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Archive for the ‘Histórias de Vinho’ Category

Dia 02 – Visita ao Domaine Bouchard Père & Fils

Apesar de ser uma cidade pequena, com apenas 21.300 habitantes, Beaune pede tempo para ser visitada. Entre uma degustação e outra, uma visita à Moutarderie Edmond Fallot, à Fromagerie Allan Hess, ou mesmo passeios guiados de bicicleta pelas redondezas, são algumas das atividades imperdíveis da cidade. Portanto, aproveitar essas descobertas sem pressa é fundamental.

Após conhecer a Moutarderie Edmond Fallot e, claro, fazer umas comprinhas, segui para a visita ao Domaine Bouchard Père & Fils. Fui recebida por Vincent Dupasquier, que compartilhou um pouco da história de seus vinhos e me guiou pela propriedade.

Sede-Domaine-Bouchard-Père-et-Fils-torre-Chateau

Sede do Domaine Père et Fils e uma das torres do século XV do Château de Beaune

Fundada em 1731 em Beaune por Michel Bouchard, Bouchard Pére & Fils é uma das mais antigas propriedades na Borgonha, com quase 300 anos e administrada por 9 gerações. No início, atuavam como négociants, comprando uvas de outras propriedades e vinificando. Ao longo dos séculos foram adquirindo importantes terras pela região, desenvolvendo seu próprio vinho e construindo sua marca. Na época da Revolução Francesa, terras possuídas pelo Clero e pela nobreza foram confiscadas e colocadas à venda. O que foi uma oportunidade para a família Bouchard, que adquiriu, inclusive, as famosas terras de Beune Grèves Vignes de L’Enfant Jesus (as vinhas do menino Jesus, que pertenciam ao Clero).

Em 1820, Bernand Bouchard comprou o Château de Beaune, uma fortaleza real murada construída pelo rei Louis XI no século XV, que se tornou sede da propriedade. Quatro das cinco torres originais da fortaleza ainda estão lá. Suas caves, utilizadas até hoje, ficam a 10 metros de profundidade, o que confere temperatura e umidade ideais para o amadurecimento dos vinhos. A propriedade guarda também uma coleção histórica e única de cerca de 2.000 garrafas de suas melhores safras desde 1846, sendo que, periodicamente, as rolhas são trocadas e as garrafas preenchidas com o mesmo vinho.

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Domaine Bouchard Père et Fils e seus jardins

O Domaine Bouchard Pére & Fils se tornou a maior propriedade na Côte D’Or, com 130 hectares de vinhas, sendo 12 classificados como Grand Crus e 74 Premier Crus. Combinando tradição e inovação, a propriedade oferece uma diversidade de vinhos de respeitadas apelações, como Montrachet, Corton-Charlemagne e Meursault Perrières, por exemplo. Produzem, em média, 7 milhões de garrafas por ano, exportando 52% de sua produção para 57 países.

Em 1995 o domínio foi comprado por um grupo internacional que possui também a marca William Fèvre, em Chablis. Alguns membros da família Bouchard ainda trabalham para a companhia e a tradição e busca contínua pela excelência são mantidos.

Ao final do passeio pela propriedade, conhecendo suas construções históricas, suas caves e seus jardins minuciosamente cuidados, paramos para degustar uma excelente seleção de vinhos da Bouchard Père & Fils e William Frèvre:

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-Bourgogne Pinot La Vigne 2012

-Fleurie La Reserve 2012 (Villa Ponciago)

-Beaune du Chateau Premier Cru Rouge 2009 (Bouchard Père & Fils)

-Pommard Premier Cru 2011

-Volnay Caillerets Ancienne Cuvee Carnot 2011 (Bouchard Père & Fils)

-Beaune Grèves Vigne de L’Enfant Jesus 2011 (Bouchard Père & Fils)

-Nuits-Saint-Georges Les Cailles 2011 (Bouchard Père & Fils)

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-Chablis 2012 (William Fèvre)

-Chablis Premier Cru Vaillons 2011 (William Fèvre)

-Chablis Grand Cru Bougros 2011 (William Fèvre)

-Bourgogne Chardonnay La Vignee 2012

-Pouilly-Fuissé 2012

-Meursault Genevrières 2011 (Bouchard Père & Fils)

-Corton-Charlemagne 2011 (Bouchard Père & Fils)

Uma curiosidade sobre as degustações na Borgonha é que, ao contrário do que dizem as regras que normalmente seguimos por aqui, os tintos são degustados antes dos brancos. Talvez pela delicadeza característica dos Pinot Noirs em contraste com a intensidade e potência de seus Chardonnays. Quem sabe? O interessante é que funciona, sem comprometer o paladar.

Assim, fui terminando minha jornada na Borgonha. Foi uma experiência deliciosa conhecer seus vinhos, histórias e gastronomia “in loco”. Espero que tenham aproveitado essas descobertas comigo. E seguiremos para as próximas.

Bouchard Père & Fils

Château de Beaune, 21200, Beaune, France

www.bouchard-pereetfils.com

La Moutarderie

31 Rue Du Faubourg Bretonnière

www.fallot.com

Santé!

Cristina Almeida Prado.

 

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Dia 02 – Visita à Maison Joseph Drouhin

Beaune é uma pequena cidade localizada no coração da Borgonha, a 44 km ao sul de Dijon. É uma cidade murada, com charmosos telhados coloridos, que carrega em sua arquitetura muito de sua história e em seu DNA, a produção de vinhos. Dizem que de toda a França, está entre as melhores cidades para se degustar vinhos. Muitas Maisons estão localizadas na cidade mesmo e é possível fazer um circuito de visitações a pé. Além, claro, de poder desfrutar dos deliciosos restaurantes que oferecem a gastronomia local, como o famoso boeuf bourguignon, regados a uma variedade de vinhos da região em taça.

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Hôtel Dieu dês Hospices de Beaune

Comecei meu segundo dia com um passeio a pé pela cidade, saindo do hotel em que estava hospedada, visitando o Hôtel Dieu dês Hospices de Beaune até chegar à Maison Joseph Drouhin, onde fui recebida por Jacquie Morrison, em uma visita guiada pelas caves da Maison.

A história da Maison Joseph Drouhin tem início em 1880, quando Joseph Drouhin, vindo da região de Chablis, instala-se em Beaune com o intuito de produzir vinhos de altíssima qualidade que levassem seu nome. Na época, atuava como négociant, comprando uvas de pequenos produtores e vinificando seu próprio vinho. Até que seu filho, Maurice, que o sucedeu, começou a comprar terras de excelentes apelações, como Clos de Vougeot e Clos de Mouches. Mas quem deu à Maison a dimensão que possui hoje foi Robert, filho de Maurice, que a partir de 1957 comprou muitas terras com grande potencial para gerar excelentes vinhos. Ele foi o primeiro produtor na Borgonha a produzir vinhos biodinâmicos, o que na época causou muita estranheza entre os demais produtores. Mas no fim, a estratégia acabou sendo seguida por muitos, que usam essa característica inclusive como apelo de marketing.

