosa foi um fato histórico muito curioso e que poucas pessoas conhecem. A cidade fora, outrora, sede da Igreja Católica.

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Cidade de Avignon, França.

Conta a história que em 1309 o Papa Clemente V e sua corte, num momento de turbulência política, fugiram de Roma para a cidade de Avignon, onde a Igreja possuía terras doadas pelo rei dos francos em 756. De 1309 a 1377, sete Papas franceses investiram muito dinheiro, construindo e decorando o palácio papal, que se tornou uma das maiores e mais importantes construções góticas da Europa. Em 1377 o Papa Gregory XI retornou a Roma, mas seu falecimento dois anos depois levou as vertentes francesas e italianas da Igreja a um desentendimento que ficou conhecido como “o grande cisma” e que dividiu a Igreja em duas sedes – Roma e Avignon – sendo que uma não reconhecia a outra. Mesmo depois do “cisma” ser resolvido e um Papa imparcial se estabelecer em Roma (Martin V), Avignon continuou sob comando Papal e assim permaneceu até 1791, quando foi então anexada à França.

O período Papal em Avignon promoveu influências muito positivas à região, como o desenvolvimento da arte de da cultura e o cultivo de vinhas para produção dos vinhos dos Papas. Foi assim que uma pequena vila a 25 km de Avignon foi batizada de Châteauneuf-du-Pape e é hoje reconhecida mundialmente por seus vinhos.

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Durante minha visita, além de conhecer o Palais des Papes e a ponte Saint Bénezet, cartões postais de Avignon, e de me deliciar nos pequenos “bistrôs” de Avignon, me aventurei num passeio ciclístico até a vila de Châteauneuf-du-Pape. Foi uma daquelas experiências que não tem preço. Saímos eu, meu mapa e a bicicleta, sem pressa, num dia fresco com céu azul, sentindo a paisagem ilustrada por campos de papoulas, vinhas por toda a parte e ciprestes. A mesma paisagem um dia retratada por Van Gogh em suas pinturas.

Chegando a Châteauneuf-du-Pape, uma parada numa das diversas lojas de vinhos para conhecer alguns exemplares da região foi mandatória. Ali, degusta-se sem pagar, mas espera-se que o cliente, educadamente, leve uma garrafa. E eu, de bicileta, na difícil tarefa de não carregar muito peso, comprei minha primeira garrafa. Um Chateau Mont Redon Abeille-Fabre Châteauneuf-du-Pape 2009, ótimo exemplar da região.

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A AOC (Appéllation D’Origine Controlée) Châteauneuf-du-Pape, uma das primeiras a serem reguladas na França, permite o uso de 13 diferentes uvas na sua produção. As mais utilizadas, no entanto, são a Grenache, Syrah e Mourvèdre. É possível encontrar vinhos das mais variadas qualidades, mas seus melhores exemplares apresentam boa estrutura, são ricos e cheios de especiarias, podem ser duros quando jovens, mas evoluem excepcionalmente bem.

Segui em busca de uma vinícola para visitar e acabei me juntando a um grupo de turistas ingleses na Ogier, que produz o renomado Clos de L’Oratoire. Além de conhecer a cantina onde seus vinhos são produzidos e as caves onde amadurecem, pude conhecer os diferentes tipos de solo de suas parcelas, representados de forma didática na frente da sede da propriedade, mostrando que cada tipo de solo confere a seus vinhos diferentes características e que quando mesclados, compõem verdadeiras obras de arte.

Ogier-Chateauneuf-du-Pape-vinhos

Encerramos a visita com uma degustação de seus vinhos, podendo entender melhor a influência do terroir no resultado final:

Ogier Châteauneuf-du-Pape Reine Jeanne 2012

Ogier Châteauneuf-du-Pape Expression de Terroir Éclats Calcaires 2010

Ogier Châteauneuf-du-Pape Expression de Terroir Galets Roulés 2010

Clos de L´Oratoire des Papes, Châteauneuf-du-Pape 2012

Dos vinhos degustados, escolhi para levar o Terroir de Galets Roulés, de solo típico da região (pedras roliças).

