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Archive for the ‘Enoturismo’ Category

Dia 02 – Visita ao Domaine Bouchard Père & Fils

Apesar de ser uma cidade pequena, com apenas 21.300 habitantes, Beaune pede tempo para ser visitada. Entre uma degustação e outra, uma visita à Moutarderie Edmond Fallot, à Fromagerie Allan Hess, ou mesmo passeios guiados de bicicleta pelas redondezas, são algumas das atividades imperdíveis da cidade. Portanto, aproveitar essas descobertas sem pressa é fundamental.

Após conhecer a Moutarderie Edmond Fallot e, claro, fazer umas comprinhas, segui para a visita ao Domaine Bouchard Père & Fils. Fui recebida por Vincent Dupasquier, que compartilhou um pouco da história de seus vinhos e me guiou pela propriedade.

Sede-Domaine-Bouchard-Père-et-Fils-torre-Chateau

Sede do Domaine Père et Fils e uma das torres do século XV do Château de Beaune

Fundada em 1731 em Beaune por Michel Bouchard, Bouchard Pére & Fils é uma das mais antigas propriedades na Borgonha, com quase 300 anos e administrada por 9 gerações. No início, atuavam como négociants, comprando uvas de outras propriedades e vinificando. Ao longo dos séculos foram adquirindo importantes terras pela região, desenvolvendo seu próprio vinho e construindo sua marca. Na época da Revolução Francesa, terras possuídas pelo Clero e pela nobreza foram confiscadas e colocadas à venda. O que foi uma oportunidade para a família Bouchard, que adquiriu, inclusive, as famosas terras de Beune Grèves Vignes de L’Enfant Jesus (as vinhas do menino Jesus, que pertenciam ao Clero).

Em 1820, Bernand Bouchard comprou o Château de Beaune, uma fortaleza real murada construída pelo rei Louis XI no século XV, que se tornou sede da propriedade. Quatro das cinco torres originais da fortaleza ainda estão lá. Suas caves, utilizadas até hoje, ficam a 10 metros de profundidade, o que confere temperatura e umidade ideais para o amadurecimento dos vinhos. A propriedade guarda também uma coleção histórica e única de cerca de 2.000 garrafas de suas melhores safras desde 1846, sendo que, periodicamente, as rolhas são trocadas e as garrafas preenchidas com o mesmo vinho.

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Domaine Bouchard Père et Fils e seus jardins

O Domaine Bouchard Pére & Fils se tornou a maior propriedade na Côte D’Or, com 130 hectares de vinhas, sendo 12 classificados como Grand Crus e 74 Premier Crus. Combinando tradição e inovação, a propriedade oferece uma diversidade de vinhos de respeitadas apelações, como Montrachet, Corton-Charlemagne e Meursault Perrières, por exemplo. Produzem, em média, 7 milhões de garrafas por ano, exportando 52% de sua produção para 57 países.

Em 1995 o domínio foi comprado por um grupo internacional que possui também a marca William Fèvre, em Chablis. Alguns membros da família Bouchard ainda trabalham para a companhia e a tradição e busca contínua pela excelência são mantidos.

Ao final do passeio pela propriedade, conhecendo suas construções históricas, suas caves e seus jardins minuciosamente cuidados, paramos para degustar uma excelente seleção de vinhos da Bouchard Père & Fils e William Frèvre:

Degustação-de-vinhos-Bouchard-Père-et-Fils-Borgonha

-Bourgogne Pinot La Vigne 2012

-Fleurie La Reserve 2012 (Villa Ponciago)

-Beaune du Chateau Premier Cru Rouge 2009 (Bouchard Père & Fils)

-Pommard Premier Cru 2011

-Volnay Caillerets Ancienne Cuvee Carnot 2011 (Bouchard Père & Fils)

-Beaune Grèves Vigne de L’Enfant Jesus 2011 (Bouchard Père & Fils)

-Nuits-Saint-Georges Les Cailles 2011 (Bouchard Père & Fils)

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-Chablis 2012 (William Fèvre)

-Chablis Premier Cru Vaillons 2011 (William Fèvre)

-Chablis Grand Cru Bougros 2011 (William Fèvre)

-Bourgogne Chardonnay La Vignee 2012

-Pouilly-Fuissé 2012

-Meursault Genevrières 2011 (Bouchard Père & Fils)

-Corton-Charlemagne 2011 (Bouchard Père & Fils)

Uma curiosidade sobre as degustações na Borgonha é que, ao contrário do que dizem as regras que normalmente seguimos por aqui, os tintos são degustados antes dos brancos. Talvez pela delicadeza característica dos Pinot Noirs em contraste com a intensidade e potência de seus Chardonnays. Quem sabe? O interessante é que funciona, sem comprometer o paladar.

Assim, fui terminando minha jornada na Borgonha. Foi uma experiência deliciosa conhecer seus vinhos, histórias e gastronomia “in loco”. Espero que tenham aproveitado essas descobertas comigo. E seguiremos para as próximas.

Bouchard Père & Fils

Château de Beaune, 21200, Beaune, France

www.bouchard-pereetfils.com

La Moutarderie

31 Rue Du Faubourg Bretonnière

www.fallot.com

Santé!

Cristina Almeida Prado.

 

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Dia 02 – Visita à Maison Joseph Drouhin

Beaune é uma pequena cidade localizada no coração da Borgonha, a 44 km ao sul de Dijon. É uma cidade murada, com charmosos telhados coloridos, que carrega em sua arquitetura muito de sua história e em seu DNA, a produção de vinhos. Dizem que de toda a França, está entre as melhores cidades para se degustar vinhos. Muitas Maisons estão localizadas na cidade mesmo e é possível fazer um circuito de visitações a pé. Além, claro, de poder desfrutar dos deliciosos restaurantes que oferecem a gastronomia local, como o famoso boeuf bourguignon, regados a uma variedade de vinhos da região em taça.

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Hôtel Dieu dês Hospices de Beaune

Comecei meu segundo dia com um passeio a pé pela cidade, saindo do hotel em que estava hospedada, visitando o Hôtel Dieu dês Hospices de Beaune até chegar à Maison Joseph Drouhin, onde fui recebida por Jacquie Morrison, em uma visita guiada pelas caves da Maison.