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Caves Maison Joseph Drouhin, Beaune

A Maison carrega muita história. Suas caves foram construídas utilizando-se de uma arquitetura existente desde os tempos dos romanos, que serviram de base para a presente estrutura. As caves foram usadas também como esconderijo estratégico para os vinhos mais preciosos dos duques da Borgonha e muitas partes das caves foram muradas para proteger esse tesouro dos soldados alemães durante a segunda guerra mundial. Nessa mesma época, Maurice Drouhin, que foi chefe da resistência francesa, foi perseguido pela Guestapo e se escondeu no Hospices de Beaune. Como forma de agradecimento, Maurice doou ao Hospice de Beaune alguns hectares de suas vinhas.

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Caves Maison Joseph Drouhin, Beaune

A Maison é administrada atualmente por Philippe, Véronique, Laurent, e Frédéric, filhos de Robert Drouhin. Com 73 hectares de terras na Borgonha, eles estão entre os maiores produtores da região, chegando a produzir até 3 milhões de garrafas nos melhores anos, sendo que 70% de seus vinhos são Premier Cru e Grand Cru. A nova geração dos Drouhin permitiu à Maison expandir seus negócios para além dos domínios da Borgonha, e produz desde 1988 vinhos na região do Oregon, nos Estados Unidos.

Após uma longa caminhada nos quase 2 hectares de caves, seguimos para uma degustação de seus vinhos:

Maison-Joseph-Drouhin-Degustação-Borgonha

Degustação vinhos Joseph Drouhin

-Joseph Drouhin Gevrey-Chambertin 2009

Gevrey-Chambertin, Borgonha

Notas: Apresentou aromas de frutas negras com notas de pimenta preta e retrogosto de framboesa. Em boca, bom corpo e personalidade. Muito bom!

-Joseph Drouhin Chambolle Mussigny 2008 Premier Cru

Chambolle Mussigny, Borgonha

Notas: Aromas de morangos e framboesas, com notas terrosas e fundo de couro. Em boca, bom corpo e equilíbrio. Muito bom!

-Joseph Drouhin Clos de Vougeot 2008 Grand Cru

Vougeot, Borgonha

Notas: Aromas de frutas negras e vermelhas, com notas de couro e toque terroso. Em boca, bom corpo, taninos marcantes e longa persistência. Excelente!

-Joseph Drouhin Clos de Mouches 1996

Beaune, Borgonha

Notas: Apresentou aromas de frutas vermelhas com notas de couro e toque terroso. Em boca, apresenta um estilo mais rústico, com toque picante e taninos marcantes. Muito bom!

-Joseph Drouhin Gevrey Chambertin 1990 Premier Cru

Gevrey-Chambertin, Borgonha

Notas: Aroma terroso com notas de couro e fundo frutado. Em boca, redondo, elegante, com toques de fruta vermelha madura. Excelente!

-Joseph Drouhin Vaudon Sécher 2010 Premier Cru

Chablis, Borgonha

Notas: Aromas cítricos, lembrando abacaxi. Em boca, boa acidez, equilíbrio, frescor e leveza. Muito bom!

-Joseph Drouhin Saint Véran 2012

Macônnais, Borgonha

Notas: Aromas cítricos, com notas de abacaxi. Em boca, boa acidez, leveza e frescor. Muito bom!

-Joseph Drouhin Clos de La Garrene 2009 Premier Cru

Puligny-Montrachet, Borgonha

Notas: Aromas de frutas brancas maduras, lembrando peras com notas de manteiga e mel. Em boca, ótimo corpo, cítrico, com longa persistência. Está incrível!

-Joseph Drouhin Marquis de Laguiche Morgeot 2011 Premier Cru

Chassagne-Montrachet, Borgonha

Notas: Aromas cítricos com notas amanteigadas. Em boca, ótimo corpo e acidez com toques cítricos. Muito bom.

Conhecer um pouquinho desse império me fez entender mais sobre as riquezas da Borgonha e seus segredos, me deixando ainda mais apaixonada pela região e seus vinhos. Deixo a minha recomendação para os enófilos de plantão, lembrando de agendar a visita com antecedência.

Joseph Drouhin

1 Cour du Parlement de Bourgogne – BP 80029 – 21201 – Beaune

www.drouhin.com

Continue acompanhando.

Santé!

Cristina Almeida Prado.

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Falamos esta semana de Borgonha, região produtora de vinho da França que tem a uva Pinot Noir como protagonista de seus tintos. Esta uva é a responsável por famosos vinhos como o Romaneé Conti, o Chambertin e todos os tintos da sub-região de Cotes D’Or. É também uma das uvas utilizadas na produção do Champagne.

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A Pinot Noir é uma uva de pele fina e com pouco tanino, que gera vinhos sedutores e elegantes. Essa uva é bastante sensível ao terroir e em condições climáticas muito quentes, pode amadurecer muito cedo e não desenvolver as riquezas de sabores e aromas característicos da variedade. Vinhos produzidos a partir da Pinot Noir apresentam aromas de morango, cereja, framboesa; e quando amadurecem em barris de carvalho, podem apresentar aromas de origem animal, como couro e adubo ou aromas de chocolate e especiarias.

A Pinot Noir tem sido plantada em várias regiões do mundo, apresentando, por vezes, estilos bem diferentes. Fora da Borgonha, ela se deu muito bem em regiões como Marlborough na Nova Zelândia, em Casablanca no Chile e em Sonoma, nos Estados Unidos.

Há poucos dias, fui surpreendida por um Pinot Noir californiano de um produtor boutique, de uma região pouco conhecida por nós, chamada de Santa Rita Hills, em Santa Bárbara. Diz a lenda que o nome da região veio em consideração à famosa vinícola chilena, Santa Rita, que bem conhecemos por aqui. Mas a verdade é que essa é uma região que despontou recentemente para a produção vinícola e tem como característica um clima litorâneo, com invernos mais suaves e verões frescos, ideal para o cultivo das variedades borgonhesas, como a Pinot Noir e a Chardonnay. E o resultado, é bastante surpreendente.

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Lincourt Lindsay’s Pinot Noir 2012

Produtor: Lincourt

Região: Santa Rita Hills, Santa Bárbara

País: Estados Unidos

Notas: De coloração vermelho rubi com reflexos violáceos, apresentou uma riqueza de aromas, como cerejas e framboesas de início e após algum tempo, apresentou notas de chocolate com um leve toque mentolado. Em boca, mostrou-se um Pinot Noir bastante estruturado, com ótima complexidade e personalidade.