Assim, com duas garrafas no bagageiro da bicicleta, segui de volta para Avignon, encerrando meu passeio. Após 54 km rodados, o corpo expressava cansaço, mas a alma espelhava um sentimento de felicidade extrema por ter vivido essa experiência. Afinal, é disso que a vida se faz.

Santé!

Cristina Almeida Prado.

 

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Existem cerca de 10 mil tipos diferentes de uvas viníferas, mas apenas algumas delas são comumente usadas por produtores de vinhos mundo a fora. Os amantes do vinho dão muita importância à variedade da uva, e com razão. Além de ser o principal ingrediente do vinho, seus aromas, sabores e caráter dependem em grande parte do tipo de uva de que é feito.

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A expressão “varietal” refere-se ao vinho produzido a partir de um único tipo de uva ou com percentual predominante de um tipo de uva. Um Merlot, por exemplo, é um vinho varietal, assim como um Chardonnay. Para um vinho ser considerado um varietal, o percentual de sua uva predominante deve ser de no mínimo 75%, dependendo das regras da região onde é produzido. Muitas vezes, um percentual pequeno de um segundo tipo de uva é utilizado para proporcionar maior riqueza de aromas, sabores ou mesmo, mais estrutura.

Muitos vinhos provenientes de regiões do assim chamado “Novo Mundo” (basicamente as regiões externas à Europa), são comercializados e vendidos como varietais. Na maior parte da Europa, ao contrário, há regulamentações que especificam as variedades que podem ser usadas em cada região. Um Bordeaux, por exemplo, raramente será um varietal, mas sim, um assemblage (uma mistura de duas a quatro variedades permitidas).

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Vinhedos na região de Champagne, França.

Na Europa, os vinhos são mais conhecidos pelos lugares em que são produzidos do que pela variedade das uvas e frequentemente são assemblages (ou cortes). Assim, apesar de muitos vinhos europeus serem feitos a partir das mesmas variedades produzidas em diversas regiões do Novo Mundo, os rótulos das garrafas ostentarão Borgonha ou Rioja ao invés de Pinot Noir ou Tempranillo e Garnacha. Esta prática não é ilógica como pode parecer, porque os vinhos adquirem o caráter do local onde são produzidos. O solo, clima e a topografia do vinhedo (ou o terroir), são fatores que afetam o paladar das uvas – e tanto é assim que vinhas da mesma variedade podem produzir vinhos espantosamente diferentes, mesmo que sejam vizinhos próximos.

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Vinhedos na região do Douro, Portugal.

Um brinde!

Referência: Vinhos, Le Cordon Bleu

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Em recente viagem à Espanha, tive a oportunidade de visitar a Bodega López de Heredia, uma das três mais antigas da região de La Rioja. Localizada na cidade de Haro, capital da Rioja Alta, ao Norte da Espanha, a Bodega López de Heredia é repleta de história e tradição.

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Na época em que a “philoxera” se alastrou pelos vinhedos da Europa, Rioja foi poupada. Muitos vinicultores franceses vieram para essa região abrir negócio. Don Rafael López de Heredia y Landeta, que falava francês fluentemente, trabalhou com eles por algum tempo. Mais tarde, resolvido o problema da praga nos vinhedos europeus, os franceses retornaram para a França. Foi quando Don Rafael assumiu o negócio e decidiu seguir com os projetos vinícolas, começando a planejar e a construir lentamente o que é hoje a Bodega.

Pouca coisa mudou em 137 anos, desde a sua fundação em 1877. Enquanto novas tecnologias foram sendo adotadas pela maioria das vinícolas locais em busca de modernização, a Bodega López de Heredia tem mantido tradições seculares que a tornaram famosa e respeitada na região. Diferentemente também de muitas vinícolas que compram uvas de variados vinicultores, López de Heredia possui seus próprios vinhedos. A “Vinha Tondonia” é a mais antiga e dá origem ao seu vinho mais conhecido. A Bodega possui mais três vinhedos: “Vinha Bosconia”, “Vinha Gravonia” e “Vinha Cubillo”.