A história da Maison Joseph Drouhin tem início em 1880, quando Joseph Drouhin, vindo da região de Chablis, instala-se em Beaune com o intuito de produzir vinhos de altíssima qualidade que levassem seu nome. Na época, atuava como négociant, comprando uvas de pequenos produtores e vinificando seu próprio vinho. Até que seu filho, Maurice, que o sucedeu, começou a comprar terras de excelentes apelações, como Clos de Vougeot e Clos de Mouches. Mas quem deu à Maison a dimensão que possui hoje foi Robert, filho de Maurice, que a partir de 1957 comprou muitas terras com grande potencial para gerar excelentes vinhos. Ele foi o primeiro produtor na Borgonha a produzir vinhos biodinâmicos, o que na época causou muita estranheza entre os demais produtores. Mas no fim, a estratégia acabou sendo seguida por muitos, que usam essa característica inclusive como apelo de marketing.

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Caves Maison Joseph Drouhin, Beaune

A Maison carrega muita história. Suas caves foram construídas utilizando-se de uma arquitetura existente desde os tempos dos romanos, que serviram de base para a presente estrutura. As caves foram usadas também como esconderijo estratégico para os vinhos mais preciosos dos duques da Borgonha e muitas partes das caves foram muradas para proteger esse tesouro dos soldados alemães durante a segunda guerra mundial. Nessa mesma época, Maurice Drouhin, que foi chefe da resistência francesa, foi perseguido pela Guestapo e se escondeu no Hospices de Beaune. Como forma de agradecimento, Maurice doou ao Hospice de Beaune alguns hectares de suas vinhas.

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Caves Maison Joseph Drouhin, Beaune

A Maison é administrada atualmente por Philippe, Véronique, Laurent, e Frédéric, filhos de Robert Drouhin. Com 73 hectares de terras na Borgonha, eles estão entre os maiores produtores da região, chegando a produzir até 3 milhões de garrafas nos melhores anos, sendo que 70% de seus vinhos são Premier Cru e Grand Cru. A nova geração dos Drouhin permitiu à Maison expandir seus negócios para além dos domínios da Borgonha, e produz desde 1988 vinhos na região do Oregon, nos Estados Unidos.

Após uma longa caminhada nos quase 2 hectares de caves, seguimos para uma degustação de seus vinhos:

Maison-Joseph-Drouhin-Degustação-Borgonha

Degustação vinhos Joseph Drouhin

-Joseph Drouhin Gevrey-Chambertin 2009

Gevrey-Chambertin, Borgonha

Notas: Apresentou aromas de frutas negras com notas de pimenta preta e retrogosto de framboesa. Em boca, bom corpo e personalidade. Muito bom!

-Joseph Drouhin Chambolle Mussigny 2008 Premier Cru

Chambolle Mussigny, Borgonha

Notas: Aromas de morangos e framboesas, com notas terrosas e fundo de couro. Em boca, bom corpo e equilíbrio. Muito bom!

-Joseph Drouhin Clos de Vougeot 2008 Grand Cru

Vougeot, Borgonha

Notas: Aromas de frutas negras e vermelhas, com notas de couro e toque terroso. Em boca, bom corpo, taninos marcantes e longa persistência. Excelente!

-Joseph Drouhin Clos de Mouches 1996

Beaune, Borgonha

Notas: Apresentou aromas de frutas vermelhas com notas de couro e toque terroso. Em boca, apresenta um estilo mais rústico, com toque picante e taninos marcantes. Muito bom!

-Joseph Drouhin Gevrey Chambertin 1990 Premier Cru

Gevrey-Chambertin, Borgonha

Notas: Aroma terroso com notas de couro e fundo frutado. Em boca, redondo, elegante, com toques de fruta vermelha madura. Excelente!

-Joseph Drouhin Vaudon Sécher 2010 Premier Cru

Chablis, Borgonha

Notas: Aromas cítricos, lembrando abacaxi. Em boca, boa acidez, equilíbrio, frescor e leveza. Muito bom!

-Joseph Drouhin Saint Véran 2012

Macônnais, Borgonha

Notas: Aromas cítricos, com notas de abacaxi. Em boca, boa acidez, leveza e frescor. Muito bom!

-Joseph Drouhin Clos de La Garrene 2009 Premier Cru

Puligny-Montrachet, Borgonha

Notas: Aromas de frutas brancas maduras, lembrando peras com notas de manteiga e mel. Em boca, ótimo corpo, cítrico, com longa persistência. Está incrível!

-Joseph Drouhin Marquis de Laguiche Morgeot 2011 Premier Cru

Chassagne-Montrachet, Borgonha

Notas: Aromas cítricos com notas amanteigadas. Em boca, ótimo corpo e acidez com toques cítricos. Muito bom.

Conhecer um pouquinho desse império me fez entender mais sobre as riquezas da Borgonha e seus segredos, me deixando ainda mais apaixonada pela região e seus vinhos. Deixo a minha recomendação para os enófilos de plantão, lembrando de agendar a visita com antecedência.

Joseph Drouhin

1 Cour du Parlement de Bourgogne – BP 80029 – 21201 – Beaune

www.drouhin.com

Continue acompanhando.

Santé!

Cristina Almeida Prado.

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Dia 01 – Visita ao Domaine Tollot Beaut

Partindo do Domaine Camus, em Gevrey Chambertin, atravessei toda a Côte de Nuits até chegar a Chorey-lès-Beaune, em Côte de Beaune. Esse é um passeio que vale a pena fazer com calma, apreciando a paisagem, desfrutando dos charmosos bistrôts nas pequenas vilas da região e fazendo algumas paradas nas muitas vinícolas pelo caminho que são abertas ao público sem agendamento prévio. Mas minha agenda já estava programada.

Cheguei ao Domaine Tollot-Beaut após uma rápida parada para almoço e fui recebida pela carismática Nathalie, proprietária da vinícola, que me levou por um passeio pelos vinhedos, pela cantina onde ficam os tanques de fermentação de concreto e pelas caves, onde descansam vinhos em garrafa e em barricas.

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Tanque de fermentação de concreto.

Nos vinhedos já se via movimento. Era quase verão e as vinhas começavam a brotar. Nathalie compartilhou um pouco da história do Domínio Tollot-Beaut, enquanto circulávamos pela propriedade. Em 1880, algumas parcelas foram compradas pela família, que com o passar dos anos, foi adquirindo mais terras pela região. Hoje, o domínio possui 24 hectares entre Chorey-lès-Beaune, Aloxe-Corton, Savigny e Beaune. Nos melhores anos, chegam a produzir até 140.000 garrafas, sendo que 60% de sua produção é vendida para o exterior. Os vinhos das melhores safras podem ser guardados tranquilamente por mais de 20 anos.