Preço: R$99,00

Onde Comprar: Sonoma (clique)

Deixo aqui a minha recomendação de um excelente Pinot Noir californiano. Vale experimentar!

Um brinde!

Cristina Almeida Prado.

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O mundo dos vinhos conta histórias fascinantes de personagens que realizaram grandes feitos, deixaram suas marcas e que até hoje são lembrados e celebrados. Na semana passada, nós do blog Sommelière, tivemos a oportunidade de nos encontrar com Sebastien Nore (Diretor de Vendas Global) e Thibaut de Braquilanges (Gerente de Exportações), da Baron Philippe de Rothschild. Este feliz encontro nos permitiu conhecer mais sobre a trajetória desta gigante companhia, seus personagens heróicos e suas conquistas.

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Símbolo da família Rothschild: cada seta representa um dos filhos de Mayer Rothschild.

A história da família Rothschild tem início no século XVIII numa Alemanha ainda não unificada, com Mayer Amschel Rothschild, homem de negócios bem sucedido especializado em troca de moedas. Mayer teve 5 filhos, preparou-os com seus conhecimentos e os enviou cada um para um centro comercial europeu: Londres, Paris, Nápoles e Viena, e o quinto filho permaneceu na Alemanha. Rothschild, que significa escudo vermelho, viria a se tornar um reconhecido nome de família, ligado a banqueiros e homens de negócios, com forte influência nas cortes e governos por toda a Europa.

Um dos filhos de Mayer, Nathan, que vivia em Londres, mudou-se para Paris e em 1853 decidiu comprar uma vinícola para poder servir seu próprio vinho a seus ilustres convidados. Foi então que comprou um Château em Bordeaux, o qual chamou de Château Mouton Rothschild. Nathan, no entanto, nunca se envolveu na produção vinícola ou mesmo teve interesse em tornar seus vinhos comerciais. Foi somente com seu bisneto, Philippe Rothschild, já no século XX, que a história do Château viria a mudar de curso.

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Château Mouton Rothschild

Philippe Rothschild adquiriu o Château e criou sua própria empresa em 1933, a Baron Philippe de Rothschild. Sua busca contínua por qualidade e sua habilidade com negócios permitiram o sucesso de sua empresa. Philippe teve um papel muito importante no mundo dos vinhos e um de seus feitos históricos foi a iniciativa de engarrafar seus vinhos no próprio Château, coisa que na época era feita pelos négociants. Logo, inúmeros Châteaux seguiriam sua ideia.

Philippe foi responsável por garantir os mais altos padrões de produção para o Château Mouton Rothschild, o que lhe permitiu em 1973 alcançar o título de Premier Cru Classé. Foi também o idealizador dos criativos rótulos personalizados com obras de artistas contemporâneos para o Château Mouton Rothschild, cujas artes originais podem ser encontradas no Museu de Arte do Vinho no Château. Além disso, foi o criador do Mouton Cadet, o primeiro vinho regional de Bordeaux, que associado ao prestígio do Château, se tornou mundialmente conhecido.

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Primeiro rótulo a levar o título de Premier Cru Classé

Com o falecimento de Philippe em 1988, sua filha, a Baronesa Philippine, assumiu a companhia, dando continuidade ao legado de seu pai. Philippine permitiu a expansão do portifólio da companhia, que passou a trabalhar uma gama de vinhos para uma diversidade de públicos. A companhia firmou, inclusive, uma parceria com a Mondavi Wines e com a Concha y Toro, passando a produzir vinhos também na Califórnia (o renomado Opus One) e no Chile (o premiado Almaviva e o Escudo Rojo). Em 2012, sua produção total atingiu 25 milhões de garrafas.

Mas nas últimas semanas, o mundo dos vinhos chorou a morte de Philippine, personagem carismática e muito estimada, que tanto contribuiu para tornar as mesas dos enófilos mundo a fora, mais viva. Sebastien nos afirma que, com seu falecimento, a companhia pretende dar sequência ao trabalho desenvolvido, mantendo o espírito da família, sua tradição e cultura.

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Baronesa Philippine de Rothschild

Se você pretende fazer uma visita ao Château Mouton Rothschild, a recomendação de Thibaut é procurar com antecedência uma agência local. As visitas incluem um tour guiado pelo Château, degustação de seus rótulos e visita ao Museu da Arte do Vinho. Você pode se informar diretamente no Office de Tourisme de Bordeaux.

Agradecemos a Baron Philippe de Rothschild e a Devinum por nos conceder esta entrevista exclusiva.

Um brinde a Philippine!

Cristina Almeida Prado.

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A história dos vinhos da Borgonha remonta a 2.000 anos, com registro de relatos sobre produção de vinhos que datam de 312 D.C. A presença dos monges constatada a partir de 500 D.C. é associada ao cuidado com a terra, à seleção das melhores parcelas e à escolha de castas apropriadas à região. Nos séculos XIV e XV, os Duques de Borgonha têm enorme influência no incentivo ao aperfeiçoamento do vinho, na sua comercialização e divulgação por toda Europa.

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Mais tarde, com a Revolução Francesa, não só a nobreza como também a burguesia tornam-se proprietárias de terras. Na época, o código napoleônico, com suas leis de sucessão, determinava que as terras fossem divididas igualmente entre os herdeiros. Assim, as propriedades foram se dividindo cada vez mais e os vinhedos ficaram bem reduzidos, formando um verdadeiro mosaico de inúmeras pequenas parcelas de terras. Por isso, o conceito de propriedade na Borgonha é diferente do resto do mundo.

Com vinhedos tão fragmentados, os produtores e os négociants (comerciantes) são obrigados a comprar vinhos de propriedades vizinhas e a vinificar e comercializar vinhos de variadas origens. Se você pensa em comprar um Borgonha, é essencial conhecer os bons négociants da região, assim como os produtores de renome. Ou seja,na Borgonha, vale muito mais o nome do produtor ou do négociant que aparece no rótulo, do que a indicação da origem.

Localizada no Sul de Champagne e a Sudeste de Paris, a região da Borgonha é constituída de sub-regiões que compõem as seis AOC, que são: Chablis, ao Norte, Côte de Nuits e Côte de Beaune que formam a famosa Côte D’Or (Colina Dourada), Côte Chalonnaise e Mâconnais e, na extremidade Sul, Beaujolais.

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As principais uvas vinificadas na Borgonha são a Pinot Noir, utilizada na maioria dos vinhos tintos da região, a Gamay, cultivada em Beaujolais e a branca Chardonnay, empregada na elaboração de praticamente todos os vinhos brancos. Vale aqui citar o cultivo da uva Aligoté na comuna de Bouzeron, em Côte Chalonnaise, que produz um vinho branco ácido famoso, pouco aromático, refrescante e de corpo leve que harmoniza muito bem com peixe.