Lopez-de-Heredia-caves-bodegaQuem visita a Bodega López de Heredia pode testemunhar o orgulho com que os guias nos conduzem pelos bastidores da empresa. O passeio se inicia num galpão onde funciona a Tonelaria da Bodega. Um segundo galpão exibe gigantescos barris de fermentação, a antiga prensa e até filtros elaborados com gravetos das videiras, outrora utilizados na filtragem dos vinhos. Em seguida, a guia nos conduz a uma entrada através da qual penetramos num labirinto de quilômetros de túneis subterrâneos, num ambiente úmido, frio, escuro, cheio de mofo e teias de aranha, e cujas paredes estão cobertas por fileiras intermináveis de barricas. É no coração dessas galerias subterrâneas que nascem os incríveis vinhos da Bodega López de Heredia.

A madeira, definitivamente, tem importante papel na Bodega, uma vez que, tanto na fermentação quanto na “crianza”, seus vinhos passam por ela durante longos períodos, seguindo procedimentos totalmente naturais e artesanais. O caráter original e exclusivo dos vinhos lhes rendeu, do Conselho Regulador da DOC Rioja, um “Diploma de Garantia” exibido orgulhosamente no contra rótulo das garrafas. Outra curiosidade é que os brancos passam pelo mesmo tempo de envelhecimento quanto os tintos, e o resultado é surpreendente: brancos majestosos e opulentos.

Após o circuito de visitação que durou cerca de hora e meia, passamos para a sala de degustação para experimentar alguns de seus vinhos:

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“Vinha Tondonia 2002”  Tinto Reserva
Castas: Tempranillo, Garnacha, Graciano e Mazuelo.
Seis anos de barrica e mais seis anos em garrafa.
Notas: vinho de coloração granada com reflexos atijolados, exibe nítidos traços de evolução; no aroma,notas de couro, um toque terroso e um quê de gorgonzola, refletindo os subterrâneos da Bodega; em boca, equilibrado e elegante, taninos finos e longa persistência.

“Vinha Tondonia 1999”  Branco Reserva
Castas: Viúra e Malvasia. Seis anos em barrica.
Notas: vinho de coloração amarelo dourado, exalava aromas de mel; em boca, complexo, marcante e bem agradável, apesar da baixa acidez.

“Vinha Gravonia 2004”  Branco
Casta: 100% Viúra . Quatro anos de barrica.
Notas: vinho de coloração amarelo palha com reflexos dourados; aromas doces de abacaxi bem maduro com um toque cítrico e notas de brioche; em boca, cítrico, encorpado, boa acidez e final longo com toque amendoado. Muito bom! Um branco diferente.

Lopez-de-Herediz-estande-degustaçãoVimos assim, que a elaboração dos vinhos López de Heredia obedece a processos que são verdadeiros acervos de família e que se transmitem de geração a geração. Conforme eles mesmos definem, “há uma mística presente na labuta diária, arraigada na perenidade da tradição e na convicção profunda na validade e vigência de seus métodos”. São vinhos que evoluem lenta e nobremente, carregando consigo promessas de uma vida longa.

Encerramos a visita, impressionados com a solidez e a grandiosidade do espaço construído para abrigar toda sua produção. Essa mega estrutura arquitetônica, também chamada de “Catedral do Vinho”, é fruto do trabalho de sucessivas gerações da família que foram deixando, através dos tempos, a marca de seu esforço, motivados por uma única paixão: o vinho.

Bodega López de Heredia
Avda. Vizcaya, 3. Haro. La Rioja. Espanha.
Site: www.lopezdeheredia.com
Importadora no Brasil: Vinci.

Maria Uzêda.

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