Nathalie representa a quinta geração de uma tradicional família produtora de vinhos e junto com seus primos, administra a propriedade, mantendo em altos níveis a reputação do Domaine Tolllot-Beaut. Afirma que, sendo o vinho um organismo vivo, necessita de cuidados constantes, desde o manejo dos vinhedos, com a realização da poda, que garantirá maior concentração de sabores à fruta e a não utilização de fertilizantes, até a colheita manual que permite a seleção das melhores uvas, a vinificação, utilizando-se de métodos tradicionais, e o descanso do vinho em barrica. Para se preservar a fruta e seus aromas, a vinícola passa seus melhores vinhos por até 60% em carvalho novo e 25% para os demais vinhos. O domínio produz vinhos que vão desde apelações regionais, apelações villages, Premiers Crus, até Grand Crus.

Chegando às caves, um interessante ambiente repleto de mofo por toda a parte, o que ajuda na manutenção da umidade do ambiente e na redução da luz para os vinhos em garrafa, abrimos algumas garrafas para degustar.

Domaine-Tollot-Beaut-Borgonha-Vinhos-Corton

Nathalie Tollot e Cristina Almeida Prado

-Chorey-lès-Beaune 2011 (Apellation Village)

Chorey-lès-Beaune, Borgonha

Notas: Apresentou aromas de frutas vermelhas maduras. Em boca, muita fruta, taninos marcantes, bom corpo e um toque um pouco rústico. Muito bom!

-Aloxe-Corton Les Vercots 2011 Premier Cru

Aloxe-Corton, Borgonha

Notas: Aromas intensos de frutas vermelhas maduras. Em boca, muita personalidade com ótima persistência e taninos marcantes. Excelente!

-Corton-Bressandes 2011 Grand Cru

Aloxe-Corton, Borgonha

Notas: Aromas de frutas vermelhas maduras e notas de chocolate. Em boca, elegância, longa peristência e retrogosto e taninos marcantes. Está incrível!

-Chorey-lès-Beaune 2012 (Apellation Village)

Chorey-lès-Beaune, Borgonha

Notas: Aromas de frutas vermelhas maduras e notas levemente herbáceas. Em boca, muita fruta, boa acidez e adstringência. Muito bom.

-Aloxe-Corton Les Vercots 2012 Premier Cru

Aloxe-Corton, Borgonha

Notas: Aromas intensos de frutas vermelhas maduras. Em boca, taninos bem marcantes, bom corpo e acidez. Muito bom!

-Aloxe-Corton Les Fournières 2012 Premier Cru

Aloxe-Corton, Borgonha

Notas: Aromas intensos de frutas vermelhas maduras. Em boca, longa persistência e retrogosto e taninos marcantes. Excelente!

-Aloxe-Corton 2002 (Apellation Village)

Aloxe-Corton, Borgonha

Notas: De coloração rubi atijolado, apresentou aromas de frutas vermelhas maduras com notas de terra e folha molhada. Em boca, frutas com chocolate, boa persistência e taninos aveludados. Delicioso!

A paixão e dedicação desta família pelo vinho se traduzem em produtos de personalidade, que proporcionam aos bons enófilos, momentos de prazer e experiências inesquecíveis.

Para terminar bem o dia, por recomendação de Nathalie, visitei uma queijaria espetacular no centro de Beaune, já bem próximo dali. Essa é uma experiência que vale muito a pena, tendo em vista que a Borgonha é famosa também pela produção de uma variedade de queijos deliciosos. Assim, um belo “queijos e vinhos” no jardim do hotel encerrou de forma poética meu primeiro dia de viagem à Borgonha.

Alain-Hess-Fromager-Beaune-Borgonha

Domaine Tollot-Beaut & Fils

Rue Alexandre-Tollot, 21200 – Chorey-lès-Beaune, France

Alain Hess Fromager

7, Place Carnot, Beaune, France

Novas descobertas nos próximos posts. Acompanhe!

Santé!

Cristina Almeida Prado.

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Dia 01 – Visita ao Domaine Camus

Em viagem recente à França, tive a oportunidade de passar alguns dias na Borgonha, região reconhecida mundialmente por seus vinhos e considerada também um dos centros gastronômicos do país. Uma peculiaridade dessa região é que seus vinhos são monovarietais, ao contrário dos assemblages, que são característicos das demais regiões da França. Na Borgonha, a elegante Pinot Noir é a principal uva tinta produzida e para os brancos, a intensa Chardonnay.

Meu roteiro começou saindo de Dijon, principal cidade da região, localizada ao norte da Côte D’Or, em direção a Gevrey Chambertin até chegar ao Domaine Camus. Fui recebida pela simpática Mademoiselle Camus, proprietária desta tradicional vinícola, que me permitiu conhecer um pouco da história da propriedade e degustar alguns de seus deliciosos vinhos.

Mademoiselle-Camus-Domaine-Gevrey-Chambertin-Borgonha

Cristina Almeida Prado e Mademoiselle Camus

A história do Domaine Camus tem início 1732, quando a família Camus mudou-se para a região e adquiriu cerca de 18 hectares de terra em uma das mais nobres regiões da Borgonha. Na época, a família envolveu-se na produção de óleos feitos a partir de nozes e amêndoas que cultivavam em suas terras e produziam vinho apenas para consumo local. Foi apenas em 1900 que decidiram focar na produção de vinhos, tendo em vista o crescimento e valorização deste negócio na região e a qualidade de seu terroir.

Hoje a propriedade produz vinhos classificados como Village, que levam o nome da comuna, e Grand Cru, a mais alta classificação da Borgonha, e que leva o nome da parcela de onde vieram as uvas. Em bons anos, sua produção pode chegar a 50 ou 60.000 garrafas. As melhores colheitas podem gerar vinhos complexos o suficiente para serem guardados por mais de 50 anos. O domínio guarda ainda garrafas de 1937, safra considerada excepcional e tão histórica que as garrafas ainda eram produzidas “no sopro”, o que lhes conferia um formato irregular. No Domaine Camus, as garrafas levam cápsulas de cera, que são colocadas manualmente, como forma de manter uma tradição de longa data.