Solos calcários são excelentes para o cultivo da Chardonnay, enquanto nos solos que misturam argila e calcário a Pinot Noir se dá muito bem. O solo granítico favorece o plantio da uva Gamay. Dessa forma, os vinhedos da Borgonha estão distribuídos de forma adequada ao tipo de solo.

Os vinhos da Borgonha são, hierarquicamente, classificados em Regional (Vin de Bourgogne), Village (levam o nome da comuna), Premier Cru (levam o nome da parcela) e Grand Cru, os quais respondem respectivamente por 53%, 30%, 15% e 2% de toda a produção vinícola da Borgonha.

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Vinhedos Nuits-St-Georges, Borgonha

Chablis é a sub-região dos famosos vinhos brancos feitos exclusivamente com a uva Chardonnay. Os Chablis são vinhos sublimes: secos, metálicos, ricos, de ótima acidez, mistura de fruta madura com toque mineral. Alguns produtores de destaque são: Bernard Billaud, Jean-Paul e Benoït Droin, Michel Laroche, Vincent Dauvissat, William Fèvre e Jean-Marc Brocard. A cooperativa La Chablisienne é uma boa dica para quem procura por um Chablis de qualidade a preço acessível.

A Côte de Nuit, conhecida como o ponto nobre da Borgonha, concentra o maior número de vinhedos Grand Cru, produzindo assim os melhores tintos da região. Os amantes dos Borgonhas afirmam que em nenhum outro lugar do mundo a Pinot Noir se mostra tão rica, elegante e sedutora. Suas AOCs mais conhecidas são: Gevrey-Chambertin, Vosne-Romanée, Vougeot, Chambole-Musigny, Marsannay, Morey-St-Denis e Nuits-St-Georges. São produtores confiáveis dessa região: Charles Rousseau, Bruno Clair, Jean-Claud Boisset, Denis Mortet, Louis Jadot, Méo-Camuzet, entre outros.

Côte de Beaune produz vinhos tintos de variados estilos e excelentes brancos. Fora de Chablis, é o único lugar da Borgonha que produz brancos Grand Cru. O único Grand Cru tinto é o magnífico “Corton” cujo produtor é responsável também pelo magistral Grand Cru branco “Corton-Charlemagne”. De Pommard originam-se os tintos mais rústicos da região. Mersault, uma grande vila conhecida pelos brancos excepcionais, possui vários Premiers Crus e inúmeros brancos de características únicas. De Puligny-Montrachet e Chassagne-Montrachet saem os vinhos brancos mais famosos do mundo. Alguns produtores da região, estão entre os melhores da Borgonha e são bem conhecidos pela alta qualidade constante de seus vinhos: Domaine Drouhin, Domaine de Comtes Lafon, Domaine de la Romanée-Conti, Domaine Jaques Prieur e Laflaive.

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Prensa e tanques de fermentação Domaine Camus – Gevrey Chambertin

A Côte Chalonnaise possui cinco principais “appellations”: Bouzeron que produz vinho branco com a uva Aligoté; Rully que produz o espumante “Crèmant de Bourgogne” e onde a maior parte dos vinhos é produzida por négociants como Olivier Laflaive, Antonin Rodet e Domaine Druhin; Mercurey que oferece muitos tintos robustos e frutados de qualidade; Givry produz elegantes tintos de Pinots e aromáticos Chardonnays; e Montagny que dedica-se aos brancos de Chardonnay.

Mâconnais é uma região conhecida pela grande produção de vinhos brancos de uva Chardonnay. Sua principal “appellation” é Puily-Fuissé cujos vinhos são sempre brancos fabulosos e possuem preços geralmente inflacionados.

Por último, temos a região de Beaujolais com características e estilo de vinho bem distinto das outras. Nos solos graníticos, são plantados vinhedos de uva Gamay com as quais são elaborados todos os vinhos Beaujolais. São classificados em Beaujolais Nouveau, Beaujolais Village e Beaujolais Cru com dez AOCs (St.-Amour, Juliénas, Chénas, Moulin-à-Vent, Fleurie, Chiroubles, Morgon, Régnié, Brouilly e Côte de Brouily). O maior négociant de Beaujolais é Georges Duboeuf, além de outros como Jean Calot, Louis Jadot, Jean-Paul Brun e Jean-Marc Burgaud.

O fenômeno do Beaujolais Nouveau surgiu por volta dos anos 60, quando os produtores disputavam para ver quem conseguia fazer chegar primeiro, aos bistrôs e distribuidores, seus vinhos recém lançados. Assim é a “corrida anual do Beaujolais” em que ele é vinificado e engarrafado o mais rápido possível, e comercializado logo na terceira semana de Novembro, antes de primeiro de janeiro. Por isso carrega a reputação de vinho popular, agradável, sem grandes pretensões, puro frescor e fruta vívida.

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A charmosa cidade de Beaune, capital do vinho na Borgonha

Esperamos que esse ligeiro relato o ajude a entender um pouco mais sobre a Borgonha, considerada uma das regiões vinícolas mais confusas do mundo.

Se você planeja ir à França e não terá tempo de visitar a região da Borgonha, saiba que em Paris, na Place des Vosges, o Bistrô “Ma Bourgogne” oferece uma ampla variedade de vinhos da Borgonha, um verdadeiro templo para os admiradores de Bacco.

Bonne chance!

Maria Uzêda.

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Localizada na Europa Central, na planície da Panônia, sem saída para o mar, a Hungria possui uma história repleta de sucessivos períodos de ocupação, diversos regimes de governo e algumas revoluções, que afetaram diretamente a história da atividade vitivinícola do país. Alternando entre auge e queda através dos tempos, hoje os viticultores da Hungria vêm recuperando aos poucos a glória antiga, quando seus vinhos abasteciam todo o Império Austro-Húngaro.

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A Hungria possui sete principais regiões vinícolas e conta com inúmeras cepas com nomes bem complicados como as tintas Kékfrancos (Blaufränkisch) e Kadarka (autóctones), Kékoportó (Blauer Portugieser) e as brancas Furmint, Olasz Rizling (Riesling Itálico usada na maioria dos espumantes brasileiros), Hárslevelú, Zénite, Szürkebarát (Pinot Gris), Ezerjó, além das conhecidas Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc.

tokaji-aszu-vinho-dos-reis-hungriaSeu melhor e mais famoso vinho é o Tokaji Aszú. Proveniente da região de Tokaj Hegyalja, a nordeste do país, o Tokaji Aszú é um vinho branco deliciosamente doce e sensual, produzido com uvas afetadas por botrítis (botrytis cinerea), uma espécie de fungo que consome e reduz a água contida nas uvas, desidratando-as e concentrando assim os níveis de açúcar, acidez, viscosidade e sabor. Entra na sua elaboração a uva Furmint em maior proporção, que confere ao vinho estrutura e acidez, com pequenas partes de Hárslevelú e Muscat Blanc à Petits Grains (Muscotály).