Camus-Domaine-Gevrey-Chambertin-Borgonha

A “fût”, como é chamada a barrica na Borgonha, tem capacidade para 228 litros.

Tradição e cuidado traduzem o trabalho do Domaine Camus. A colheita das uvas é feita manualmente. A fermentação de seus vinhos pode durar até 3 semanas para extrair o máximo de sabores e taninos das cascas das uvas. Depois, seus vinhos descansam por cerca de 18 meses em barris de carvalho antes de serem engarrafados.

Após um passeio pela cave, ouvindo as histórias de Mademoiselle Camus, pude degustar alguns de seus vinhos:

Camus-Domaine-Gevrey-Chambertin-Borgonha

2/3 da propriedade do Domaine Camus são de vinhos Grand Cru, mais alta classificação da Borgonha

-Charmes Chambertin Grand Cru 2009

Gervey-Chambertin, Borgonha

Notas: De coloração rubi com reflexos atijolados. Apresentou aromas de morango e frutas vermelhas maduras. Em boca, bastante fruta, bom corpo, taninos macios e muita elegância. Excelente!

-Charmes Chambertin Grand Cru 2005

Gervey-Chambertin, Borgonha

Notas: De coloração rubi com reflexos atijolados, apresentou aromas de frutas vermelhas maduras com notas de couro e chocolate. Em boca, taninos elegantes e acidez equilibrada. Muito bom.

-Charmes Chambertin Grand Cru 1998

Gervey-Chambertin, Borgonha

Notas: De coloração atijolada, com fortes traços de evolução, apresentou aromas de couro, champignon e compota de frutas vermelhas. Em boca, taninos aveludados, boa acidez e retrogosto marcante. Excelente!

E assim começou minha viagem pela Borgonha, com uma calorosa visita, recheada de histórias e bons vinhos. De lá, segui para a próxima vinícola, descendo sentido Beaune e apreciando uma linda paisagem.

Acompanhe nos próximos posts as demais descobertas.

Domaine Camus Père & Fils: 21, Rue Mal de Lattre de Tassigny, 21220 Gevrey-Chambertin, França.

Santé!

Cristina Almeida Prado.

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Viajar e apreciar bons vinhos são as maiores paixões que tenho na vida. Em cada novo destino ou em cada garrafa aberta, há um mundo de descobertas, aprendizados e sensações. Quando as duas coisas se juntam, a experiência é inesquecível. Visitar as regiões vinícolas, conhecer suas características, sua história, seus produtores, entender os cuidados despendidos na elaboração de cada vinho e o impacto deste cuidado no resultado final, compartilhar da angústia por que os viticultores passam a cada ano, esperando que o tempo colabore para que se obtenha o melhor de suas uvas e degustar seus melhores vinhos in loco, personifica este líquido que tanto apreciamos e que guarda histórias que muitas vezes nem imaginamos. Compartilho aqui um desses momentos que nós, do blog Sommelière, tivemos em viagem recente à região de Pomerol, em Bordeaux, na França.

Chateau-Pomerol-Eglise-Igreja

Quando falamos em Pomerol, nossa primeira lembrança é o lendário Château Pétrus, marca conhecida globalmente e um dos vinhos mais caros do mundo. Muito tempo foi preciso até que a região chegasse ao nível de reconhecimento e respeito que tem hoje. Pomerol foi uma região tipicamente de vinhos brancos até finais do século 19, quando os altos preços dos tintos tornaram sua produção mais atraente. Somente em 1936 Pomerol recebeu status de AOC, tendo todas suas regras de produção e vinificação regulamentadas, criando assim uma identidade para seus vinhos.

Em sua história, alguns personagens tiveram um papel muito importante para elevar Pomerol a um patamar internacional:

-Jean-Pierre Moueix, que em meados do século 20 adquiriu algumas propriedades em Pomerol, além de uma participação no Château Pétrus e que foi responsável por diversos esforços para melhorar os processos de produção e divulgar os vinhos da região para o mundo.

-Michel Rolland, consultor de vinhos mais assediado do mundo, que nasceu em Pomerol, possui uma vinícola na região e começou carreira prestando consultoria para muitas das vinícolas na vizinhança.

-Robert Parker, um dos críticos de vinho mais conhecidos no mundo e que muito aprecia o estilo dos vinhos produzidos por Michel Rolland.

Assim, com a excepcional safra de 1982 associada à excelência no trabalho de Moueix e Rolland, às críticas de Robert Parker e um momento histórico favorável, foi possível um grande destaque mundial e o devido reconhecimento a Pomerol.

Dentro da AOC de Pomerol, as principais uvas plantadas são a Merlot, em maior expressão, seguidas pela Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon, que associadas dão a seus vinhos as notas de ameixa madura com taninos aveludados e a expressão sensual tão característica da região.

Em nossa visita à região, tivemos a oportunidade de conhecer de perto o trabalho de duas importantes propriedades que permitem que a paixão que têm pelo negócio transcenda a seus vinhos, proporcionando a milhares de enófilos momentos inesquecíveis de prazer à mesa.

Château Gazin

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Era um feriado, 0 dia estava frio e nublado, mas tivemos uma recepção calorosa. Logo na entrada da propriedade percebemos que ao lado das bandeiras hasteadas da França e União Européia, havia uma bandeira do Brasil. Quem nos recebeu foi o simpático Nicolas de Bailliencourt, um dos proprietários da vinícola.

A história do Château Gazin data do século 18, quando cavalheiros de São João de Jerusalém e da Cruz de Malta ali se estabeleceram e construíram um hospital com o intuito de receber e abrigar os peregrinos a caminho de Santiago de Compostela e é hoje a sede da propriedade. Somente no século 20, as terras foram compradas pela família Bailliencourt que está atualmente na quinta geração produzindo esses grandes vinhos.

O Château Gazin possui 24 hectares de vinhedos e chega a produzir 100.000 garrafas ao ano, dependendo da safra, e cerca de 80% de sua produção vai para o exterior.

Em nossa visita, conhecemos toda sua estrutura de produção, com os tanques de fermentação em concreto e os cellars onde os vinhos descansam por 18 meses em barricas francesas antes de serem engarrafados. Ao final, seguimos para uma degustação:

Chateau-Gazin-vinhos-wines-Pomerol-barricas

Château Gazin 2009

90% Merlot, 7% Cabernet Sauvignon e 3% Cabernet Franc (14,5% álcool)

Aromas de frutas negras maduras, com notas de menta e especiarias. Em boca, corpo cheio, taninos marcantes e retrogosto frutado. Excelente! Pode ser guardado por até 30 anos.

Château Gazin 2004

85% Merlot, 10% Cabernet Sauvignon e 5% Cabernet Franc (13% álcool)

Aroma animal, lembrando couro, com notas de café. Em boca, toque herbáceo, como mate, corpo cheio e taninos mais domados. Pode ser guardado por cerca de 10 anos.

Onde encontrar no Brasil: Mistral (www.mistral.com.br)

Château Clinet

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De lá, seguimos para o Château Clinet e fomos recebidas pela Monique, gerente de negócios, que nos guiou por toda a estrutura de produção da vinícola, assim como pelos vinhedos, nos contando a história da propriedade.

A propriedade em si, produz vinhos há longos anos. Mas sua história como Château Clinet é bem mais recente e data de 1999 quando a família, que já tinha negócios em agricultura e produzia vinhos em outra região, comprou as terras, deixando-as sob responsabilidade de Ronan Laborde, enólogo que tem como característica marcante a busca incessante pela inovação e a expressão do terroir. Os vinhos do Château Clinet, mesmo com a sua ainda jovem trajetória, são reconhecidos mundialmente como símbolo de excelência e traduzem muito bem as características de um Pomerol.

O Château Clinet possui 11 hectares e sua produção chega a 50.000 garrafas ao ano. Seu primeiro vinho descansa por 16 meses em barricas de carvalho francês e Ronan vem fazendo também experiências com carvalho alemão e austríaco. Até 2006 a vinícola contava com a consultoria de Michel Rolland, mas hoje o segredo de sua produção fica por conta de Ronan.

Seguimos para uma degustação, onde tivemos o prazer de ser acompanhados por Monique e Ronan:

Chateau-Clinet-degustação-vinhos-pomerol

Ronan by Clinet 2011

100% Merlot (13% álcool)

Suas uvas são provenientes de diversas regiões de Bordeaux. A proposta é de ser um vinho fácil e mais para o dia-a-dia. Com aromas bastante frutados e notas levemente tostadas, possui bom corpo e taninos aveludados. Fácil de beber e muito bom.

Fleur de Clinet 2011

95% Merlot, 5% Cabernet Franc (14% álcool)

Produzido a partir de uvas de diferentes produtores, apresenta aromas frutados, possui taninos macios e retrogosto persistente. Delicioso! Pode ser guardado por mais 5 anos.

Château Clinet 2011

90% Merlot, 9% Cabernet Sauvignon e 1% Cabernet Franc (13,5% álcool)

Apresenta aromas de frutas negras e notas de baunilha. Em boca, boa adstringência e taninos marcantes. Excelente!

Château Clinet 2012

Aromas de frutas negras e compota. Em boca, corpo cheio, taninos marcantes e muito equilibrado. Muito bom.

Onde encontrar: Grand Cru (www.grandcru.com.br)

Pomerol-grand-vin-de-france-vinhos-bordeaux

Visitar a região de Pomerol e descobrir seus inebriantes vinhos é uma experiência que recomendo aos enófilos de plantão, mas é importante notar que ao contrário do Médoc, região bastante turística com seus grandes Châteaux, em Pomerol os Châteaux mais parecem casas de fazenda e nem sempre é possível encontrar seus nomes na entrada das propriedades. Ali, são poucos os produtores que possuem sala de degustação e apenas alguns estão abertos ao público sem agendamento prévio. Portanto, procure se informar e agendar sua visita com antecedência.

Santé!

Cristina Almeida Prado.

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Vega-Sicilia-viñedos-vinhosUma visita à lendária vinícola Vega Sicilia é um privilégio muito especial concedido a poucos, pois não é aberta ao público, e nós, do Blog Sommelière, tivemos o prazer de viver essa experiência que agora compartilhamos com vocês, nossos leitores e amantes do vinho.
Muito bem recebidas e assessoradas pela simpática Yolanda, iniciamos ali o que seria uma inesquecível “viagem” através da história, da tradição e da arte, alicerces sobre os quais ergueu-se essa famosa vinícola, ícone da Espanha: a Vega Sicilia. Conta-se que a origem do nome vem daquela parcela de terra fértil (Vega) próxima ao rio Douro, habitada em tempos remotos pelos monges sicilianos (Sicilia) que ali já faziam vinho.
Localizada na região de Castilla Y Léon, na área da D.O. Ribeira Del Duero, próxima à cidade de Valladolid, a Vega Sicilia possui cerca de 900 hectares dos quais 200 são cobertos por vinhedos cuja maioria das cepas é de Tempranillo, com uma minoria de Cabernet Sauvignon, Merlot e Malbec que entram na composição do blend de seus vinhos.
Sua história se inicia em 1848, quando a Família Toríbio Lecanda adquiriu as terras do Marquês de Valbuena, uma propriedade utilizada, na época, para atividades agropecuárias. Em 1864, Eloy, filho de Toríbio, fundou a Bodega, dando início às primeiras produções com cepas procedentes da França.
Ao longo dos anos, a vinícola passou por diversos proprietários, sempre mantendo no entanto, uma inquestionável personalidade, produzindo vinhos concentrados, amadurecidos em carvalho, generosos e extremamente elegantes.
vega-sicilia-unico-bodega-vinhosNo início do século XX, a figura do importante viticultor basco, Domingo Garramiola, foi crucial para alavancar os investimentos e aprimorar a qualidade da produção vinícola, focando no estilo que deu origem a um vinho com fruta profunda e perfumada e tremenda persistência. Assim, em 1915, nascem os dois excepcionais vinhos que conhecemos até hoje: o Valbuena e o Único. Foram lançados, não para seguir o simples propósito de se fazer vinho, mas como uma amostra que simbolizasse o Poder. Por isso, sua distribuição inicial não atendia a uma proposta comercial e sim à classe da alta burguesia e à aristocracia.
Em 1929, a Vega Sicilia teve enorme reconhecimento graças ao prêmio de suas safras 1917/1918, recebido por ocasião da grande Exposição Universal de Barcelona.
Em 1982, a Família Alvarez, atual proprietária, compra a Vega Sicilia e investe para modernizar a Bodega e elevar os vinhos a padrões comerciais competitivos.
tonelaria-Vega-Sicilia-viñedos-vinhos-barricaEm nossa visita, seguimos em companhia da Yolanda, percorrendo todos os ambientes correspondentes a cada etapa da produção dos vinhos e ficamos muito impressionados com as impecáveis instalações, a rigorosa higiene e as inúmeras obras de arte elegantemente integradas a vários espaços. Uma das surpresas ficou por conta da Tonelaria que a Família, caprichosamente, montou na década de oitenta para produzir os barris de carvalho americano onde seus vinhos descansam e evoluem por longos períodos. Ela é equipada com modernas máquinas de precisão e tem artesãos treinados e experientes que passam sua sabedoria profissional de pai para filho.