Específicas condições climáticas são essenciais para que a botrítis, também chamada de “podridão nobre”, ocorra. Nos morros vulcânicos que circundam a cidade de Tokaj, onde os rios Bodrog e Tisza se unem, a precisa combinação das enevoadas manhãs frias e úmidas de outono com as tardes quentes e ensolaradas favorece a formação dos fungos que perfuram a pele da fruta, mas deixam a polpa intacta. Essa é a magia desse vinho declarado “vinho dos reis e rei dos vinhos” por Luis XIV, em meados do século XVII.

De acordo com o grau de doçura, os vinhos Tokaji Aszú recebem uma classificação que vai de 3 a 6 Puttonyos. O nome “puttony” refere-se às tinas portáteis usadas para carregar as uvas botritizadas. Vinte litros de pasta de uvas botritizadas equivalem a um Puttonyo. Quanto mais Puttonyos adicionados ao vinho base, mais doce é o vinho resultante. Acima do Tokaji Aszú, há uma versão ainda mais doce chamado Aszú Eszencia que é muito raro e muito caro.

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A Hungria também produz vinhos brancos secos, principalmente com a uva Furmint. Esses vinhos, em geral, apresentam caráter intenso, com sabor de maçã verde (nozes e mel quando envelhecidos).

Outra região importante denominada Eger produz o Bikavér (conhecido como sangue de boi), vinho tinto muito consumido no país e que atende bem ao paladar húngaro. Atualmente, novas regras estabelecem para esse vinho origem, safra e tempo mínimo de carvalho, visando melhorar a qualidade.

Apesar dos inúmeros revezes por que passou, a Hungria vem, cada vez mais, ganhando mercado e tem oferecido boas opções de vinhos para os enófilos entusiastas, mas nada se iguala ao seu maravilhoso vinho doce, detentor de tal importância para o país que é citado no Hino Nacional. Como podem ver, amigos leitores, esse é um vinho que se deve degustar pelo menos uma vez na vida.

Maria Uzêda.

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Nascida em 16 de dezembro de 1777, na cidade de Reims, Barbe-Nicole era a filha mais velha de Nicolas Ponsardin e Jeanne-Clémentine. Nicolas administrava negócios ligados à indústria têxtil fundados por seu pai. Naquela época, a principal economia da região de Champagne ainda nem era o champagne. A produção de tecidos e vestuário tornou Nicolas Ponsardin um homem rico muito influente, possuindo inclusive certa facilidade para frequentar os palácios e circular entre a nobreza da França. Sua ambição e envolvimento com a realeza o levou a gastar uma enorme quantia na construção de sua mansão, instalada no coração do importante centro comercial de Reims, em estilo extravagante, associado a Luis XVI. Rodeada por luxuoso jardim, foi aí que Barbe-Nicole passou sua infância ao lado de seus irmãos. Dessa maneira, Barbe-Nicole viveu sua juventude à sombra de seu pai, o grande empresário têxtil.

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Barbe-Nicole tinha 11 anos quando a Revolução Francesa estourou. O período que vai de 1789 a 1799 foi de intensa agitação política e social na França inteira. E foi nesse clima que Barbe-Nicole se casou em 1798, aos 20 anos de idade, com François Clicquot, herdeiro da Maison Clicquot-Muiron. Curiosamente, o casamento foi celebrado com discrição e em segredo numa adega subterrânea e, diga-se de passagem, nenhum outro local teria sido mais adequado para celebrar um casamento que mudaria a história do vinho. Até o momento de sua união com François, ela não tinha conexão pessoal alguma com o champagne do qual o nome Clicquot um dia seria sinônimo.

Os recém casados receberam de Nicolas uma grande fazenda, dois moinhos de vento e uma boa quantia em dinheiro. Philippe, o sogro, deu a eles mais capital, um bosque em Quatre-Champs e extensos campos em Tours-sur-Marne e Bisseuil, excelentes propriedades no coração do país do vinho francês. Tinham assim, recursos para sonhar, e sonharam com vinhos desde o começo.

Tal qual o sogro, François possuía grande habilidade para os negócios, além de ser profundo conhecedor do ramo dos vinhos. Barbe-Nicole costumava lhe fazer companhia em suas andanças pelos vinhedos e em suas viagens de negócios por diversas cidades européias. Em 1805, a empresa já exportava cerca de 110.000 garrafas por toda a Europa. Nesse ano, tendo contraído uma febre infecciosa, François morreu subitamente, deixando Barbe-Nicole viúva aos 27 anos de idade.

Veuve-Clicquot-champagne-bottle-sommeliereRecusando-se a fechar a empresa do marido conforme os planos de seu sogro, Philippe, Barbe-Nicole tomou a decisão de assumir os negócios de seu falecido marido, mesmo sem treinamento ou experiência anterior. De início, associou-se prudentemente a um empresário que entendesse de comercialização de vinhos. Aos poucos, ela foi familiarizando-se com as operações de compra e venda, e aprofundando seus conhecimentos a respeito de plantio de uvas e elaboração de vinhos. Dessa forma, em pouco mais de uma década, ela conseguiu transformar o pequeno negócio de vinhos de família na mais importante casa de champagne do século XIX.

O início daquele século trouxe a era napoleônica e com ela as guerras, restrições econômicas e bloqueios comerciais por terra e por mar que dificultaram demais a vida do inimigo, mas, em contra partida, atingiram diretamente os comerciantes franceses, trazendo sérias consequências ao setor dos vinhos.

Enfrentando complicados tempos políticos e incontáveis revezes financeiros, com firmeza, astúcia e perseverança, Mme. Clicquot tornou-se uma das mais ricas mulheres de seu tempo. Mas faltava-lhe ainda vencer a batalha pela qualidade.

remuage-champagne-veuve-clicquotDe sua inquieta busca por um produto melhor, nasceria o “remuage”, uma suave rotação semanal por que passam as garrafas de champagne durante a segunda fermentação. Após várias experiências, ela viu que as garrafas deveriam permanecer levemente inclinadas, permitindo assim que os resíduos se concentrassem no gargalo. Após um resfriamento controlado, esse líquido congelado do gargalo era removido, resultando numa bebida de limpidez absoluta. Essa, com certeza, foi a maior contribuição de Mme. Clicquot à história dessa incomparável bebida.

Aos 40, Mme. Clicquot já era uma das mais ricas e mais celebradas mulheres de negócio em toda a Europa. Por muitos anos, ela liderou o império comercial internacional do champagne. Ela foi, de fato, uma mulher revolucionária, pois abriu novos horizontes para as mulheres no mercado de trabalho, quebrando estereótipos e tradições sociais machistas. A ela seguiram-se a viúva Louise Pommery, Lily Bollinger e Mathilde-Émile Laurent-Perrier. Ainda hoje, a casa de Champagne Veuve Clicquot Ponsardin é tocada por uma mulher, Mme. Bennefond, desde 2001.