A Vega Sicilia possui também a vinícola de Alión, adquirida em 1991 com a ideia de se fazer um vinho mais moderno com a tradição da região Ribera Del Duero. Além disso, existem vários outros projetos sendo desenvolvidos em outras regiões. Na região da Hungria, por exemplo, em 1993, inicou-se o projeto da Bodega Tokaj Oremus que produz o Tokaji Aszú 5 Puttonyos, um dos vinhos de sobremesa mais nobres do mundo. Na região de Toro, uma das D.O. de Castilla Y León, o projeto da Bodega Pintia tem produzido o Pintia desde 2001. Outro projeto em Rioja, uma “joint venture” com franceses, produz os vinhos Mácan desde 2009.
Para culminar nossa visita, seguimos para a Sala de Degustação, instalada em meio a um belíssimo jardim (um encanto à parte).
Degustamos cinco vinhos:

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1- “Oremus Mandolas” 2011 – Região de Tokaj.
Casta: Furmint
Vinho branco, com 13,5% de graduação alcoólica, passa 7 meses em barrica de carvalho húngaro, com meses “sur lie”. De coloração amarelo palha, possui aromas doces de mel e frutas brancas maduras; em boca muita leveza e frescor, um abacaxi maduro, um toque cítrico e a mineralidade dos solos vulcânicos da região. A alta acidez permite uma guarda de até seis anos.

2- “Pintia” 2008 – Região de Toro.
Casta: 100% Tinta de Toro (denominação da Tempranillo naquela região), 15% de graduação alcoólica.
Vinho que passa por fermentação malolática, envelhece em barricas novas por um ano e aguarda dois anos em garrafa antes de chegar ao mercado. É um vinho de coloração violeta, com aromas de frutas negras; em boca, é redondo e carnudo, com taninos marcantes. Vinho elegante e potente que pede comida.

3- “Vega Sicilia Valbuena” 2009 – Região Ribera del Duero.
Castas: 90% Tempranillo e 10% Malbec, com 14,5% de graduação alcoólica.
Vinho de coloração rubi com reflexos violáceos. No nariz, aromas fechados de início, liberando aos poucos um tostado e um tabaco; em boca, é bem encorpado, mostrando frutas negras, groselha, coco, baunilha e notas tostadas, com taninos bem presentes. Um vinho para ser bebido lentamente e curtido por horas.

4- “Vega Sicilia Único” 2004 – Região Ribera del Duero.
Castas: 85% Tempranillo e 15% Cabernet Sauvignon, com 14% de graduação alcoólica.
Vinho que só chega ao mercado 10 anos após a safra. Possui coloração rubi com reflexos atijolados e bom halo de evolução. No nariz há frutas negras, um toque terroso e notas tostadas. Em boca, frutas negras em compota, bom corpo, taninos bem domados e coco notório. Vinho de guarda: dentro de 20 a 25 anos, haverá sempre um bom momento para se beber esse vinho.

5- “Tokaji Aszú” 2000 – 5 Puttonyos – Região de Tokaji.
Castas: 60% Furmint, 20% Muscat e 20% Harslevelu.
Vinho doce com aromas complexos, predominando o mel; passa três anos envelhecendo e mais dois a três anos em garrafa antes de chegar ao mercado. Em boca, é untuoso, com uma combinação perfeita entre acidez e doçura, e ao final, uma longa e deliciosa persistência. Excelente!

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Após quase quatro horas de visitação, que nem sentimos passar, a verdade é que saímos de lá apaixonadas por um pedaço da Espanha.
O que adoro sobre vinhos é a história que há por trás deles. Por isso posso dizer que o vinho é um produto evocativo. Falar da Vega Sicilia é uma tarefa particularmente complexa, porque ela é muito mais do que uma grande Bodega com seus respeitáveis vinhos. Trata-se de uma empresa que evoca todo um passado, nos remete a uma trajetória que impõe respeito e deve ser exemplo para qualquer país produtor de vinhos.
No Brasil, você pode encontrar os vinhos da Vega Sicilia na Mistral (www.mistral.com.br).

Maria Uzêda

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Se você é um enófilo de carteirinha e está programando uma viagem, crie o hábito de colecionar dicas de reportagens, artigos de revistas especializadas, contatos feitos em feiras e encontros de vinho, que irão norteá-lo rumo a novidades incríveis e experiências inesquecíveis no que diz respeito ao mundo do vinho durante o seu passeio.

Eu, por exemplo, em recente viagem à Alemanha, levei comigo um artigo de Carlos Marcondes publicado na Revista DiVino, intitulado “Vinhos na Terra dos Carros”. O autor referia-se à cidade de Stuttgart que fascina não só pelos museus da Mercedes Benz e da Porsche, como pelos vinhedos urbanos que cercam a cidade. Na reportagem, o autor destaca a familiar vinícola WÖHRWAG como uma das mais renomadas pequenas produtoras de Stuttgart.

Mr. Hans

Mr. Peter Hans e Maria Uzêda

Com essa dica na mala, pude enriquecer minha viagem à Alemanha ao passar pela cidade de Stuttgart. No hotel em que estava hospedada, tratei de me informar sobre a exata localização da Wöhrwag. Com o endereço na mão, o GPS me levou facilmente ao local onde fui muito bem recebida pelo enólogo Hans Peter, marido de Christin Wöhrwag que herdou a tradicional propriedade de seis gerações de viticultores. Surpreso e entusiasmado ao receber uma sommelière brasileira, Hans fez questão de fazer uma cópia da tal reportagem vinda do Brasil.

Com uma produção de aproximadamente 150.000 garrafas, a Wöhrwag oferece ao visitante a oportunidade de degustar mais de trinta variedades de vinhos, dentre eles brancos (weissweine), tintos (rotweine), rosés, espumantes (sekt) e uma fina seleção de vinhos classificados de “Grosses Gewächs”.

VDP

VDP

Estes são as estrelas da casa. O sistema “Grosses Gewachs” foi criado nos anos 90 pela VDP, que é uma associação dos principais produtores alemães proprietários de importantes vinhedos. Para estampar o símbolo na garrafa, o produtor deve utilizar apenas cepas autorizadas e manter a produtividade baixa para destacar a qualidade do vinhedo.

Dos vinhos Wöhrwag degustados, impressionaram-me bastante os VDP:

1- “Herzogenberg Riesling GG” 2011.

2- “Herzogenberg Weissburgunder GG” (Pinot Blanc) 2011.

3- “Herzogenberg Spätburgunder GG” (Pinot Noir) 2009.

Herzogenberg Riesling, Weissburgunder e Spätburgunder  GG

Herzogenberg Riesling, Weissburgunder e Spätburgunder GG

Este último é um tinto alemão respeitável. Passa 18 meses em carvalho francês, é equilibrado, com taninos maduros e aveludados, apresenta notas de tabaco e chocolate. Apesar de pronto para se beber, pode ter guarda de mais 10 anos.

A casa Wöhrwag abre de segunda a sexta, das 8 h às 12 h e 30 min. Aos sábados, abre das 9 h às 14 h.

Casa Wöhrwag

Casa Wöhrwag

Endereço: Grunbacker Strasse, número 5, 70.327, Stuttgart, Untertürkheim

E mail: info@woehrwag.de

Site: http://www.woehrwag.de

Seja um profissional do vinho, seja um enófilo, aquele que faz uma degustação na Wöhrwag sai, com certeza, impressionado com a alta qualidade dos vinhos que a Alemanha é capaz de produzir.

Maria Uzêda

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A região vinícola da Toscana está dividida entre duas grandes áreas que abrangem a costa e as colinas centrais. Na costa, áreas como Bolgheri e Marema são favorecidas pelo clima quente marítimo. Renomados produtores como “Tenuta dell’Ornellaia”, “Tenuta San Guido” e “Tenuta Guado al Tasso”, oferecem vinhos espetaculares, de grande classe e equilíbrio como o famoso Supertoscano “Sassicaia”, ou o “Bolgheri Rosso Superiore”, ou o “Masseto”.
As colinas centrais formam o distrito de maior prestígio da Toscana, concentrando famosas áreas de Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG): Chianti, Chianti Clássico, Carmignano, Montaltino, Montepulciano e San Gimignano.
O coração do Chianti Clássico fica exatamente entre as cidades de Florença e Siena, onde o solo é reconhecidamente o melhor para o cultivo da uva Sangiovese, cepa com a qual se elabora o vinho Chianti. Identificado pela imagem de um galo preto na garrafa, este símbolo garante a autenticidade do vinho Chianti Clássico e indica que passou por rigoroso controle de qualidade.
As enotecas e cantinas espalhadas pela Toscana dão ao visitante a oportunidade de degustar inúmeras opções de vinhos da região. Em Florença por exemplo, a “Enoteca Pinchiorri”, além de uma culinária de inspiração francesa, possui uma excelente adega com uma grande seleção de magnuns (garrafas de 1,5 l) e safras históricas. Nos arredores de Siena, a “Enoteca Italiana”, que fica numa fortaleza medieval (“Fortezza Medicea di Siena), oferece uma coleção de mais de 1100 rótulos, além de ser uma boa fonte de informações locais (www.enoteca-italiana.it). Em Greve in Chianti, além da “Cantine di Greve in Chianti” recomendada em nossa última matéria do dia 07/04, podemos encontrar também a “Enoteca Gallo Nero” com uma respeitável coleção de Chianti Clássico.
Ao sul de Siena, ainda na região da Toscana, existem duas áreas vinícolas muito importantes: Montalcino e Montepulciano. Pelos vales ao redor da cidade de Montalcino espalham-se inúmeros produtores de grandiosos Brunellos. Pode-se dizer que o Brunello de Montalcino é a resposta toscana ao Barolo do Piemonte. Elaborado com a uva Sangiovese de bagos grandes (Sangiovese Grosso), conhecida no local com o nome de Brunello, esse vinho resulta em um tinto encorpado, concentrado, com taninos potentes e final prolongado. Pelas normas, o Brunello é o único DOCG da Toscana 100% Sangiovese e necessita de 4 anos de envelhecimento obrigatórios,sendo pelo menos dois em carvalho. É um vinho para se guardar por décadas.
montalcinoUma versão mais leve do Brunello é vendida como “Rosso di Montalcino”, com menos tempo de envelhecimento, mas não por isso menos adorável. Na cidade de Montalcino você não pode deixar de visitar a Enoteca muito bem instalada no interior da imponente fortaleza medieval (séc. XIV) que domina a paisagem, e se deliciar com os maravilhosos Brunellos.
Das colinas ao redor da cidade de Montepulciano, origina-se o “Vino Nobile di Montepulciano” feito com outro clone da Sangiovese, a “Prugnolo” (ameixa em italiano), resultando em um vinho de cor concentrada, bom corpo, taninos sólidos e boa persistência. Há também uma versão mais leve do Vino Nobile que requer menos tempo de envelhecimento e é vendida como “Rosso di Montepulciano”, muito apreciada e de bom custo/benefício. Esses vinhos podem ser degustados nas enotecas e cantinas da cidade. Recomendo “La Bottega del Nobile”, situada na Via di Gracciano nel Corso, 95, bem no centro de Montepulciano (www.vinonobile.eu), ou ainda a “Enoteca del Consorzio del Vino Nobile di Montepulciano”, na Piazza Grande, 7 (agendamento: enoteca@consorziovinonobile.it).
Não poderíamos encerrar essa matéria sem citar o “Vernaccia di San Gimignano”, único vinho branco DOCG da Toscana. Elaborado com a uva Vernaccia plantada nas encostas ao redor da pitoresca cidade medieval de San Gimignano, é um vinho seco, com sabor de mel e limão e notas de amêndoas. Um produtor confiável ė o Montenodoli.
Para os amantes do vinho, a Toscana é isso: um mar de possibilidades ilimitadas de encanto e prazer.
Maria Uzêda

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ImagePara os enófilos de carteirinha, um passeio pela Toscana pode ser uma experiência ímpar, prazerosa e inesquecível, pois essa é uma região com enorme concentração de competentes, audaciosos e ambiciosos produtores vinícolas.