Quando ela faleceu aos 89 anos, era ainda mais milionária do que quando nasceu. Mas o legado que ela deixou é imensurável. Hoje quando pensamos em champagne, pensamos em Veuve Clicquot. A garrafa do rótulo laranja está presente no mundo inteiro, para nossa felicidade.

Veuve-Clicquot-brinde-champagne

Espero que esse breve relato sirva de subsídio a nossos estimados leitores, para ampliar seus conhecimentos ligados ao champagne, encorajando-os a se aprofundar um pouco mais, a espoucar outras garrafas e a degustar mais vezes a “bebida dos reis”. Afinal de contas, esse é um vinho convidativo e caloroso para um aperitivo entre amigos, festivo para um aniversário, uma vitória ou um réveillon, romântico para um jantar íntimo, solene para um casamento, enfim, ele simboliza alegria, festa e celebração.

Um brinde à vida!

Maria Uzêda

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Além de mandar muito bem no futebol, a Alemanha também produz vinhos de altíssima qualidade e é possível encontrar, cada vez mais, bons exemplares no mercado brasileiro.

riesling-uva-alemã-vinhosAs principais uvas cultivadas na Alemanha são as brancas Riesling, Sylvaner, Gewurztraminer e Pinot Gris e a tinta Spätburgunder, que nada mais é que a nossa conhecida Pinot Noir. Seus principais vinhedos estão localizados em encostas de montanhas, à beira de famosos rios como o Reno e o Mosel, por exemplo. Essas regiões são tipicamente de clima frio, com alta oscilação de temperatura entre o dia e a noite no período de maturação das uvas, o que confere a seus vinhos grande intensidade aromática e ótima acidez.

Escolher um bom vinho alemão pode não ser tarefa fácil, pois além de seus nomes serem complicados de pronunciar, possuem uma classificação própria bem diferente do que conhecemos. Entre seus exemplares há brancos e tintos secos, mas a Alemanha é famosa por seus brancos meio secos e doces, vinhos estes muitas vezes raros e que podem chegar a preços altíssimos.

Algumas informações básicas que devemos saber para escolher os vinhos certos são sua classificação de qualidade e o tipo de vinho.

As categorias iniciais são:

-Tafelwein, que é basicamente o vinho de mesa, feito a partir de uvas de qualidade inferior e equivale a um Vin de Table na França.

-Landwein, que tem um nível de qualidade um pouco melhor, podendo ser seco (trocken) ou meio seco (halbtrocken) e equivale a um Vin de Pays na França.

sistema-classificação-vinhos-alemães-pradikat

Os vinhos de mais alta qualidade pertencem às seguintes categorias:

-Qualitätswein bestimmter Anbaugebiete ou simplesmente QbA, que são os vinhos de qualidade de determinada região e equivalem a um AOC ou um DOC.

-Qualitätswein Mit Prädikat ou QmP, que são os vinhos de qualidade com atributos especiais. Existem 6 QmPs e estes vinhos são frequentemente mais doces, mais raros e mais caros:

1) Kabinett, são feitos a partir de uvas maduras e originam vinhos mais leves e menos doces, podendo até serem trocken (secos).

2) Spätlese, são feitos a partir de uvas de colheita tardia e podem originar vinhos meio secos (habtrocken) a doces.

3) Auslese, são feitos a partir de uma seleção de uvas extra maduras e normalmente são vinhos bem doces.

4) Beerenauslese, são feitos a partir de uvas extra maduras e algumas uvas botrytizadas selecionadas manualmente. São vinhos doces, com ótimo equilíbrio entre acidez e doçura.

5) Eiswein, são feitos a partir de uvas muito maduras congeladas naturalmente com a mudança do clima. São também vinhos raros e caros, pois além da seleção especial das uvas, dependem das condições climáticas para serem produzidos.

uvas-botrytizadas-vinho-alemão-sobremesa6) Trockenbeerenauslese (TBA), são feitos a partir de uvas passificadas e botrytizadas e geram vinhos intensamente doces, longevos e excepcionais. São vinhos mais raros e normalmente muito caros.

Agora que você já entende melhor sobre os vinhos alemães e ficou animado com a vitória da Alemanha na Copa, pode se aventurar e escolher o vinho que lhe agrada mais.

Fiz, abaixo, uma Seleção Alemã de bons exemplares que temos disponíveis na internet para lhe ajudar:

Dr. Bürklin-Wolf Riesling QbA Trocken 2011

Região: Pfalz

Uva: Riesling

Tipo: Branco Seco

Teor Alcoólico: 12,5%

Notas: Excelente Riesling alemão com maravilhosa acidez. Aromático, floral, leve e com muito frescor em boca.

Harmonização: Excelente companhia para peixes, ostras, crustáceos, entradas e queijos leves.

Sugestão de Guarda: de 5 até 10 anos

Onde Comprar: Mistral (www.mistral.com.br)

Preço: R$ 108, 56

Dr. Loosen Villa Wolf Pinot Gris Qualitatswein (QbA) Trocken 2012

Região: Pfalz

Uva: Pinot Gris

Tipo: Branco Seco

Teor Alcoólico: 13%

Notas: Coloração palha claro e brilhante. No nariz, fruta cítrica madura, como kiwi, maçã, lima, limão e delicada nota de tosta. Em boca, seco e intenso, com sabores frutados, bom frescor e saboroso final.

Harmonização: Risoto de cogumelos, kani com manga, lagosta à thermidor, carpaccio de salmão defumado, salada de bacalhau, salada caesar, caponata siciliana com torradas, suflê de alho poró, queijos leves.

Estimativa de Guarda: 4 anos

Onde Comprar: Wine (www.wine.com.br)

Preço: R$56,95

Wehlener Sonnenuhr Selbach Riesling Spatlese 2008

Região: Mosel

Uva: Riesling

Tipo: Branco Doce

Teor Alcoólico: 8%

Notas: Os vinhos do famoso vinhedo Wehlener Sonnenuhr foram imortalizados por J.J. Prüm e é considerado um dos melhores terroirs para a uva Riesling. Este Selbach, de excelente relação qualidade/preço, mostra frutado intenso, com doçura e acidez marcantes, deixando o vinho leve e delicado.

Combinações: Aperitivos, frutos do mar, carne branca.

Sugestão de Guarda: Pronto para consumo.

Onde Comprar: Vinci Vinhos

Preço: R$103,23

Dr-Heger-Vitus-Spätburgunder-vinho-alemãoDr. Heger Vitus Spätburgunder QbA 2007

Região: Baden – Kaiserstuhl

Uva: 100% Spätburgunder (Pinot Noir)

Tipo: Tinto seco

Graduação Alcoólica: 13°

Notas: Rubi intenso e límpido. Cheio de charme no olfato que enuncia delicados tons florais de rosa, cerejas confitadas, especiarias, cogumelos e leve fumado. Maravilhosa textura em boca, fina, com taninos garbosos e integrado frescor. Bela persistência.

Amadurecimento: 12 meses em barricas francesas.

Estimativa de guarda: 8 anos

Harmonização: Carnes brancas, aves em geral e preparações trufadas.

Onde comprar: Decanter

Preço: R$138,89

Fritz Haag Trocken 2012

Região: Mosel

Uva: Riesling

Álcool: 8%

Tipo: Branco seco

Notas: Coloração amarelo palha. Aromas de toranja e maçã. Em boca, generoso com um final revigorante.

Potencial de guarda: de 5 a 10 anos.

Onde Comprar: Grand Cru (www.grandcru.com.br)

Preço: R$96,00

Weingut Becker Landgraf Riesling Ölberg Auslese 2011

Região: Reinhessen

Uva: Riesling

Álcool: 10%

Tipo: Branco doce

Notas: Amarelo-ouro claro com delicados reflexos esverdeados. No nariz apresenta notas de frutas em compota, mel, especiarias e toque mineral. Em boca, é potente, cheio, elegante e com final deliciosamente persistente.

Harmonização: A doçura e a acidez marcante deste vinho combinam com uma boa diversidade de pratos. Pode, inclusive, acompanhar uma refeição inteira, desde a entrada até a sobremesa! Como entrada, um suflê de caranguejo; como prato principal, magret de pato com molho de laranja; para a sobremesa, uma torta de maçã.

Onde Comprar: Wine Brands (www.winebrands.com.br)

Preço: R$ 146,00

Weingut Becker Landgraf Spätburgunder Gau-Odernheimer 2012

Região: Reinhessen

Tipo: Tinto seco

Uva: Spätburgunder (Pinot Noir)

Álcool: 13,5%

Amadurecimento: O amadurecimento ocorre em barricas de carvalho sendo 30% novas e o restante de 2º, 3º e 4º usos, por 15 meses. O vinho não é filtrado.

Notas: Delicada cor vermelho-rubi brilhante. No nariz é agradável, com forte presença de frutas do bosque complementadas por leve toque de especiarias e notas terrosas. Em boca, apresenta-se com elegância, com notas que correspondem aos aromas, boa acidez e frescor.

Harmonização: Este delicado Pinot combina com pratos de cogumelos, embutidos, desde eu não sejam demasiadamente condimentados. Experimente combiná-lo com um risoto de cogumelos frescos, barriga de porco fresca, alho e algumas ervas. Fica uma delícia.

Onde Comprar: Wine Brands (www.winebrands.com.br)

Preço: R$137,00

vinho-alemanha-anselmann-gewurztraminer-spatleseAnselmann Gewürztraminer Spatlese 2012

Região: Pfalz

Tipo: Branco doce

Uva: 100% Gewurztraminer

Álcool: 9%

Notas: A variedade de uva Gewurztraminer é tradicionalmente cultivada na Alemanha e muito valorizada por seus vinhos de aroma único. Suas cepas são de muito baixo rendimento. Este vinho de colheita tardia possui um intenso perfume que lembra os mais finos aromas de rosas e acácias. Com notas de frutas secas, mel e com ligeiras notas de cravo e baunilha. Sua maturação tardia de fruta lhe confere um grande corpo e estrutura.

Harmonização: Ideal como aperitivo e vinho de sobremesa. Ótimo acompanhamento para patês e queijos azuis.

Onde Comprar: Meu Vinho (www.meuvinho.com.br)

Preço: R$69,90

Anselmann Spatburgunder (Pinot Noir) Trocken 2011

Região: Pfalz

Tipo: Tinto seco

Uva: Spatburgunder (Pinot Noir)

Álcool: 13,5%

Notas: Possui aromas frutados, lembrando morango e cereja. Vinho rico e vigoroso.

Harmonização: Ideal para carnes vermelhas, selvagens, massas e queijos.

Onde Comprar: Meu Vinho (www.meuvinho.com.br)

Preço: R$69,90

eiswein-icewine-vinho-de-sobremesa-alemãoRiesling Eiswein 2012

Região: Pfalz – Einzellage

Produtor: Weingut Zöller

Uva: Riesling

Tipo: Branco doce, Eiswein (ou icewine)

Teor alcoólico: 8,0 % vol.

Eiswein – vinhos de intensidade Beerenauslese (doce), feito de uvas colhidas e prensadas ainda congeladas. Vinho raro, pois depende explicitamente dos fenômenos naturais para ser produzido. É estritamente necessário que as uvas fiquem pelo menos uma semana em constante temperatura de -5°C a -7°C. Os Eisweine têm doçura e intensidade de uvas passas, mas retém um traço ascendente de acidez. É um vinho sem igual.

Notas: De colocação dourado escuro, é um vinho muito elegante. Possui notas de mel, frutas amarelas maduras.

Harmonização: Ideal para ser apreciado sozinho como aperitivo ou digestivo.

Onde Comprar: Weinkeller (www.weinkeller.com.br)

Um brinde a Alemanha!

Cristina Almeida Prado.

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Place-de-la-bourse-Miroir-D'Eau-bordeaux-wine-regionA região de Bordeaux é produtora dos vinhos mais cobiçados do mundo na atualidade, com garrafas que chegam a custar mais de $1.000,00 e muitas vezes, tem quase sua totalidade vendida “en primeur”, ou seja, antes mesmo de serem colocadas no mercado.

A história dos vinhos em Bordeaux data de cerca de 2.000 anos atrás, tendo seus primeiros registros no tempo dos romanos, quando as primeiras vinhas foram plantadas na região. Mas os vinhos de Bordeaux tiveram sua fama aclamada na idade média, quando a duquesa Eleanor de Aquitânia casou-se com o rei da Inglaterra Henrique II. Essa aliança viria a abrir a região de Bordeaux para o mercado inglês, estimulando seu rápido desenvolvimento e anos mais tarde, abrindo a região para o mundo.

Bordeaux é cortada pelo rio Gironde que divide a região entre “margem esquerda”, composta por Médoc e Graves, e “margem direita”, composta por Libournais, Bourg e Blaye. Há diversas subregiões no Médoc, que incluem Maurgaux, Saint Estephe, Paulliac, Saint Julien e outras menos conhecidas como Moulis e Listrac. Graves inclui as subregiões de Pessac-Léognan e Sauternes. E a região de Libournais inclui as subregiões de Saint Émillion e Pomerol.

bordeaux-wine-regions-mapTodas estas regiões estão submetidas às regras da AOC, que estabelece as uvas permitidas para a região, teor alcoólico, métodos de poda e colheita, rendimento por planta, técnicas de vinificação, entre outras questões. Somente os produtores que seguem estas regras podem carregar em seu rótulo o título de AOC, sendo que existem mais de 50 AOCs na região de Bordeaux (exemplo: Appellation Saint Émillion Controlée).