Na Toscana tudo nos encanta: a paisagem pontilhada pelos ciprestes, as verdes colinas que formam grandes ondulações, as vilas com suas casas de telhados de terracota, as cidades medievais muradas, os castelos vinícolas como o “Vicchiomaggio” e o “ Verrazzano” cheios de história, mas um fato que também nos impressiona é a quantidade incrível de enotecas e cantinas que podemos encontrar nas cidades da região. Muitos desses estabelecimentos estão guarnecidos com a ImageEnomatic que é uma máquina italiana que permite ao cliente fazer degustações de alto nível. A Enomatic possui um sistema de vedação altamente eficiente que garante a integridade do produto, mesmo depois de aberto por vários dias. Na cidade de Greve in Chianti, por exemplo, mais de 140 rótulos podem ser degustados na “Cantine di Greve in Chianti”, graças a essas máquinas e à  profissional e simpática orientação do Felippo, funcionário há anos na loja.Image

Além dos vinhos, você pode também experimentar azeites, queijos e salames, tudo produzido na área. Para isso basta comprar um “wine card” cujo preço varia de 10 a 25 euros que você vai gastando com a degustação dos vinhos ou na aquisição ou consumo de qualquer outro produto da loja.

Quando estive na “Cantine”, Felippo me apresentou um Chianti Clássico Riserva 2007, “Lamole di Lamole” DOCG, do “Vigneto di Campolungo”. Pode-se dizer que esse vinho exemplifica bem toda a exuberância da uva Sangiovese criada no privilegiado “terroir” da Toscana e manuseada com atenção e respeito. De coloração rubi intenso e brilhante, exala os aromas de frutos negros do bosque, com notas de especiarias e taninos aveludados, originando um vinho fresco, elegante e muito agradável.

Outro vinho interessante degustado foi o Supertoscano “Brancaia il Blue” 2007, da Casa Brancaia. Vinho complexo e intenso, elaborado com as uvas Sangiovese, Merlot e um pouco de Cabernet Sauvignon, passou 20 meses em barrica. É conveniente lembrar aqui a respeito do termo “Supertoscano”: usado para designar vinhos de alta qualidade da Toscana, esse nome refere-se àqueles vinhos que, nas décadas de 70/80, ousaram desafiar as regras italianas de denominação de origem controlada, utilizando uvas e métodos não autorizados. Listados entre os melhores vinhos da Itália, hoje alcançam preços bem altos e são supervalorizados.

A surpresa final ficou por conta do “Castell’in Villa”, um Chianti Clássico Riserva DOC “encontrado” em meio às raridades mais antigas da loja. Com safra de 1982, comprei essa estrela para uma homenagem especial que farei a minha filha sommelière que nasceu no ano de 1982.IMG_0891

Conhecida como a maior enoteca do Chianti Clássico, a Cantine di Greve in Chianti fica aberta todos os dias, das 10 às 19 horas, inclusive feriados. Para saber mais, acesse o site www.lecantine.it  ou o e-mail: info@lecantine.it .

Maria Uzêda

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vinicola-speri-italia-lucca-speri Em viagem à Itália, graças a um contato meu feito na última edição da EXPOVINI SP, pude visitar Luca Speri, um dos membros da Família Speri que se orgulha em manter a quinta geração consecutiva no comando dos negócios vinícolas no coração da região da Valpolicella DOC. Luca, recém chegado de viagem aos Estados Unidos, estava atarefadíssimo em seu escritório, por isso pode apenas me cumprimentar e dar as boas vindas. Sua irmã Chiara foi quem me acompanhou em agradável e inesquecível visita.

A vinícola Speri tem sua sede no município de Pedemonte. Donos de 50 ha de vinhedos, produzem cerca de 350.000 garrafas por ano, utilizando exclusivamente uvas de suas terras. Sua produção de vinhos leva em consideração as diferentes características dos vários terroirs da área do Valpolicella Classico, tais como “La Roggia”, “La Roverina” e o excepcional “Vigneto Monte Sant’Urbano”.

O vinho Valpolicella é obtido a partir do corte básico de Corvina, Rondinela e Molinara, segundo a regulamentação da Valpolicella DOC. As versões de mais alta qualidade do vinho Valpolicella (produzidas em menores quantidades) são o Recioto e o Amarone. Eles começam a ser produzidos após um cuidadoso trabalho de seleção manual das uvas que serão então submetidas ao método de secagem chamado na Itália de “appassimento”. Elas secam em estantes ou engradados, em temperatura ambiente, por pelo menos três meses. Ao final, apresentam a metade do seu tamanho original, alta concentração de açúcar e assim, estão prontas para a vinificação.

O Amarone é um vinho tinto encorpado, rico em sabores que lembram geléia de cerejas, doce de ameixa, uva passa, chocolate amargo e especiarias. Seu teor alcoólico atinge frequentemente 15 ou até 16 por cento. É um vinho envolvente, complexo e aveludado.

O Recioto é a versão doce do Amarone, obtida quando a fermentação é interrompida, seja de forma natural ou por interferência externa, resultando em vinho tinto potente e doce, exprimindo sabores intensos de cerejas, ameixas e defumado, com um final levemente amargo.

uva-passificada-vinicola-speri O Valpolicella Ripasso é um vinho que, durante seu processo de vinificação, recebe a adição das cascas não prensadas do vinho Amarone, tendo assim seus sabores mais intensificados e o teor alcoólico aumentado.

A Família Speri tem uma longa história, com fortes raízes na Região da Valpolicella DOC, tornando-se uma referência na produção de vinhos de alta qualidade e um grande intérprete de um dos mais prestigiados vinhos da Itália: o Amarone.

Dessa forma, penso que, ao elaborar até hoje, vinhos a partir de uvas de seus próprios vinhedos, colhidas manualmente, cuidadosamente selecionadas, acompanhando o processo de vinificação em todas as suas fases, da colheita ao engarrafamento, a Família Speri nos comunica através de cada garrafa a emoção que um vinho pode criar, a riqueza de suas terras e os valores de suas antigas tradições.

Maria Uzêda

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