Os vinhos de Bordeaux são cortes (mistura de mais de uma uva) e há raramente varietais (que usam um único tipo de uva), tanto para tintos quanto para brancos. As uvas permitidas para os vinhos tintos são Merlot, Carbernet Sauvignon, Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot. O uso percentual de cada varietal pode variar de produtor a produtor, mas em geral sabe-se que os vinhos da “margem esquerda” possuem um percentual maior de Cabernet Sauvignon, o que lhes confere potência e complexidade, enquanto os da “margem direita” possuem um percentual maior de Merlot, o que lhes confere características mais aveludadas.

Entender a importância da AOC e o que ela representa para a qualidade dos vinhos é de suma importância. Conhecer as características de cada região e que tipo de vinho produzem também é relevante para a escolha do Bordeaux que lhe agrade mais ao paladar. Mas, além disso, cada região possui sua classificação própria, que ranqueia os produtores conforme nível de qualidade e o que geralmente leva alguns preços para as alturas.

A mais famosa classificação é a do Médoc, conhecida como a Classificação de 1855. Originalmente promovida para selecionar os melhores vinhos do Médoc para a “Exposição Universal de Paris”, avaliou e classificou os 61 melhores produtores da região, chamados de Grand Crus Classés dentro da apelação do Médoc, e permaneceu até os dias de hoje. A mesma classificação ranqueia estes produtores em 5 Premier Crus (os aclamados Chateau Margaux, Chateau Lafite Rothschild, Chateau Latour, Chateau Mouton Rothschild e Chateau Haut-Brion), 14 Deuxiemes Crus, seguidos por 14 Troisiemes Crus, 10 Quatriemes Crus e finalmente 18 Cinquemes Crus.

A região de Graves também desenvolveu sua classificação em 1953, revisada em 1959 e que destaca 16 produtores por seus tintos e brancos excepcionais.

Chateau-Troplong-Mondot-Saint-Émillion-BordeauxJá na região de Saint Émillion, os melhores produtores são classificados em Premier Grand Cru Classé A, com somente 4 produtores, Premier Grand Cru Classé B, que engloba 14 produtores, Grand Cru Classé com 63 produtores e Cru Classé, onde entram os demais. Essa classificação se iniciou em 1950 e é revisada a cada 10 anos.

Saindo da curva, a região de Pomerol, a menor região produtora de Bordeaux, preferiu não entrar no processo de classificação de seus grandes vinhos. Conhecidos como vinhos de taninos mais macios, produzidos predominantemente com a uva Merlot, os vinhos de Pomerol levam em seus rótulos apenas Appellation Pomerol Controlée. Nomes como Chateau Pétrus e Chateau Lafleur, vinhos de altíssima qualidade e preços exorbitantes, colocam a região em evidência para o mundo.

Mas, e quando um vinho de uma região que possui classificação não entra num ranking de Cru Classé, como podemos identificá-lo? Bem, para os vinhos da “margem esquerda” que não entraram na lista dos 61 Crus Classés, mas que possuem um histórico sólido de produção de vinhos de qualidade, estes levam em seu rótulo a classificação Cru Bourgeois. Os demais vinhos para todas as outras apelações entram simplesmente como Bordeaux ou Bordeaux Supérieur e levarão em seu rótulo Appelation Bordeaux Controlée. Estes são geralmente os vinhos mais em conta e muitas vezes muito justos, como é o caso do Mouton Cadet.

saint-emillion-ville-de-bordeaux-vinPara os amantes do vinho e em especial os amantes de Bordeaux, se tiverem a oportunidade de visitar a região, um passeio pela charmosa vila de Saint Émillion é obrigatório. De lá, é possível agendar direto no Office de Tourisme visitação a alguns dos mais importantes produtores. Na cidade de Bordeaux também é possível organizar visitações para todas as regiões no Office de Tourisme. Mas se preferir ficar pela cidade mesmo, há diversos locais para degustar vinhos dos grandes Chateaux em taça, como a Maison du Vin, onde está localizada a escola do vinho, ou na Max Bordeaux e Aux 4 Coins Du Vin, que trabalham com a Enomatic que lhe permitirá degustar grandes vinhos a preços razoáveis.

Fica a dica.

Cristina Almeida Prado.

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Lavinia-loja-de-vinhos-enomaticA loja Lavinia foi fundada em 1999 por Thierry Servant e Pascal Chevrot que decidiram desenvolver uma loja de vinho com um conceito inédito no universo da distribuição vinícola, focando na descoberta de novos rótulos e na divulgação de regiões desconhecidas.

A loja impressiona e atrai inúmeros visitantes por sua extensa oferta de vinhos; são mais de 6.500 rótulos. Além disso, põe à disposição dos clientes serviços como vendedores sommeliers, estação de degustação equipada com máquinas Enomatic que nos permitem provar vinhos antes de comprá-los, cursos de iniciação ao vinho, atendimento personalizado a empresas, restaurante, etc.

Existem seis lojas na Espanha (quatro delas em Madri), duas em Paris, duas na Ucrânia e uma na Suíça. Passando pela loja de Paris, no Boulevard de la Madelaine, me surpreendi ao ver na vitrine com um belo destaque o vinho brasileiro “FACES” da vinícola Lídio Carraro, lançado no Brasil como o vinho licenciado oficial da Copa do Mundo 2014.

lavinia-loja-de-vinhos-wine-by-the-glassEm uma das lojas de Madri, fui muito bem atendida pela simpática Antônia que me assessorou na compra de vinho. Aí, aproveitei para adquirir um club card e degustar alguns vinhos disponibilizados na Enomatic.

Provei dois vinhos:

  1. “Châteauneuf-du-Pape”, Domaine de la Vieille Julienne, safra 2009, Vale do Rhône. Um vinho com aromas de chocolate e baunilha, em boca é seco, com corpo médio/alto, taninos potentes, boa persistência ao final, agradável e elegante. Valor da garrafa na loja: 54.90 euros. Valor da dose: 3,10 euros
  2. “Contador”, produtor Benjamín Romeo, safra 2011, La Rioja, 100% Tempranillo. Vinho seco, potente, encorpado, com taninos agressivos, um vinho gastronômico que deve ser guardado por mais alguns anos. Valor da garrafa na loja: 249 euros. Valor da dose: 14 euros.

Essa é uma interessante oportunidade para os amantes do vinho que estiverem de passagem por uma das cidades onde a Lavinia tem loja para aproveitar e provar vinhos mais especiais “by the glass” a preços acessíveis. Além, claro, de encontrar excelentes rótulos com um serviço diferenciado. Fica aqui a nossa dica.

www.lavinia.com

Maria Uzêda

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